quarta-feira, outubro 27, 2004

Diz que disse

A verdade tem três lados. O de cada um dos intervenientes e o que de facto se passou. Este nunca conheceremos.
Marcelo Rebelo de Sousa diz que Miguel Paes do Amaral lhe disse que «a televisão depende de uma licença pública para existir e, depois, depende de várias circunstâncias económicas e financeiras para viver", o que não pode deixar de ter "consequências na liberdade de informação e opinião"». Disse ainda que o administrador da TVI disse que por isso seria melhor que "repensasse a orientação geral das suas intervenções".
A partir da verdade de Rebelo de Sousa se vê que este achou estar a ser limitado na sua capacidade de escolher os temas e na maneira de apresentá-los. Sob este pretexto ajudou a criar a imagem de mártir da liberdade de expressão, pelo menos num primeiro instante. Como pretende utilizar esse suposto capital político, ainda se vai ver.
A partir da verdade de Paes do Amaral se vê que no interesse da sua posição na organização que gere, analisando a entrada da RTL e a necessidade de manter boas relações com os decisores públicos (com poder na banca, na atribuição de licenças e no acesso a canais cabo), decidiu uma estratégia. Explicou-a a Marcelo, aparentemente procurando o seu conselho, e este entendeu que, nesse quadro, o que lhe estava ser pedido era a moderação de tom nos seus comentários.

A Verdade está por ali, algures.

Não creio que daqui resulte um perigo para a liberdade de expressão: vide o batalhão de repórteres sempre atrás de MRS, dando-lhe tempo de antena para dizer o que lhe aprouver e a reacção dos directores do Público e do Expresso às teorias peregrinas dos cabalistas do governo. Este caso mostra é que há demasiado poder de regulação e de intervenção na mão de políticos. Os empresários simplesmente adaptam-se às regras do jogo e usam-nas, tentando, como sempre, maximizar os resultados.