terça-feira, julho 31, 2007

Michelangelo Antonioni (1912-2007)

Em menos de vinte e quatro horas, a morte ceifou duas lendas vivas do cinema. Ontem Ingmar Bergman, hoje Michelangelo Antonioni. A vida tem destas coisas. Esquecemo-nos de que afinal de contas é insondável.
Travei conhecimento com a obra de Antonioni pela televisão, quando o cinema era presença assídua nos ecrãs da RTP2. Nas salas escuras da sétima arte, vi apenas a reposição de Profissão Repórter, o Blow Up e o Para Além das Nuvens (bem, este foi feito a meias com o Wim Wenders, não sei se Antonioni o considerava seu).
Do que então vi, ficaram-me marcas profundas. A força das paisagens, da natureza agreste de A Aventura aos espaços industriais de Deserto Vermelho. E esses homens e mulheres à deriva nesses grandes espaços. A subjectividade desses homens e mulheres a impregnar profundamente a paisagem.
Como Bergman, também Antonioni era um cineasta de mulheres:

Amo em primeiro lugar e sobretudo a mulher. Talvez porque a compreenda melhor. Cresci entre mulheres e no meio delas. Acusam-me de olhar tudo à distância. É a minha maneira de contar e não o faço deliberadamente.

Dentro de nós, as coisas aparecem como pontos de luz no fundo de nevoeiro e sombra. A nossa realidade concreta possui uma qualidade abstracta fantasmagórica.