A nova agenda da esquerda
André Azevedo Alves disseca a metamorfose da “extrema-esquerda” no seu artigo da Atlântico, do discurso ancorado no marxismo (independentemente das sua matizes, estalinista, trotskista, maoista, etc.) para o do pós-modernismo, do multiculturalismo e das chamadas causas fracturantes.
Ora, em alguns pontos, sou obrigado a convergir com o André, nomeadamente quanto ao lamentável alinhamento da esquerda com a agenda islamista, como se viu no caso das caricaturas ou em estranhas elegias a regimes despóticos do Médio Oriente só porque estes ousaram desafiar o imperialismo americano. Também lhe dou razão no caso da religião, os direitos das mulheres parecem existir apenas em relação ao cristianismo (ou para sermos precisos em relação ao catolicismo) e rapidamente são dissolvidos na totalidade multiculturalista quando entramos, por exemplo, na esfera do Islão. A defesa de tais direitos parece ter aqui um valor instrumental.
No que discordo é na origem da metamorfose, que o articulista identifica com o colapso do chamado socialismo real, da URSS à Albânia.
A mudança é, pelo contrário, bem anterior, remonta às décadas de sessenta e setenta, com o emergir de novas causas, direitos das minorias, a afirmação das diferenças (sexuais, culturais) e as novas narrativas históricas (sujeitos/povos excluídos da História). Eu creio que a esquerda se deve orgulhar deste legado (eram na essência causas nobres), não obstante as perversões do presente, que eu identifico em grande parte com o a redução da esfera individual ou da cidadania, em nome de toda a sorte de comunitarismos (lembro que há até quem defenda como alternativa o modelo de coexistência das comunidades instituído no antigo Império Otomano).
Por fim, quem primeiro abraçou estas novas causas foram os movimentos e partidos políticos que se situavam à esquerda dos PCs europeus. Estes últimos só mais tarde integraram este leque de novas causas, sendo que no caso do partido comunista português muito timidamente.
Ora, em alguns pontos, sou obrigado a convergir com o André, nomeadamente quanto ao lamentável alinhamento da esquerda com a agenda islamista, como se viu no caso das caricaturas ou em estranhas elegias a regimes despóticos do Médio Oriente só porque estes ousaram desafiar o imperialismo americano. Também lhe dou razão no caso da religião, os direitos das mulheres parecem existir apenas em relação ao cristianismo (ou para sermos precisos em relação ao catolicismo) e rapidamente são dissolvidos na totalidade multiculturalista quando entramos, por exemplo, na esfera do Islão. A defesa de tais direitos parece ter aqui um valor instrumental.
No que discordo é na origem da metamorfose, que o articulista identifica com o colapso do chamado socialismo real, da URSS à Albânia.
A mudança é, pelo contrário, bem anterior, remonta às décadas de sessenta e setenta, com o emergir de novas causas, direitos das minorias, a afirmação das diferenças (sexuais, culturais) e as novas narrativas históricas (sujeitos/povos excluídos da História). Eu creio que a esquerda se deve orgulhar deste legado (eram na essência causas nobres), não obstante as perversões do presente, que eu identifico em grande parte com o a redução da esfera individual ou da cidadania, em nome de toda a sorte de comunitarismos (lembro que há até quem defenda como alternativa o modelo de coexistência das comunidades instituído no antigo Império Otomano).
Por fim, quem primeiro abraçou estas novas causas foram os movimentos e partidos políticos que se situavam à esquerda dos PCs europeus. Estes últimos só mais tarde integraram este leque de novas causas, sendo que no caso do partido comunista português muito timidamente.