A Televisão. Ou o Capitalismo de Casino
Sobre a regulamentação das práticas televisivas, para que os operadores cumpram os mínimos no que diz respeito aos horários e às alterações nos alinhamentos previstos, veio o Miguel, do Insurgente, clamar contra mais esta vil intervenção do Estado na liberdade e nos destinos dos promotores privados.
Chega a ser espantoso como qualquer prática legislativa, ou tímida iniciativa de regulação do sector, é logo vista como uma forma (heresia das heresias) de engenharia social. Como se a lei tivesse que ser apenas a mera tradução do costume ou tradição e nada mais (como seria se John F. Kennedy tivesse respeitado o costume da discriminação racial em vigor no Sul dos Estados Unidos, em vez de impor os direitos civis nestes estados?).
A lei em causa parece querer refrear práticas que, entre nós, são regra em vez de excepção: refiro-me às sucessivas mudanças na grelha de programação, numa manifestação do mais profundo desprezo pelo telespectador. O que aqui está em causa é apenas o direito à boa informação por parte do público.
Parece pois que o governo pretende que os canais televisivos passem a informar da sua programação, com 48 horas de antecedência. Contempla excepções (e elas são muitas vezes o cavalo de Tróia da subversão da lei) e estabelece coimas. Consta aliás que o montante destas coimas será pouco mais do que simbólico. A ser assim, estaremos perante mais um exemplo da não aplicação da lei, a juntar ao já nosso longo currículo.
Mas algo terá mudar neste campo, pois não é aceitável por exemplo esperarmos longos minutos, às vezes até mais de uma hora, por um programa, enquanto nos ministram pesadas doses de uma publicidade a mais das vezes histriónica e de muito mau gosto (encontrar um anúncio sedutor é, nos dias de hoje, um oásis); esta prática não é inocente, como muito bem sabemos, e está largamente disseminada pelos canais generalistas. Podíamos também falar dos longos blocos publicitários entre os filmes assim adulterados (a Suécia tem regras estritas neste domínio) ou do corte dos genéricos.
Perante este estado de coisas, do ruir de referenciais éticos ou de toda e qualquer noção cívica de serviço público, legislar acaba por ser a solução de último recurso. Agora é preciso fazê-lo com seriedade.
De facto, parece que, nas sociedades globalizadas, nada mais interessa a não ser multiplicar os ganhos ou os lucros, ninguém está preocupado em constituir-se exemplo cívico, modelo de conduta (vide ontem nos Prós e Contras o caso dos banqueiros); é o capitalismo de casino de que fala Ralf Dahrendorf:
Chega a ser espantoso como qualquer prática legislativa, ou tímida iniciativa de regulação do sector, é logo vista como uma forma (heresia das heresias) de engenharia social. Como se a lei tivesse que ser apenas a mera tradução do costume ou tradição e nada mais (como seria se John F. Kennedy tivesse respeitado o costume da discriminação racial em vigor no Sul dos Estados Unidos, em vez de impor os direitos civis nestes estados?).
A lei em causa parece querer refrear práticas que, entre nós, são regra em vez de excepção: refiro-me às sucessivas mudanças na grelha de programação, numa manifestação do mais profundo desprezo pelo telespectador. O que aqui está em causa é apenas o direito à boa informação por parte do público.
Parece pois que o governo pretende que os canais televisivos passem a informar da sua programação, com 48 horas de antecedência. Contempla excepções (e elas são muitas vezes o cavalo de Tróia da subversão da lei) e estabelece coimas. Consta aliás que o montante destas coimas será pouco mais do que simbólico. A ser assim, estaremos perante mais um exemplo da não aplicação da lei, a juntar ao já nosso longo currículo.
Mas algo terá mudar neste campo, pois não é aceitável por exemplo esperarmos longos minutos, às vezes até mais de uma hora, por um programa, enquanto nos ministram pesadas doses de uma publicidade a mais das vezes histriónica e de muito mau gosto (encontrar um anúncio sedutor é, nos dias de hoje, um oásis); esta prática não é inocente, como muito bem sabemos, e está largamente disseminada pelos canais generalistas. Podíamos também falar dos longos blocos publicitários entre os filmes assim adulterados (a Suécia tem regras estritas neste domínio) ou do corte dos genéricos.
Perante este estado de coisas, do ruir de referenciais éticos ou de toda e qualquer noção cívica de serviço público, legislar acaba por ser a solução de último recurso. Agora é preciso fazê-lo com seriedade.
De facto, parece que, nas sociedades globalizadas, nada mais interessa a não ser multiplicar os ganhos ou os lucros, ninguém está preocupado em constituir-se exemplo cívico, modelo de conduta (vide ontem nos Prós e Contras o caso dos banqueiros); é o capitalismo de casino de que fala Ralf Dahrendorf: