O Debate Sócrates/Louçã e os comentaristas
Deixo Cracóvia para um outro tempo. Por agora, o tempo é de impressões sobre a escolha (cirúrgica) dos comentadores pelos principais órgãos de informação, com destaque para as televisões, sempre tão pródigas em nos fornecerem as narrativas dos debates da política. O debate entre Sócrates e Louçã não podia, pois, fugir à regra.
Os putativos comentadores, investidos de poder simbólico pelos principiais media, logo decretam vencedores e vencidos, num despudorado exercício de desonestidade. Neste país que é o nosso, muita gente (inclusive jornalistas, não obstante as lágrimas de crocodilo) respirou de alívio com fim do jornal de Manuela Moura Guedes, essa mancha na aura de imparcialidade que é imagem cultivada pelo jornalismo doméstico. Mas muito poucos se indignam com as agendas ocultas sob o manto de imparcialidade do nosso jornalismo.
Olhemos, por exemplo, os comentadores escolhidos pela SICNotícias para analisar o debate entre os candidatos do partido socialista e do bloco de esquerda: uma senhora politóloga do ISCP, o jornalista Nicolau Santos, do Expresso, e o empresário, e figura do Eixo do Mal, Pedro Marques Lopes.
Como era de esperar, todos alinharam pelo mesmo diapasão. Ou seja, Sócrates, vencedor incontestado do debate, pôs a nu as coisas sinistras ocultas no programa do BE, em particular essa bandeira da esquerda radical, a da abolição dos benefícios fiscais, capaz mesmo de relegar as nacionalizações para plano modesto.
Os ilustres comentaristas julgaram ver na estória da abolição dos benefícios fiscais o calcanhar de Aquiles de Francisco Louçã. Esqueceram outros que estão bem longe da chamada esquerda radical, e que também vêm denunciando a iniquidade de tais benefícios que só aproveitam a um grupo restrito da população: os que melhor conhecem as vantagens do nosso intricado sistema fiscal; ou que podem remunerar os préstimos de um especialista. Isto é claro no caso dos PPR ou de outros produtos similares. (vide Vital Moreira, Saldanha Sanches e, pasme-se, Bagão Felix). E ignoraram que Louçã, referindo-se às deduções fiscais para as despesas de saúde e educação, disse que “o que pode ser fornecido gratuitamente não precisa de ser deduzido “. Se é certo que grande parte da classe média compensa as despesas com a saúde e a edução através do regime das deduções, importa também não esquecer que quem mais deduz é quem mais gasta. E quem mais gasta é, em regra, quem tem rendimentos mais altos. Logo, há aqui uma natureza regressiva em tais benefícios. Seria socialmente mais justo o estado fornecer estes serviços (Saúde e Educação) a toda população através de um sistema que tenda para uma maior gratuitidade.
Exalta-se o (mau) ilusionismo de um primeiro-ministro que, no debate com Francisco Louçã, abdicou de defender as suas medidas para se limitar tão-só a brandir propostas soltas (melhor dizendo, apenas uma!) do programa do Bloco de Esquerda. É um sinal da importância hoje assumida pelo BE, que deixou de ser visto como um partido simpático. E que daqui para a frente será cada vez mais o alvo privilegiado dos comentadores do bloco central.
P.S. As primeiras páginas do Diário de Notícias de ontem e hoje, tomando como alvo o BE e a questão dos benefícios fiscais, são bem a ilustração do que acabo de dizer. Mas de há muito que este jornal está transformado numa espécie de órgão oficioso do governo.
Os putativos comentadores, investidos de poder simbólico pelos principiais media, logo decretam vencedores e vencidos, num despudorado exercício de desonestidade. Neste país que é o nosso, muita gente (inclusive jornalistas, não obstante as lágrimas de crocodilo) respirou de alívio com fim do jornal de Manuela Moura Guedes, essa mancha na aura de imparcialidade que é imagem cultivada pelo jornalismo doméstico. Mas muito poucos se indignam com as agendas ocultas sob o manto de imparcialidade do nosso jornalismo.
Olhemos, por exemplo, os comentadores escolhidos pela SICNotícias para analisar o debate entre os candidatos do partido socialista e do bloco de esquerda: uma senhora politóloga do ISCP, o jornalista Nicolau Santos, do Expresso, e o empresário, e figura do Eixo do Mal, Pedro Marques Lopes.
Como era de esperar, todos alinharam pelo mesmo diapasão. Ou seja, Sócrates, vencedor incontestado do debate, pôs a nu as coisas sinistras ocultas no programa do BE, em particular essa bandeira da esquerda radical, a da abolição dos benefícios fiscais, capaz mesmo de relegar as nacionalizações para plano modesto.
Os ilustres comentaristas julgaram ver na estória da abolição dos benefícios fiscais o calcanhar de Aquiles de Francisco Louçã. Esqueceram outros que estão bem longe da chamada esquerda radical, e que também vêm denunciando a iniquidade de tais benefícios que só aproveitam a um grupo restrito da população: os que melhor conhecem as vantagens do nosso intricado sistema fiscal; ou que podem remunerar os préstimos de um especialista. Isto é claro no caso dos PPR ou de outros produtos similares. (vide Vital Moreira, Saldanha Sanches e, pasme-se, Bagão Felix). E ignoraram que Louçã, referindo-se às deduções fiscais para as despesas de saúde e educação, disse que “o que pode ser fornecido gratuitamente não precisa de ser deduzido “. Se é certo que grande parte da classe média compensa as despesas com a saúde e a edução através do regime das deduções, importa também não esquecer que quem mais deduz é quem mais gasta. E quem mais gasta é, em regra, quem tem rendimentos mais altos. Logo, há aqui uma natureza regressiva em tais benefícios. Seria socialmente mais justo o estado fornecer estes serviços (Saúde e Educação) a toda população através de um sistema que tenda para uma maior gratuitidade.
Exalta-se o (mau) ilusionismo de um primeiro-ministro que, no debate com Francisco Louçã, abdicou de defender as suas medidas para se limitar tão-só a brandir propostas soltas (melhor dizendo, apenas uma!) do programa do Bloco de Esquerda. É um sinal da importância hoje assumida pelo BE, que deixou de ser visto como um partido simpático. E que daqui para a frente será cada vez mais o alvo privilegiado dos comentadores do bloco central.
P.S. As primeiras páginas do Diário de Notícias de ontem e hoje, tomando como alvo o BE e a questão dos benefícios fiscais, são bem a ilustração do que acabo de dizer. Mas de há muito que este jornal está transformado numa espécie de órgão oficioso do governo.