quinta-feira, janeiro 25, 2007

Mehldau, o Artífice

O pianista Brad Mehldau irradiou toda a sua classe pelo palco do CCB.
Com uma técnica irrepreensível, um imenso saber na arte da improvisação e a subtileza daqueles pormenores que fazem toda a diferença.
E depois há o lirismo que impregna a música de Mehldau, a sublime desconstrução de fraseados melódicos de geografias alheias ao Jazz, que através dele viajam até outras paragens e a casa regressam mudados; mais ricos.
O concerto terminou com o tema Riverman, de Nick Drake, que imperceptivelmente
foi sendo transformado numa outra coisa, como se de um contínuo se tratasse; sem indício de ruptura, como se fosse o prolongamento natural do seu próprio ser. Tanta mestria e delicadeza só podem ser obra de um poderoso artífice.
Brad Mehldau brindou-nos com cinco (ou mais?) encores, coisa raramente vista. Generosidade a rodos para um público que muito tossiu ao longo do primeiro terço do concerto. Mas tivemos muita sorte em ter Mehldau entre nós. Fosse Keith Jarrett, e o concerto teria logo acabado ao primeiro tema ou, o mais tardar, ao segundo.