segunda-feira, março 05, 2007

Para que a memória não esqueça

Um amigo enviou-me, por e-mail, a referência a um abaixo assinado "contra a concretização do Museu Salazar em Santa Comba Dão".
Não costumo dar grande valor a estas iniciativas, maioritariamente nascidas da emoção do momento e muitas vezes sobre assuntos menos relevantes para serem peticionados. Mas este caso tem a ver com uma memória que insiste em ser empurrada para o esquecimento, apagada dos anais da história - excepto aquela que é contada como a politicamente correcta. A discussão, o comentário, a analise mais académica ou mesmo a mais popular, são desaconselhados. A CRP inclui, até, e na senda do que se passa noutros países europeus, restrições proibicionistas à apresentação pública de certas ideias.
A discussão dessas ideias, ao invés da sua censura, contrinuirá mais para que não se esqueça o impacto que a experimentação, a implementação, das mesmas, teve no nosso país.

Acrescento, abaixo, cópia da resposta que dei a esse mui estimado amigo:
Não partilho das posições proibicionistas que hoje em dia se impõem na politicamente correcta Europa (como na Alemanha, a proibição da suástica, símbolo multimilenar, não específicamente ligado ao "mal nazi").

A proibição da exposição de ideias não as fará desaparecer - como bem deveriam saber os comunistas, pela experiência de tentativa de pensamento único que impuseram na Europa de Leste e noutros locais do globo.
E como sabes, sem que eu to prove mais, não sou, nunca fui, defensor do Estado Novo nem do seu modelo de organização nem do que representa em termos ideológicos. Pelo contrário (a isso me referi no último artigo da Dia D).

Por outro lado, não conheço o projecto, apenas os soundbytes de meia dúzia de tresloucados contra e a favor numa escaramuça mostrada na televisão. Nem sei se o apologismo será prevalecente. Mas mesmo que seja...
Ideias combatem-se com ideias, discussões com discussões.
Nunca com proibicionismos nem com imposições sobre o pensamento dos outros. Foi esse, aliás, um dos graves pecados do Estado Novo e que eu de todo em todo não pretendo repetir.

Podes perguntar: visitarias este museu? Sim, com certeza. Tenho neurónios suficientes na cabeça para poder analisar o que me fôr apresentado. Não tenho intenção de considerar nenhum dos meus concidadãos como dotados de uma capacidade de discernimento inferior à minha. Afinal os seus votos valem tanto como o meu.