terça-feira, agosto 29, 2006

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - V

Respondo eu:

João,
Em jeito de réplica à sua resposta:

"tanto quanto sei aqui funciona a democracia, e foram também os setubalenses que escolheram os seus representantes. "

Isso responde a uma das minhas questões sobre a delegação de direitos/poderes incluída na eleição municipal.

"não nos pomos a cogitar: "Quem é que terá posto aqui isto? Foram os habitantes de Antuérpia ou terão sido políticos sem mandato eleitoral para tal?" Não faz sentido, não é? "

Discordo. Faz sentido saber se a origem do monumento (o seu "design" e até o seu custo - aspecto não menos importante) vem de uma entidade pública (eleita, sem dúvida) ou de um cidadão ou grupo de individuos que pretendeu celebrar determinado acontecimento ou ofercer à comunidade determinada peça ou edíficio.

"penso que o seu valor não pode nunca ser medido pelo que custaram"

Concordo. O que não retira a minha capacidade e direito de discordar com a sua qualidade artística e consequentemente valiar do seu valor (incluindo nisso, também, o seu custo).

"Não me diga que também não é o Estado que se deve encarregar disso. Então quem será? E porque é que não o fazem? "

Digo. Encontro, facilmente, muitas outras maneiras de aplicar o orçamento camarário que, no caso de Setúbal, não esqueçamos o que representa em termos de endividamento e má gestão acumulada que só não envergonha quem o produziu porque esse sentimento está muitas vezes afastado de quem gere o dinheiro dos outros. Se os individuos/cidadãos/instituições privadas/contribuintes/ não o fazem é porque claramente acham que o seu dinheiro é melhor empregue de outro modo, ao contrário dos decisores públicos que gastam o dinheiro alheio (já sei, vai dizer que os impostos são da comunidade....). No entanto é errado dizer que os privados não o fazem. Não esqueçamos, por exemplo, que mais que o ministério da cultura, tem sido a Gulbenkian (e o petróleo...) a financiar a cultura em Portugal. Certamente (e de certeza melhor que eu) conhece o acervo da dita fundação.

"O monumento da Praça de Portugal, dito "ao 25 de Abril e às Nacionalizações""

Não me referi a esse monstro de metal mas aos blocos de betão com restos de cordas velhas do porto que desde o ano passado está na Luísa Todi. No entanto a existência de um monumento às nacionalizações é bem significativo de quão infeliz é a monumentalização de Setúbal, ao celebrar um dos episódios mais infelizes da história recente (não estender este comentário ao 25/4/74).

"Entretanto, a viuva do escultor ameaçou colocar a Câmara em tribunal se adulterarem a obra. O problema aí não é certamente dos polítcos que lá colocaram as estátuas... "

Faria ela senão muito bem! O problema, não sendo os políticos que lá colocaram a estátua, seria do dito presidente e respectivos yes-persons (para ser politicamente correcto no género...) culturalmente omniscientes.

"eu próprio vejo muito valor nesses monumentos, mesmo quando têm uma carga ideológica que não me agrada. Chamava-se a isso tolerância."

Neste caso, a tolerância é-me imposta, pois nada poderei fazer para alterar ou contribuir directamente para a escolha de certos conceitos artísticos - tal como vimos acima, os setubalenses escolheram os seus representantes e democraticamente lhes cederam o direito de por eles escolherem a estética dos seus monumentos. E mais que a carga ideológica (a única objecção, comentei-a acima) irrita-me a evidente falta de qualidade artítica geral. Mas aqui reconheço a minha incapacidade perante as inversas capacidades dos dirigentes camarários que assim decidiram.

Como sempre, é um prazer consigo trocar argumentos que espero não considere laterais.