A Ler
A Crítica ao filme Marie Antoinette, de Sofia Copolla. Pelo historiador Paulo Varela Gomes:
A música, os All Star fugazmente aparecidos no meio dos sapatos de cetim (que são uma citação deliberada do mais conhecido “erro histórico” dos dramas históricos – o relógio de pulso que aparece nos Dez Mandamentos de Cecil B. De Mile e em muitos outros filmes), a sequência do baile filmada não em Versalhes mas no átrio da Opéra de Paris, um edifício construído cem anos depois de Versalhes, são dispositivos que estão no filme, não para criar distanciamento em relação à História, não para dizer que ali não se trata de História, mas para fazer a crítica ao género cinematográfico “drama histórico”, uma crítica, aliás, letal – ninguém poderá voltar a fazer “dramas históricos” inocentemente depois de Marie Antoinette.
No filme há mais esquemas, dispositivos e funções que personagens, composição e sequência. Quer dizer, o filme é, em alguma medida, um mecanismo teórico do tipo do mais inteligente e duro filme histórico alguma vez feito, A Tomada do poder de Luís XIV de Roberto Rossellini (1966), que é cinema político em estado puro, à maneira da década de 1960 (e não um “drama histórico”).
Sofia Copolla não dá ao povo aquilo que ele quer. Não serve o povo. Ninguém reconhecerá ali a Rainha e o Rei. Ninguém terá ali adolescentes aos saltinhos. É chato, mas é preciso pensar depois de ver e ouvir Marie Antoinette.