terça-feira, dezembro 19, 2006

Um Irão diferente

Mais uma prova de que o Irão não é tão monolítico como alguns pretendem fazer crer.
Muitos ignoram que o Irão mantém mecanismos de selecção das elites políticas que provêm da democracia representativa.
Embora não se possa dizer, do sistema político iraniano, que na essência seja multipartidário e competitivo, a República Islâmica do Irão realiza periodicamente eleições para as várias instâncias de representação; dos conselhos locais à presidência da república. E são eleições por sufrágio directo e universal.
Em suma, dentro do espectro religioso, várias correntes se digladiam sob um pano de fundo democrático. Penso que isto é herança da revolução que derrubou a monarquia do Xá Reza Pahlevi, a aspiração democrática nela contida e que os mullahs não conseguiram embargar por completo.
O regime iraniano é um intrincado complexo de instituições, coexistindo diferentes fontes de legitimidade, das de índole democrática (como o parlamento e a assembleia de peritos) até às de fundo autoritário e religioso (o Conselho dos Guardiões da Constituição e o Conselho de Discernimento).
Nas eleições agora realizadas, os eleitores elegeram os conselhos locais e os membros da assembleia de peritos.
Os resultados indiciam um duro revés para o presidente Ahmadinejad, cujos candidatos aparecem bem atrás dos reformistas e dos que se agrupam em torno de Hashemi Rafsanjani.
As questões domésticas, da política económica à agenda populista e conservadora nas universidades, assumiram primazia sobre a política externa e a retórica do anti-semitismo.
Interessante também o facto de algumas mulheres muito jovens, em representação da plataforma reformista, encabeçarem a contagem nalguns conselhos locais da província.
Um Irão diferente daquele que nos é dado pela generalidade dos medias e pelos inventores do eixo do mal.