quarta-feira, fevereiro 20, 2008

A Transição



Cuba. Um outro olhar sobre a transição de poder que não é de hoje, que não é inaugurada com a renúncia oficial de Fidel. Ao invés, o velho líder já há algum tempo tinha lançado mão deste processo, com a constituição de um núcleo dirigente fiel aos princípios ideológicos da revolução, cujo discurso político sempre foi feito de uma simbiose entre marxismo e nacionalismo. Será uma espécie de órgão colegial, reunindo figuras de topo do regime, como Carlos Lage, arquitecto das reformas económicas nos duros anos noventa, ou Filipe Pérez Roque, ministro dos negócios estrangeiros. À frente deste órgão, temos Raúl Castro, que no entanto não desfrutará de poderes iguais aos de Fidel. Há nuances, e não poucas, em todo este processo. Raúl não vestirá a pele de um líder Todo-poderoso, como o foi Fidel.
Júlia E. Sweig fornece-nos, neste artigo da Foreign Affairs, uma análise fina da realidade política cubana, longe dos lugares-comuns que por este dias assolam os media, da escrita aos suportes audiovisual e imaterial, e que tudo pretendem resumir ao carisma de Fidel. Depois deste, o dilúvio…
Ao contrário, Julia sustenta que há muito de wishful thinking em tais análises, no ruir do regime, que poderá bem subsistir ao velho líder revolucionário. Ela não se coíbe de referir, em defesa da sua tese, o apoio de que o regime ainda conta entre as classes populares ou a solidez das instituições do Estado. O regime, como ela diz, está longe de ser uma democracia, mas não deixou de instituir mecanismos de escrutínio.

Cuba is far from a multiparty democracy, but it is a functioning country with highly opinionated citizens where locally elected officials (albeit all from one party) worry about issues such as garbage collection, public transportation, employment, education, health care, and safety. Although plagued by worsening corruption, Cuban institutions are staffed by an educated civil service, battle-tested military officers, a capable diplomatic corps, and a skilled work force. Cuban citizens are highly literate, cosmopolitan, endlessly entrepreneurial, and by global standards quite healthy.

Although the government's repression of dissent and tight control over the economy drove many out of the country and turned many others against the Castro regime, most Cubans came to expect the state to guarantee their welfare, deliver the international standing they regard as their cultural and historical destiny, and keep the United States at a healthy distance.

E o nacionalismo, substrato da revolução castrista, poderá funcionar como um poderoso combustível para a subsistência do regime num mundo que já lhe foi mais desfavorável.

O artigo pode ser lido aqui.