O Ocidente, o Tibete e a China
Sabemos que este nosso Ocidente, dos publicistas aos estudantes universitários, gosta de dar lições de moral aos outros.
Costuma a África ser a vítima, mas desta vez o alvo foi o poderoso, e cada vez mais capitalista, império do Meio. Tibete é aqui a palavra-chave, com os Jogos Olímpicos de Pequim em pano de fundo.
O Tibete é uma causa popular no Ocidente. O Tibete passado, antes da chegada da China, é representado à imagem, quase diríamos, do paraíso perdido. Um doce lugar idílico no tecto do mundo, governado pela milenar sabedoria dos monges. E no nosso mundo progressivamente descristianizado e descrente das grandes causas seculares, o budismo conserva de há muito um forte poder de atracção entre os jovens mais instruídos, as gentes ligadas à cultura (e esta cultura é por norma de esquerda) e até à ciência. O problema é que, não raro, esta busca de sentido na filosofia budista desemboca em maniqueísmo (vem ao de cima o nosso lastro ocidental). A China é a fonte de todos os males, e a realidade assim é uma coisa simples, ainda para mais se a nossa é feita de desorientação materialista; de consumo e mais consumo.
Mesmo se sou sensível à causa tibetana, no que esta tem de defesa da identidade cultural de um povo, acho esta maneira de pensar e agir, que ficou patente em Londres e Paris, muito pouco consequente. E não estou certo de que ela aproveite ao Tibete, onde uma jovem geração de líderes parece cada vez mais pugnar por métodos bem mais clássicos de luta, afastando-se da política de não-violência do Dalai Lama. É verdade, aí está uma nova fornada de líderes tibetanos, que cresceu sob ocupação chinesa, que poderíamos dizer são filhos da China. Seria assaz difícil concebê-los num Tibete teocrático e imutável.
E agora a China, por este dias a encarnação do mal (receio que a coisa dure até ao fim dos jogos olímpicos). De pouco importa verem-lhe os progressos, mesmo noutras matérias, que não as da riqueza material. Há um abismo entre a China de hoje e a de 1989, mas muitos não vêem isso. Vêem só o Tibete.
No Le Fígaro, um outro olhar:
Nos exhortations sur les droits de l'homme, à la veille des Jeux olympiques, sont-elles vaines ?
J.-L. D. Je suis scandalisé par la niaiserie démagogique de certains commentateurs français sur la question. Un pays comme la Chine ne passe pas du totalitarisme à la démocratie en un tour de main. Il est un fait que la presse en Chine est très contrôlée et que 30 journalistes chinois sont en prison, souvent pour des raisons non politiques d'ailleurs, mais il faut aussi rappeler qu'il y a en Chine 550 000 journalistes. Idem pour les 80 à 100 internautes poursuivis sur les 210 millions d'internautes que compte ce pays !
Costuma a África ser a vítima, mas desta vez o alvo foi o poderoso, e cada vez mais capitalista, império do Meio. Tibete é aqui a palavra-chave, com os Jogos Olímpicos de Pequim em pano de fundo.
O Tibete é uma causa popular no Ocidente. O Tibete passado, antes da chegada da China, é representado à imagem, quase diríamos, do paraíso perdido. Um doce lugar idílico no tecto do mundo, governado pela milenar sabedoria dos monges. E no nosso mundo progressivamente descristianizado e descrente das grandes causas seculares, o budismo conserva de há muito um forte poder de atracção entre os jovens mais instruídos, as gentes ligadas à cultura (e esta cultura é por norma de esquerda) e até à ciência. O problema é que, não raro, esta busca de sentido na filosofia budista desemboca em maniqueísmo (vem ao de cima o nosso lastro ocidental). A China é a fonte de todos os males, e a realidade assim é uma coisa simples, ainda para mais se a nossa é feita de desorientação materialista; de consumo e mais consumo.
Mesmo se sou sensível à causa tibetana, no que esta tem de defesa da identidade cultural de um povo, acho esta maneira de pensar e agir, que ficou patente em Londres e Paris, muito pouco consequente. E não estou certo de que ela aproveite ao Tibete, onde uma jovem geração de líderes parece cada vez mais pugnar por métodos bem mais clássicos de luta, afastando-se da política de não-violência do Dalai Lama. É verdade, aí está uma nova fornada de líderes tibetanos, que cresceu sob ocupação chinesa, que poderíamos dizer são filhos da China. Seria assaz difícil concebê-los num Tibete teocrático e imutável.
E agora a China, por este dias a encarnação do mal (receio que a coisa dure até ao fim dos jogos olímpicos). De pouco importa verem-lhe os progressos, mesmo noutras matérias, que não as da riqueza material. Há um abismo entre a China de hoje e a de 1989, mas muitos não vêem isso. Vêem só o Tibete.
No Le Fígaro, um outro olhar:
Nos exhortations sur les droits de l'homme, à la veille des Jeux olympiques, sont-elles vaines ?
J.-L. D. Je suis scandalisé par la niaiserie démagogique de certains commentateurs français sur la question. Un pays comme la Chine ne passe pas du totalitarisme à la démocratie en un tour de main. Il est un fait que la presse en Chine est très contrôlée et que 30 journalistes chinois sont en prison, souvent pour des raisons non politiques d'ailleurs, mais il faut aussi rappeler qu'il y a en Chine 550 000 journalistes. Idem pour les 80 à 100 internautes poursuivis sur les 210 millions d'internautes que compte ce pays !