Equívocos do Euro e da Nossa Europa
Este artigo de João Rodrigues, um economista contra a corrente do pensamento único, põe o dedo na ferida: o euro foi uma construção pensada para um mundo sem crises. Um mundo sem o acontecimento feito de imprevisibilidade que é parte indissociável da realidade. Da nossa e de todas as outras.
Perante o deflagrar da crise, vieram à tona as debilidades deste modelo de engenharia económico-financeira: sem mecanismos de solidariedade (não previstos no tratado), sem política orçamental comum e com estados privados das velhas políticas monetárias, a nossa Europa ficou refém dos mercados.
Sobram as recriminações dos mais fortes sobre as periferias pobres, vulgo, Grécia, Portugal e Espanha. Dizem os ricos (vide declarações de Angela Merkel) que o problema do euro radica nas disparidades ou assimetrias económicas existentes entre os países da moeda única. E que urge harmonizar tais disparidades. Ora aqui está outro equívoco da nossa construção europeia. Ou seja, o de pensar que as diferenças e desigualdades que radicam fundo na História podem ser apagadas por decreto; por recurso a engenharias económico-financeiras feitas a partir de cima.
E que resta às periferias, perante o quadro de austeridade que lhes é imposto pelos mais ricos? João Rodrigues lembra o caso argentino:
Na ausência de reformas de fundo na arquitectura do governo económico europeu, que passariam por um orçamento comunitário com muito mais peso e por um BCE disposto a apoiar os Estados da mesma forma que apoiou os bancos, só restará às periferias uma hipótese: reestruturar as dívidas e impor parte do custo do ajustamento sobre os credores, abandonar o euro e desvalorizar as respectivas moedas e iniciar um processo de reformas que passe pela inevitável nacionalização do sistema financeiro ou pela criação de uma verdadeira política industrial.
Já não é a primeira vez que países fazem isto com sucesso: a Argentina cresceu rapidamente nos anos subsequentes ao rompimento, em 2001, com a ortodoxia económica.
Perante o deflagrar da crise, vieram à tona as debilidades deste modelo de engenharia económico-financeira: sem mecanismos de solidariedade (não previstos no tratado), sem política orçamental comum e com estados privados das velhas políticas monetárias, a nossa Europa ficou refém dos mercados.
Sobram as recriminações dos mais fortes sobre as periferias pobres, vulgo, Grécia, Portugal e Espanha. Dizem os ricos (vide declarações de Angela Merkel) que o problema do euro radica nas disparidades ou assimetrias económicas existentes entre os países da moeda única. E que urge harmonizar tais disparidades. Ora aqui está outro equívoco da nossa construção europeia. Ou seja, o de pensar que as diferenças e desigualdades que radicam fundo na História podem ser apagadas por decreto; por recurso a engenharias económico-financeiras feitas a partir de cima.
E que resta às periferias, perante o quadro de austeridade que lhes é imposto pelos mais ricos? João Rodrigues lembra o caso argentino:
Na ausência de reformas de fundo na arquitectura do governo económico europeu, que passariam por um orçamento comunitário com muito mais peso e por um BCE disposto a apoiar os Estados da mesma forma que apoiou os bancos, só restará às periferias uma hipótese: reestruturar as dívidas e impor parte do custo do ajustamento sobre os credores, abandonar o euro e desvalorizar as respectivas moedas e iniciar um processo de reformas que passe pela inevitável nacionalização do sistema financeiro ou pela criação de uma verdadeira política industrial.
Já não é a primeira vez que países fazem isto com sucesso: a Argentina cresceu rapidamente nos anos subsequentes ao rompimento, em 2001, com a ortodoxia económica.