A justa revolta dos professores
(...) Sou professor do Ensino Secundário de História, tenho um Mestrado e um Doutoramento (tirados no ISCTE) em História Contemporânea, ou seja, sou doutorado na área científica em que sou docente, mas vou ser avaliado (de acordo com as grelhas) científico-pedagógicamente na minha área de docência por um Licenciado em geografia (Coordenador de Departamento), e vou ser também avaliado pelo Presidente do Conselho Executivo, neste caso um bacharel em fim de carreira!!
Pedro Brandão, in Abrupto.
A manifestação dos professores excedeu as melhores expectativas, ao reunir cerca de cem mil pessoas, número impressionante, muito para além da capacidade mobilização sindical e partidária, entenda-se, PCP, partido que continua a povoar a imaginação de muito cronista da nossa imprensa dita de referência. É ver a força que lhe atribuem, muito para além da imaginação dos próprios comunistas. É ver o artigo de Fernando Madrinha, no Expresso, uma peça digna da melhor retórica do governo de Sócrates.
A revolta dos professores é justa, depois de uma campanha insidiosa que fez dos docentes bodes expiatórios dos problemas que assolam o ensino, veio um iníquo, diríamos até aviltante, sistema de avaliação.
É a expressão de um profundo mal-estar cuja causa primeira radica na tecnocracia do Ministério da Educação, povoada de especialistas que fizeram da escola pública campo privilegiado da engenharia social, tornando a vida dos professores um inferno burocrático. E como se não bastasse, agora tudo querem reduzir a critérios mensuráveis, enfim, à quantificação, esse mito (e desgraça) da nossa época. É o abastardamento do ensino!
Os cientistas sociais foram contaminados pelo vírus da avaliação, vivem num mundo de objectivos específicos, de estatística e mensurabilidade, que confundem com a realidade (como se esta se reduzisse a indicadores, em muitos casos grosseiros). A mais das vezes é um engano de que eles não se dão conta, mas há que reconhecer que foram muito bem sucedidos: o seu discurso está enraizado no tecido social e, naturalmente, é fonte emprego (ora aqui está uma corporação de que ninguém fala).
Em tempo de repetição de fórmulas depressa convertidas em dogmas, só Vasco Pulido Valente e António Barreto aludiram ao logro desta avaliação.