Rui Ramos, o Iraque e o Vietname
Num artigo no Público de ontem, o historiador Rui Ramos escrevia sobre a impossibilidade de retirarmos lições da História. Ou não: podemos dela retirar as lições que mais nos aprouverem e, nesse sentido, a História ajudaria toda a gente e não ajudaria ninguém; foram estas as palavras do cronista.
O artigo versava sobre o Iraque, mas não esquecia o Vietname, paralelismo que anda na boca do mundo, quer dos apologistas, quer dos detractores da empresa americana em terras da antiga Mesopotâmia. Uns invocam-no, como o presidente G.W. Bush, para alertar para o desastre que poderia advir da retirada do exército americano, aludindo à provável irrupção de uma guerra fratricida ou de um banho de sangue. Outros falam do impasse em que cada vez mais se encontra a intervenção militar, lembrando “o atoleiro vietnamita”, que ceifou perto de cinquenta mil vidas (refiro-me aos soldados americanos que pereceram naquele país do Extremo Oriente).
Para o actual inquilino da Casa Branca, não há margem de recuo, ele tem de persistir na tese da necessidade da presença militar americana no Iraque, pois fez dela o núcleo do seu discurso político, esta empresa era central à guerra ao terrorismo. Mas o problema da retirada será uma questão incontornável para próximo presidente dos Estados Unidos, provenha ele do campo democrático ou do campo republicano.
Rui Ramos ainda acredita nas virtudes desta intervenção militar e gostaria que fosse dado mais tempo (Cinco anos? Dez?) ao General David Petraeus, como este pediu ao Congresso. Isto faz-me regressar ao Vietname. À época, o então General Westmoreland também pediu mais tempo, invocando os progressos no terreno e a crescente competência do exército sul vietnamita. E viu os seus esforços recompensados, por Washington, com mais oito anos de guerra. O desenlace foi o que todos sabemos, ou deveríamos saber: uma humilhante retirada.
Mas Rui Ramos relativiza as lições que podemos retirar da História. Além disso, faz eco da tese de que, no Vietname, os militares americanos estavam à beira da vitória, e que foram timoratos políticos a deitar por terra esse esforço. Bem, eu duvido que tal tese tenha expressão entre os historiadores…A não ser uma expressão similar à das teorias que negam o fenómeno do aquecimento global. Parece-me mais própria do cinema, daquelas estórias de rambos a que Sylvester Stallone deu corpo nos idos anos oitenta.
Em suma, subjaz a ideia de que só o reforço das tropas americanas poderá conduzir à pacificação do Iraque. Mesmo que isso signifique mais uns anos de guerra. O historiador Rui Ramos recusa ver os americanos como parte do problema, e não da solução. Crê que sem a presença destes, os iraquianos se entregarão a pelejas sem fim, talvez mesmo até à extinção. Nesta visão das coisas, é por certa alienígena a hipótese de uma redução dos níveis de violência com a saída dos americanos, deveras inconcebível.
Poderíamos ver nisto resquícios de uma visão colonial. Mas eu não vou por aí. Penso que é apenas uma questão de afinidades electivas.
O artigo versava sobre o Iraque, mas não esquecia o Vietname, paralelismo que anda na boca do mundo, quer dos apologistas, quer dos detractores da empresa americana em terras da antiga Mesopotâmia. Uns invocam-no, como o presidente G.W. Bush, para alertar para o desastre que poderia advir da retirada do exército americano, aludindo à provável irrupção de uma guerra fratricida ou de um banho de sangue. Outros falam do impasse em que cada vez mais se encontra a intervenção militar, lembrando “o atoleiro vietnamita”, que ceifou perto de cinquenta mil vidas (refiro-me aos soldados americanos que pereceram naquele país do Extremo Oriente).
Para o actual inquilino da Casa Branca, não há margem de recuo, ele tem de persistir na tese da necessidade da presença militar americana no Iraque, pois fez dela o núcleo do seu discurso político, esta empresa era central à guerra ao terrorismo. Mas o problema da retirada será uma questão incontornável para próximo presidente dos Estados Unidos, provenha ele do campo democrático ou do campo republicano.
Rui Ramos ainda acredita nas virtudes desta intervenção militar e gostaria que fosse dado mais tempo (Cinco anos? Dez?) ao General David Petraeus, como este pediu ao Congresso. Isto faz-me regressar ao Vietname. À época, o então General Westmoreland também pediu mais tempo, invocando os progressos no terreno e a crescente competência do exército sul vietnamita. E viu os seus esforços recompensados, por Washington, com mais oito anos de guerra. O desenlace foi o que todos sabemos, ou deveríamos saber: uma humilhante retirada.
Mas Rui Ramos relativiza as lições que podemos retirar da História. Além disso, faz eco da tese de que, no Vietname, os militares americanos estavam à beira da vitória, e que foram timoratos políticos a deitar por terra esse esforço. Bem, eu duvido que tal tese tenha expressão entre os historiadores…A não ser uma expressão similar à das teorias que negam o fenómeno do aquecimento global. Parece-me mais própria do cinema, daquelas estórias de rambos a que Sylvester Stallone deu corpo nos idos anos oitenta.
Em suma, subjaz a ideia de que só o reforço das tropas americanas poderá conduzir à pacificação do Iraque. Mesmo que isso signifique mais uns anos de guerra. O historiador Rui Ramos recusa ver os americanos como parte do problema, e não da solução. Crê que sem a presença destes, os iraquianos se entregarão a pelejas sem fim, talvez mesmo até à extinção. Nesta visão das coisas, é por certa alienígena a hipótese de uma redução dos níveis de violência com a saída dos americanos, deveras inconcebível.
Poderíamos ver nisto resquícios de uma visão colonial. Mas eu não vou por aí. Penso que é apenas uma questão de afinidades electivas.