terça-feira, junho 14, 2005

O "Office" feito pelos meus amigos

O meu amigo António, sempre vigilante sobre o estado de bovinidade geral (já que estou em maré de usurpar bordões alheios) e em particular sobre os erros mais néscios (eu já senti a sua admoestação!), enviou-me uma missiva que titulou de "Traduções Perversas":
O disparate propagado na televisão já não surpreende grandemente. Na estação de Queluz vi Évora localizada num “mapa de Portugal” onde - nos meus mapas - costumo encontrar Castro Verde. Com a RTP aprendi que Hieronymus Bosch foi um pintor surrealista. Enfim, já se sabe que não há tempo nas redacções para pesquisas muito complexas. E que importa afinal que Évora se localize a norte de Beja ou que Bosch tenha nascido 474 anos antes do manifesto de Breton?

Se já moderei as expectativas quanto ao rigor da informação televisiva, ainda conservo algumas no que respeita aos LIVROS. No recém-editado “Papas Perversos”, de Russel Chamberlin (Edições 70), dei-me conta, com incredulidade, que Avinhão é banhada pelo Reno, e não pelo Ródano, como julgava saber.

Uma gralha incomoda mas compreende-se. Persistir no dislate de afirmar (pelo menos três vezes) que o Reno corre no sul de França revela, numa apreciação benevolente, um domínio dos rudimentos da geografia abaixo do que se espera de um tradutor e, simultaneamente, pouco brio no trabalho de tradução, ainda que se conceda que a grafia inglesa de ambos os vocábulos é muito semelhante (Rhine/Rhône) e que os dois cursos de água nasçam na Suíça. A similitude, de resto, fica-se por aí. O Reno desagua no mar do Norte e, pasme-se, o Ródano fá-lo no Mediterrâneo.

Diga-se, em abono da tradutora, que a mesma corrigiu, por sua vez, um desconchavo do Senhor Russel Chamberlin, que alude aos Reis Católicos “Fernando de Castela” e “Isabel de Aragão”.

Ainda assim, o livro recomenda-se.

António Forreta