O Mito
O país navega sem timoneiros à vista. Mas também por que haveríamos nós de precisar de um timoneiro? Sonho, sim, um país liberto das eternas dependências, desapegado dos mitos sebastianistas, de que o salazarismo e o cavaquismo são, cada um à sua maneira e em diferentes contextos sociopolíticos, o espelho desse passado distante. Sempre à espera do homem providencial, a comunicação social, moderna na aparência, espreita todos os sinais desse novo mito, na figura redentora de Cavaco Silva, candidato à presidência da República. Hoje, essa manifestação expressa-se no quadro da democracia política, mas amanhã, quem sabe, poderá arrastar-nos para uma outra coisa. É Ela que nos faz reféns de lógicas populistas e messiânicas rumo ao logro e, pior ainda, ao abismo.