sexta-feira, março 06, 2009

O Complexo de Baader-Meinhof


Ainda fui a tempo de ver O Complexo de Baader-Meinhof, do cineasta germânico Uli Edel
Confesso que esperava um filme mais centrado nas figuras que deram nome ao movimento de guerrilha urbana que aterrorizou a então República Federal Alemã, nos idos anos setenta. Esperava, em particular, que a enigmática Ulrike Meinhof ocupasse o centro da narrativa. Que mais tempo fosse destinado ao processo que a levou a passar do jornalismo para a luta armada.
O realizador preferiu uma abordagem mais genérica, centrada no modus operandi e na evolução do grupo, do que a aventurar-se pelos caminhos do psiquismo. Assim, as personagens estão apenas esboçadas, caso de Andreas Baader, ou não escapam a alguma inconsistência, como me parece evidente em Ulrike. A excepção é talvez Gudrun Ensslin, companheira de Andreas Baader e figura cimeira do movimento (de um movimento em que as mulheres estavam em maioria), cuja personagem tem espessura.
O filme é honesto, pois não hesita em mostrar-nos o contexto que fez esses jovens estudantes e a jornalista Ulrike Meinhof desembocarem na violência, enquanto saída para aquilo que viam como o impasse político da sociedade alemã do seu tempo. Depois, a violência policial que o realizador não nos escamoteia, nomeadamente, o assassínio de um estudante, quando das manifestações de repúdio pela visita do Xá Reza Pahlevi, o despótico monarca iraniano. Enfim, havia um sentimento de profunda injustiça. Por causa da guerra do Vietname, das cumplicidades dos governos das democracias ocidentais com regimes inimigos da liberdade. E acima de tudo, a cultura do esquecimento em relação ao passado recente da Alemanha, o nazismo e a Segunda Grande Guerra.
O peso insuportável da injustiça e a marca do idealismo fizeram muitos jovens passar para o outro lado. O lado da violência sem retorno.
O Complexo de Baader-Meinhof termina com o auto-sacrifício dos líderes, então já presos, enquanto lá fora a segunda geração, mais brutal mas ideologicamente menos consistente, se entregava a uma espiral de assassinatos.
Questão que ecoa neste filme é a de como combater o capitalismo, um sistema iníquo que desumaniza o homem ao transformá-lo em peça de uma engrenagem que visa somente o lucro (nisso os membros do Baader-Meinhof tinham razão), sem cair noutras formas de opressão (e muitas vezes piores) ou na violência pela violência.