O Desejo é o Estado Supremo do Capitalismo
José Manuel Fernandes escreve, no Público de hoje, um interessante artigo sobre os bónus dos gestores da AIG e o capitalismo coevo.
Nem mesmo o Fernandes é capaz de defender a justiça de tais bónus auferidos pelos certamente iluminados gestores da seguradora norte-americana, salva da falência pelos contribuintes americanos, muitos dos quais, como é do conhecimento geral, não têm sequer seguro de saúde. Nem esse direito tão fundamental lhes é fornecido pelo estado americano, através da instituição de um sistema de saúde de vocação universal.
Regressando ao capitalismo, José Manuel Fernandes vem lembrar os (outrora) fundamentos morais deste sistema social, citando Burke e a tradição do "pensamento anglo-saxónico”. Opondo, como não poderia deixar de ser, o (benévolo) iluminismo escocês ao (pernicioso) iluminismo francês.
Depreende-se, pois, que a solução para os males da crise resida nesse regresso às origens. Nesse regresso à ética protestante que enformava o capitalismo do norte da Europa e que floresceu na América, em que os ganhos eram sabiamente diferidos.
Ora, lamento dizê-lo que tal não passa de um ilusão. Não é possível resgatar o passado. A chamada ética protestante do capitalismo faz parte de outro tempo histórico. Crer no seu regresso, de modo a “pôr na ordem” os nossos capitalistas, é como pretender impor o sistema de valores de um mundo rural a uma sociedade industrial em franca expansão, algo que Émile Durkheim compreendeu não ser possível.
Hoje o tempo é outro. O tempo das sociedades pós-industriais é moldado pelo consumo presente. Mais do que cidadãos, somos acima de tudo consumidores (talvez crianças grandes). E enquanto consumidores o que conta é o princípio do desejo.
Vivemos as nossas vidas sob o primado do desejo, processo que remonta talvez aos anos sessenta do século passado. Cada vez mais vivemos assim, e o velho mundo da ética protestante ruiu perante a força do hedonismo.
São os próprios economistas que nos dizem que quem comanda a economia (logo, a vida) é a procura. E a procura é esse consumo presente feito de um desejo sem freios. É o que faz o prodigioso crescimento tão incensado pelos economistas. Um crescimento que eles tratam de expurgar devidamente dos custos ambientais.
Enfim, razão ao Arcebispo da Cantuária, que num artigo no jornal Guardian dizia que tínhamos inventado um sistema para satisfazer os desejos das pessoas, sem olhar às consequências (Cito de cor). Mas as consequências estão aí, Porque desejo não raro rima com morte.
Nem mesmo o Fernandes é capaz de defender a justiça de tais bónus auferidos pelos certamente iluminados gestores da seguradora norte-americana, salva da falência pelos contribuintes americanos, muitos dos quais, como é do conhecimento geral, não têm sequer seguro de saúde. Nem esse direito tão fundamental lhes é fornecido pelo estado americano, através da instituição de um sistema de saúde de vocação universal.
Regressando ao capitalismo, José Manuel Fernandes vem lembrar os (outrora) fundamentos morais deste sistema social, citando Burke e a tradição do "pensamento anglo-saxónico”. Opondo, como não poderia deixar de ser, o (benévolo) iluminismo escocês ao (pernicioso) iluminismo francês.
Depreende-se, pois, que a solução para os males da crise resida nesse regresso às origens. Nesse regresso à ética protestante que enformava o capitalismo do norte da Europa e que floresceu na América, em que os ganhos eram sabiamente diferidos.
Ora, lamento dizê-lo que tal não passa de um ilusão. Não é possível resgatar o passado. A chamada ética protestante do capitalismo faz parte de outro tempo histórico. Crer no seu regresso, de modo a “pôr na ordem” os nossos capitalistas, é como pretender impor o sistema de valores de um mundo rural a uma sociedade industrial em franca expansão, algo que Émile Durkheim compreendeu não ser possível.
Hoje o tempo é outro. O tempo das sociedades pós-industriais é moldado pelo consumo presente. Mais do que cidadãos, somos acima de tudo consumidores (talvez crianças grandes). E enquanto consumidores o que conta é o princípio do desejo.
Vivemos as nossas vidas sob o primado do desejo, processo que remonta talvez aos anos sessenta do século passado. Cada vez mais vivemos assim, e o velho mundo da ética protestante ruiu perante a força do hedonismo.
São os próprios economistas que nos dizem que quem comanda a economia (logo, a vida) é a procura. E a procura é esse consumo presente feito de um desejo sem freios. É o que faz o prodigioso crescimento tão incensado pelos economistas. Um crescimento que eles tratam de expurgar devidamente dos custos ambientais.
Enfim, razão ao Arcebispo da Cantuária, que num artigo no jornal Guardian dizia que tínhamos inventado um sistema para satisfazer os desejos das pessoas, sem olhar às consequências (Cito de cor). Mas as consequências estão aí, Porque desejo não raro rima com morte.