A Greve ainda é uma arma eficaz. Mas...
Afinal a greve ainda é uma arma eficaz, mesmo no contexto desta nossa globalização, do universo cada vez maior da subcontratação de serviços e dos precários.
O Público de hoje divulga dados de um estudo que procurou medir a taxa de sucesso das greves ao longo de um período de dez anos, de 1995 a 2005.
Feito a partir das estatísticas do Ministério do Trabalho respeitantes ao universo do sector privado, revela-nos surpreendentemente uma subida das greves “aceites” e “parcialmente aceites", de um valor global de 20, 5%, em 1995, para 30,1 em 2005.
[…] Será que, neste novo contexto, ainda servirá para alguma coisa fazer greve?
“Tenho a certeza que sim”, responde Reinhard Naumann , investigador do ISCTE na área das relações de trabalho e negociação colectiva e representante em Portugal da fundação alemã Friedrich Erbert. Paulo Alves, também investigador no ISCTE, e que tem no sindicalismo uma das suas áreas de eleição, aponta dois exemplos ocorridos em Portugal no ano passado: na empresa ThyssenKupp Elevadores, uma paralisação levou a um aumento substancial da massa salarial; enquanto na Carvalho & Rainha uma greve com ocupação de instalações _ uma forma cada vez mais rara – impediu o despedimento colectivo de 120 trabalhadores da empresa.
in PÚBLICO, 30 de Maio de 07.
Diria, à luz daqueles exemplos, que muito do que os sindicatos poderão conseguir em prol dos trabalhadores reside no poder, na capacidade de… Dir-me-ão porventura que estou a fazer a apologia do conflito. Mas não é este um dado inelutável da existência, que está longe de ser asséptica ou neutra? Outros, por seu lado, preferirão enfatizar a concertação. Mas esquecem-se de que não há concertação sem primeiro haver uma qualquer forma de conflito. Porque o conflito exprime acima de tudo interesses em oposição. A concertação pode até ser o conflito regulado pelas instituições do sistema político. Mas atenção, de nada vale a concertação se uma das partes tiver pouco ou nenhum poder. Poder é aqui a palavra-chave.
O mundo em que estamos a entrar é cada vez mais adverso ao sindicalismo. A um sindicalismo concebido à maneira do século passado (às vezes mesmo do século XIX).
Os sindicatos só se constituirão em actores centrais, se souberem integrar a legião crescente dos precários. Caso contrário, continuarão a perder influência, não obstante vitórias pontuais.
Será um processo doloroso e difícil, pois implicará o questionamento das bases em que se fundou o sindicalismo.
Não se trata de dizer, bem entendido, que o trabalho industrial ou a classe trabalhadora deixaram de ser importantes, mas apenas que não detêm qualquer privilégio político em relçaão às outras classes de trabalho no interior da multidão.
António Negri, in Multidão
O Público de hoje divulga dados de um estudo que procurou medir a taxa de sucesso das greves ao longo de um período de dez anos, de 1995 a 2005.
Feito a partir das estatísticas do Ministério do Trabalho respeitantes ao universo do sector privado, revela-nos surpreendentemente uma subida das greves “aceites” e “parcialmente aceites", de um valor global de 20, 5%, em 1995, para 30,1 em 2005.
[…] Será que, neste novo contexto, ainda servirá para alguma coisa fazer greve?
“Tenho a certeza que sim”, responde Reinhard Naumann , investigador do ISCTE na área das relações de trabalho e negociação colectiva e representante em Portugal da fundação alemã Friedrich Erbert. Paulo Alves, também investigador no ISCTE, e que tem no sindicalismo uma das suas áreas de eleição, aponta dois exemplos ocorridos em Portugal no ano passado: na empresa ThyssenKupp Elevadores, uma paralisação levou a um aumento substancial da massa salarial; enquanto na Carvalho & Rainha uma greve com ocupação de instalações _ uma forma cada vez mais rara – impediu o despedimento colectivo de 120 trabalhadores da empresa.
in PÚBLICO, 30 de Maio de 07.
Diria, à luz daqueles exemplos, que muito do que os sindicatos poderão conseguir em prol dos trabalhadores reside no poder, na capacidade de… Dir-me-ão porventura que estou a fazer a apologia do conflito. Mas não é este um dado inelutável da existência, que está longe de ser asséptica ou neutra? Outros, por seu lado, preferirão enfatizar a concertação. Mas esquecem-se de que não há concertação sem primeiro haver uma qualquer forma de conflito. Porque o conflito exprime acima de tudo interesses em oposição. A concertação pode até ser o conflito regulado pelas instituições do sistema político. Mas atenção, de nada vale a concertação se uma das partes tiver pouco ou nenhum poder. Poder é aqui a palavra-chave.
O mundo em que estamos a entrar é cada vez mais adverso ao sindicalismo. A um sindicalismo concebido à maneira do século passado (às vezes mesmo do século XIX).
Os sindicatos só se constituirão em actores centrais, se souberem integrar a legião crescente dos precários. Caso contrário, continuarão a perder influência, não obstante vitórias pontuais.
Será um processo doloroso e difícil, pois implicará o questionamento das bases em que se fundou o sindicalismo.
Não se trata de dizer, bem entendido, que o trabalho industrial ou a classe trabalhadora deixaram de ser importantes, mas apenas que não detêm qualquer privilégio político em relçaão às outras classes de trabalho no interior da multidão.
António Negri, in Multidão