sexta-feira, janeiro 12, 2007

Derradeiro esforço no Iraque


No discurso de ontem à noite, o Presidente George Bush anunciou a intenção de enviar mais soldados americanos para o Iraque, argumentado ser esse o único caminho para aplacar a violência sectária (eufemismo para a guerra civil) que grassa naquele país.
É difícil não ver nisto semelhanças com o caso do Vietname, onde então também assistimos a uma escalada da guerra, com os militares americanos a atingirem quase o meio milhão de mobilizados. E no entanto sabemos bem qual foi o desenlace dessa desastrosa guerra: a humilhante retirada e o período de desmoralização que se seguiu, pois à época da escalada da guerra já não havia qualquer saída (militar ou política). O mesmo impasse desenha-se agora no Iraque.
Derradeiro esforço (“stay the course” foi a expressão empregue por Bush) para inverter a insurreição, que ceifa cada vez mais vidas americanas, e assumir algum controlo sobre uma situação política que mina o poder de dissuasão da hiperpotência, no Médio Oriente e no resto do Mundo, assemelha-se no entanto a um gesto simbólico de impotência. No Iraque de hoje, a vontade americana conta pouco. E cada vez menos.
Receio que os Estados Unidos venham a pagar um preço alto por terem substituído a política pela guerra (ao contrário da célebre máxima de Clausewitz, aqui a guerra não foi a continuação da política por outros meios).
E vimos também como a ingenuidade, aliada a uma visão maniqueísta do mundo, pode ser tão letal. Saddam era o tirano sanguinário e os soldados americanos os heróis que iriam ser recebidos com flores em Bagdad. E o povo iraquiano libertado viveria feliz, num Iraque próspero e democrático que faria a inveja dos povos vizinhos. Mas o curso da História revelou-nos uma realidade muito diferente. Feita de pesadelo.
A invasão militar e a incúria dos primeiros tempos da ocupação precipitaram o Iraque para um quotidiano de caos e violência. Hoje, o Iraque talvez já nem chegue a ser um país. Os EUA dificilmente escaparão ao julgamento da História.