A proclamação da independência
Foi proclamada a independência do Kosovo, com o beneplácito dos Estados Unidos e da maioria dos países da União Europeia (excepção feita à Espanha, Chipre, Roménia e Bulgária, que por razões óbvias nunca poderiam dar cobertura a este acto).
Foi a crónica de uma independência anunciada, mas este esperado desenlace está longe de ser o fim da História. Porque o quadro geopolítico de hoje é muito diferente do verificado anos nos noventa do século passado, cujas relações de força conduziram à ofensiva da Nato contra a Jugoslávia (à época constituída pela Sérvia e o Montenegro).
O mundo de hoje é menos unipolar, marcado pelas nações emergentes (Índia e China) e pelo ressurgimento da Rússia. A Rússia está a crescer, economicamente falando, e vem também modernizando o seu arsenal bélico (tendência que se acentuará no futuro, pois massa crítica é coisa que não lhe falta). Tudo isto não deixará de se fazer sentir no Kosovo e alhures.
É provável que a Sérvia passe muita rapidamente a incentivar a separação de facto dos enclaves sérvios, embora no plano discursivo mantenha a retórica de que o Kosovo é parte integrante e inviolável do seu território. Não se pode pedir aos sérvios kosovares que guardem obediência aos antigos líderes do UÇK, face ao lastro de violência por estes deixado. Porque nunca é demais lembrar que o Kosovo foi, sob os olhos dos militares de Nato, palco de uma limpeza étnica (animada pelos guerrilheiros do UÇK) que deixou a população sérvia reduzida a menos de metade do que era (antes da agressão Americana e Europeia) e que reduziu a quase nada a presença das restantes minorias étnicas que aí viviam (casos dos turcomanos ou dos ciganos). Não são por isso de levar a sério as boas intenções inscritas no discurso de independência proferido, no parlamento kosovar, por Hashim Thaci. Num Kosovo albanês dificilmente haverá lugar para os sérvios. Então como não reconhecer também o direito destes últimos à autodeterminação?
Enfim, tudo vai depender das relações de força, dado que a independência do Kosovo se processou à margem da legalidade internacional, em violação da Resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, que garantia o respeito pelas fronteiras da então Jugoslávia (Sérvia e Montenegro; Reaffirming the commitment of all Member States to the sovereignty and territorial integrity of the Federal Republic of Yugoslavia and the other States of the region, as set out in the Helsinki Final Act and annex 2). Os europeus e americanos, lamentavelmente, esqueceram o que antes subscreveram, caindo numa espiral de ilegalidade. Perderam toda a legitimidade, só lhes sobrando a força para fazerem valer a sua vontade nos Balcãs. Resta saber por quanto tempo.
Vamos viver, receio, tempos interessantes, parafraseando um antigo ditado chinês.
P.S. Nas ruas de Pristina viam-se bandeiras albanesas, é que ao que consta o agora Estado independente do Kosovo ainda não tem bandeira.
Foi a crónica de uma independência anunciada, mas este esperado desenlace está longe de ser o fim da História. Porque o quadro geopolítico de hoje é muito diferente do verificado anos nos noventa do século passado, cujas relações de força conduziram à ofensiva da Nato contra a Jugoslávia (à época constituída pela Sérvia e o Montenegro).
O mundo de hoje é menos unipolar, marcado pelas nações emergentes (Índia e China) e pelo ressurgimento da Rússia. A Rússia está a crescer, economicamente falando, e vem também modernizando o seu arsenal bélico (tendência que se acentuará no futuro, pois massa crítica é coisa que não lhe falta). Tudo isto não deixará de se fazer sentir no Kosovo e alhures.
É provável que a Sérvia passe muita rapidamente a incentivar a separação de facto dos enclaves sérvios, embora no plano discursivo mantenha a retórica de que o Kosovo é parte integrante e inviolável do seu território. Não se pode pedir aos sérvios kosovares que guardem obediência aos antigos líderes do UÇK, face ao lastro de violência por estes deixado. Porque nunca é demais lembrar que o Kosovo foi, sob os olhos dos militares de Nato, palco de uma limpeza étnica (animada pelos guerrilheiros do UÇK) que deixou a população sérvia reduzida a menos de metade do que era (antes da agressão Americana e Europeia) e que reduziu a quase nada a presença das restantes minorias étnicas que aí viviam (casos dos turcomanos ou dos ciganos). Não são por isso de levar a sério as boas intenções inscritas no discurso de independência proferido, no parlamento kosovar, por Hashim Thaci. Num Kosovo albanês dificilmente haverá lugar para os sérvios. Então como não reconhecer também o direito destes últimos à autodeterminação?
Enfim, tudo vai depender das relações de força, dado que a independência do Kosovo se processou à margem da legalidade internacional, em violação da Resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, que garantia o respeito pelas fronteiras da então Jugoslávia (Sérvia e Montenegro; Reaffirming the commitment of all Member States to the sovereignty and territorial integrity of the Federal Republic of Yugoslavia and the other States of the region, as set out in the Helsinki Final Act and annex 2). Os europeus e americanos, lamentavelmente, esqueceram o que antes subscreveram, caindo numa espiral de ilegalidade. Perderam toda a legitimidade, só lhes sobrando a força para fazerem valer a sua vontade nos Balcãs. Resta saber por quanto tempo.
Vamos viver, receio, tempos interessantes, parafraseando um antigo ditado chinês.
P.S. Nas ruas de Pristina viam-se bandeiras albanesas, é que ao que consta o agora Estado independente do Kosovo ainda não tem bandeira.