Zita Seabra
Ontem, ainda apanhei parte da entrevista de Zita Seabra à RTP.
O percurso de Zita Seabra é o mais interessante de entre todos aqueles militantes comunistas (refiro-me evidentemente aos mais conhecidos) que entraram em processo de ruptura com o partido. Não por causa da adesão ao PSD, que embora importante não ofusca tudo o resto, mas porque nela se pressente que esse abandono das convicções comunistas, ou melhor dizendo, da fé, não feito sem dor; e que foi feito em solidão ou em exílio interior. Imagino que é precisa aquela dose de coragem que nos obriga a confrontar o nosso passado, os anos da juventude ferozmente postos ao serviço de uma causa (Zita aderiu cedo ao comunismo e não tinha ainda feito os dezoito anos, quando entrou na clandestinidade), os momentos de felicidade que então experimentámos. É parte de nós que é posta em causa. Romper com a ideologia e a sua praxis, depois de mais vinte anos de intensa militância, de uma vida quase circunscrita ao círculo de amizades e de relações de trabalho comunistas, não deve ter sido uma decisão fácil.
Na entrevista de ontem, sinceridade e frontalidade foram qualidades que Zita evidenciou (pena que a Judite Sousa não as tenha sabido explorar). Mas sentimos também que nela tudo é feito de simplismo, da permanência ou adesão a um corpo primário de certezas. Só que hoje esse corpo é o negativo da ideologia comunista então professada.
Penso que o livro de memórias, agora lançado, vai ter impacto, ao contrário por exemplo do de Raimundo Narciso, que não agitou as águas do comunismo nacional. Porque Zita Seabra foi em tempos a encarnação do ideal de militância comunista. Porque Zita Seabra não recalcou o passado.
O percurso de Zita Seabra é o mais interessante de entre todos aqueles militantes comunistas (refiro-me evidentemente aos mais conhecidos) que entraram em processo de ruptura com o partido. Não por causa da adesão ao PSD, que embora importante não ofusca tudo o resto, mas porque nela se pressente que esse abandono das convicções comunistas, ou melhor dizendo, da fé, não feito sem dor; e que foi feito em solidão ou em exílio interior. Imagino que é precisa aquela dose de coragem que nos obriga a confrontar o nosso passado, os anos da juventude ferozmente postos ao serviço de uma causa (Zita aderiu cedo ao comunismo e não tinha ainda feito os dezoito anos, quando entrou na clandestinidade), os momentos de felicidade que então experimentámos. É parte de nós que é posta em causa. Romper com a ideologia e a sua praxis, depois de mais vinte anos de intensa militância, de uma vida quase circunscrita ao círculo de amizades e de relações de trabalho comunistas, não deve ter sido uma decisão fácil.
Na entrevista de ontem, sinceridade e frontalidade foram qualidades que Zita evidenciou (pena que a Judite Sousa não as tenha sabido explorar). Mas sentimos também que nela tudo é feito de simplismo, da permanência ou adesão a um corpo primário de certezas. Só que hoje esse corpo é o negativo da ideologia comunista então professada.
Penso que o livro de memórias, agora lançado, vai ter impacto, ao contrário por exemplo do de Raimundo Narciso, que não agitou as águas do comunismo nacional. Porque Zita Seabra foi em tempos a encarnação do ideal de militância comunista. Porque Zita Seabra não recalcou o passado.