quinta-feira, novembro 05, 2009

Doclisboa - Irão II


Green Days é um filme que anda entre dois tempos. O tempo da esperança e o tempo da desilusão. A Câmara de Hana Makhmalbaf remete-nos ora para um ora para outro.
O tempo da esperança é feito de imagens da campanha eleitoral para as presidenciais iranianas . Makhmalbaf filma os rostos jovens que exprimem essa esperança. Que exprimem um desejo de mudança e de liberdade.
O tempo da desilusão é o tempo das imagens captadas por anónimos. Imagens que nos mostram a repressão sobre os manifestantes que nas ruas protestam contra a fraude eleitoral que sonegou a vitória de Mir-Hossein Mousavi. Protestam contra a ditadura de Mahmoud Ahmadinejad, o presidente da República Islâmica do Irão.
No meio destas imagens documentais que exprimem dois tempos, Makhmalbaf introduz uma personagem de ficção: a dramaturga Ava. Ava vagueia entre os dois tempos. Observa a fé dos apoiantes de Mousavi que deram corpo à chamada revolução verde, receando pela decepção que se segue à esperança. Porque ela recorda-se de Khatami, o presidente reformista que não foi capaz de fazer chegar a bom porto esse projecto de mudança social e política. É uma personagem que exprime o sentimento de desesperança de todo uma geração que tem um desejo de liberdade. De poder respirar. O teatro encerrado é o símbolo da repressão que se abate sobre essa geração.

Green Days é um filme corajoso de uma cineasta engagée. Hana Makhmalbaf, que provém de uma família de cineastas, faz da câmara de cinema uma arma política. No bom sentido.