terça-feira, julho 17, 2007

Servidão Voluntária

Está na nossa natureza o deixarmos que os deveres da amizade
ocupem boa parte da nossa vida. É justo amarmos a virtude,
estimarmos as boas ações, ficarmos gratos aos que fazem o bem,
renunciarmos a certas comodidades para melhor honrarmos e
favorecermos aqueles a quem amamos e que o merecem. Assim
também, quando os habitantes de um país encontram uma
personagem notável que dê provas de ter sido previdente a governá-los,
arrojado a defendê-los e cuidadoso a guiá-los, passam a
obedecer-lhe em tudo e a conceder-lhe certas prerrogativas; é uma
prática reprovável, porque vão acabar por afastá-lo da prática do bem
e empurrá-lo para o mal. Mas em tais casos julga-se que poderá vir
sempre bem e nunca mal de quem um dia nos fez bem.

Etiénne de la Boétie (1530-1563). Discurso sobre a servidão Voluntária
P.S. tradução em português do Brasil; o texto em Francês pode ser consultado aqui.