Ainda a educação
Duas ou três coisas sobre educação, eu que não sou professor, nem pai; nem tão-pouco especialista em ciências de educação ou burocrata dispondo de um confortável gabinete na 5 de Outubro. Dito assim, até parece que me estou a pôr à margem dos pecadores, visto que não me encaixo em nenhuma daquelas categorias e ter já há algum tempo deixado, penso, a adolescência. E enquanto adolescente não recordo muitas crueldades minhas, era um miúdo ensimesmado na escola e em casa, onde no escuro aconchego do quarto ouvia vezes sem conta o Foxtrot e o Selling England by The Pound, e outras coisas mais do rock progressivo, músicas fora do tempo, que ao tempo dos Joy Division e dos Young Marble Giants só tardiamente aderi.
Fico-me portanto pelo registo impressionista, ou talvez pelas afinidades electivas, no que toca à educação que é a nossa.
Começando pelo último Prós e Contras, programa que até nem costumo ver por aí além, porque não lhe aprecio nem o tempo nem o ritmo, nem tão-pouco a inclinação da moderadora pelos porta-vozes do establishment ou do governo, para empregar uma linguagem crua. Dedicado à autoridade nas escolas, o debate abriu e fechou com o psiquiatra Pio de Abreu, que discorreu abundantemente sobre o telemóvel, esse hodierno artefacto que até serviu para fazer abortar o golpe estalinista na então União Soviética, logo, contra tal maravilha da criação nada podemos, a não ser contemplar-lhe as democráticas virtudes. Do telemóvel para as ruas de São Paulo, o distinto psiquiatra tirou da cartola um taxista brasileiro que não gostava de polícias que tinham o atrevimento de se manifestar nas ruas, assim perdendo o respeito de todos os paulistas, óbvia, e deselegante, alusão à grande manifestação dos professores. Estava então o nosso psiquiatra ao abrigo do contraditório, porque a noite ia longa e já não havia tempo para mais.
A barricada dos especialistas contava também com o sociólogo João Sebastião, responsável do Observatório de Segurança nas Escolas (acho que é assim que se chama), digno representante de uma ciência (pobre sociologia!) cristalizada em estatísticas. Ele garantiu-nos não haver razão para alarme, o fenómeno é modesto entre nós, longe de se assemelhar aos states. Ao ouvi-lo fiquei com a impressão de que o nosso investigador padece do feiticismo da estatística. Não me parece que o observatório em causa seja um modelo de fiabililidade. Ou de isenção.
Os professores presentes disseram coisas interessantes, como por exemplo, quando lembraram que a alfabetização da Finlândia remonta ao século XIX, porque, digo eu, Roma e Pavia não se fizeram num dia.
Foi patente, durante todo o debate, a clivagem (diria mesmo desconfiança; é ver tb o que se escreve nalguns blogs animados por professores) entre os profissionais do terreno e os teóricos da escola. Penso que isso não é bom para a educação, mas acaba por ser resultado do peso que estes últimos vêm assumindo nos corredores do ministério, e que se traduz num mar de portarias e regulamentos que transformam a vida dos professores num inferno burocrático. As teorias que emanam das ciências de educação podem até ser úteis à escola, desde que respeitem o tempo desta. Não podem é,à medida que surgem no universo da universidade ou da comunidade científica, serem logo vertidas burocraticamente. É uma questão de bom senso.
Não me queria alongar no Prós e Contras, mas não posso deixar de aludir à Joana Amaral Dias. Penso que ela não saiu da trincheira ideológica, o que foi pena. E acabou a defender mal a escola pública (a intervenção do blogger Carlos Abreu Amorim, que denunciou o discurso eduquês materializado nos especialistas presentes no debate, foi alvo da ira da Joana, que injustamente colou o Carlos a um passado salazarento).
Parte terminar, e à margem debate, a intervenção do procurador da república talvez fosse intempestiva num outro contexto, mas não neste, em que o discurso do Ministério raramente alude aos casos de indisciplina e violência nas escolas e quando o faz é para desvalorizar tais acontecimentos num universo estatístico virtual. Ora, é óbvio que isso fragiliza ainda mais os professores.
Fico-me portanto pelo registo impressionista, ou talvez pelas afinidades electivas, no que toca à educação que é a nossa.
Começando pelo último Prós e Contras, programa que até nem costumo ver por aí além, porque não lhe aprecio nem o tempo nem o ritmo, nem tão-pouco a inclinação da moderadora pelos porta-vozes do establishment ou do governo, para empregar uma linguagem crua. Dedicado à autoridade nas escolas, o debate abriu e fechou com o psiquiatra Pio de Abreu, que discorreu abundantemente sobre o telemóvel, esse hodierno artefacto que até serviu para fazer abortar o golpe estalinista na então União Soviética, logo, contra tal maravilha da criação nada podemos, a não ser contemplar-lhe as democráticas virtudes. Do telemóvel para as ruas de São Paulo, o distinto psiquiatra tirou da cartola um taxista brasileiro que não gostava de polícias que tinham o atrevimento de se manifestar nas ruas, assim perdendo o respeito de todos os paulistas, óbvia, e deselegante, alusão à grande manifestação dos professores. Estava então o nosso psiquiatra ao abrigo do contraditório, porque a noite ia longa e já não havia tempo para mais.
A barricada dos especialistas contava também com o sociólogo João Sebastião, responsável do Observatório de Segurança nas Escolas (acho que é assim que se chama), digno representante de uma ciência (pobre sociologia!) cristalizada em estatísticas. Ele garantiu-nos não haver razão para alarme, o fenómeno é modesto entre nós, longe de se assemelhar aos states. Ao ouvi-lo fiquei com a impressão de que o nosso investigador padece do feiticismo da estatística. Não me parece que o observatório em causa seja um modelo de fiabililidade. Ou de isenção.
Os professores presentes disseram coisas interessantes, como por exemplo, quando lembraram que a alfabetização da Finlândia remonta ao século XIX, porque, digo eu, Roma e Pavia não se fizeram num dia.
Foi patente, durante todo o debate, a clivagem (diria mesmo desconfiança; é ver tb o que se escreve nalguns blogs animados por professores) entre os profissionais do terreno e os teóricos da escola. Penso que isso não é bom para a educação, mas acaba por ser resultado do peso que estes últimos vêm assumindo nos corredores do ministério, e que se traduz num mar de portarias e regulamentos que transformam a vida dos professores num inferno burocrático. As teorias que emanam das ciências de educação podem até ser úteis à escola, desde que respeitem o tempo desta. Não podem é,à medida que surgem no universo da universidade ou da comunidade científica, serem logo vertidas burocraticamente. É uma questão de bom senso.
Não me queria alongar no Prós e Contras, mas não posso deixar de aludir à Joana Amaral Dias. Penso que ela não saiu da trincheira ideológica, o que foi pena. E acabou a defender mal a escola pública (a intervenção do blogger Carlos Abreu Amorim, que denunciou o discurso eduquês materializado nos especialistas presentes no debate, foi alvo da ira da Joana, que injustamente colou o Carlos a um passado salazarento).
Parte terminar, e à margem debate, a intervenção do procurador da república talvez fosse intempestiva num outro contexto, mas não neste, em que o discurso do Ministério raramente alude aos casos de indisciplina e violência nas escolas e quando o faz é para desvalorizar tais acontecimentos num universo estatístico virtual. Ora, é óbvio que isso fragiliza ainda mais os professores.