Turquia. A vitória dos islamistas
As eleições turcas confirmaram a hegemonia dos islamistas do Partido da Justiça e do Desenvolvimento. As gentes da província, assalariados de toda a sorte, pequenos comerciantes, empresários recém-chegados, enfim, franjas importantes da classe média urbanizada constituem a base eleitoral deste partido de massas, que acima de tudo parece dar resposta aos anseios da maioria dos turcos. Tem sido pragmático na governação, embora no plano simbólico não se tenha coibido de afrontar alguns dogmas do secularismo turco. Assim, a questão do véu emergiu no espaço público, porque eminentemente política; e desafiou os militares ao propor um islamista de velha cepa para a presidência da república secularista.
Derrotados em toda a linha foram os kemalistas do Partido Republicano do Povo, que vêem a sua votação baixar. As velhas elites laicas, que tradicionalmente governavam o país, estão em processo de erosão.
De notar a subida da extrema-direita, contrária à entrada da Turquia na União Europeia, e a presença de uma formação curda (à base de candidatos independentes) no futuro parlamento. Os curdos tiveram uma boa votação e poderão constituir um aliado precioso do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (precisa de dois terços dos deputados para eleger o presidente e lavar a cabo as reformas na constituição). É interessante verificar que, no que respeita à questão curda, a intransigência está a mais das vezes do lado dos laicos, manifestando os islamistas nos últimos tempos alguma maleabilidade e até moderação.
Interessante também verificar que os secularistas desconfiam cada vez mais da Europa, enquanto as gentes do Partido da Justiça e do Desenvolvimento a vêem como o melhor antídoto contra o poder dos militares que tutelam a democracia turca, enquanto fiéis depositários da constituição legada por Kemal Atatürk.
Nas ainda raras eleições livres e democráticas que vão acontecendo pelo mundo islâmico (não obstante o carácter redutor que tal designação encerra), os islamistas, nas suas diversas matizes, têm logrado obter formidáveis vitórias. Vamos ter de nos habituar a conviver com essa realidade. Porque, parafraseando Clarice Lispector, “o que tem de ser tem muita força”.
De notar a subida da extrema-direita, contrária à entrada da Turquia na União Europeia, e a presença de uma formação curda (à base de candidatos independentes) no futuro parlamento. Os curdos tiveram uma boa votação e poderão constituir um aliado precioso do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (precisa de dois terços dos deputados para eleger o presidente e lavar a cabo as reformas na constituição). É interessante verificar que, no que respeita à questão curda, a intransigência está a mais das vezes do lado dos laicos, manifestando os islamistas nos últimos tempos alguma maleabilidade e até moderação.
Interessante também verificar que os secularistas desconfiam cada vez mais da Europa, enquanto as gentes do Partido da Justiça e do Desenvolvimento a vêem como o melhor antídoto contra o poder dos militares que tutelam a democracia turca, enquanto fiéis depositários da constituição legada por Kemal Atatürk.
Nas ainda raras eleições livres e democráticas que vão acontecendo pelo mundo islâmico (não obstante o carácter redutor que tal designação encerra), os islamistas, nas suas diversas matizes, têm logrado obter formidáveis vitórias. Vamos ter de nos habituar a conviver com essa realidade. Porque, parafraseando Clarice Lispector, “o que tem de ser tem muita força”.