Angola é nossa!
Me espanto, quando vejo colunistas, de curta ou longa data, criticarem Angola como se esta fosse assim a modos que uma triste excepção, num presente radioso. Como se não vivêssemos num mundo em que as desigualdades são cada vez mais a lei.
Há nisso um subtexto que remonta aos tempos da Descolonização e da Guerra Fria, em que, contra todas as previsões, o MPLA prevaleceu e José Eduardo dos Santos, um estadista discreto, mas hábil, soube preservar a integridade territorial.
Angola desfruta hoje de estabilidade política e de crescimento e económico invejáveis, para os padrões da África Austral. Não obstante as profundas, e moralmente inaceitáveis, desigualdades sociais, o país lá vai trilhando o seu caminho, vive-se melhor, há progresso, não querer ver isso é prova de sectarismo. Por exemplo, o saldo migratório de Angola é hoje positivo, se isso não é prova de progresso...
De pouco importa que haja partidos políticos e até uma imprensa ferozmente crítica do governo, e que por isso seja demagógico dizer que o país é uma autocracia. Não que seja uma democracia, tão-só que a realidade não é a preto e branco, a não ser para os cruzados que por aí pululam (só falta organizar a expedição, para libertar o martirizado povo angolano da oligarquia de todos os Santos).
Enfim, algo de negativo acontece em Angola, e lá vêm eles exigindo do governo português uma posição firme; e dos empresários transparência. E será Angola caso único, em matéria de desigualdade, corrupção e arbítrio?
Sempre que se fala de Angola, logo aparece um coro de indignação fácil e, em cada português, há um juiz impoluto. Eu não em lembro do mesmo coro de indignação, quando o jornalista moçambicano Carlos Cardoso foi barbaramente assassinado. Ninguém falou, à época, em cleptocracia, mas quando se trata de Angola esta palavra anda na boca do mundo. Dois pesos duas medidas, em matéria de indignação.