A Plataforma de Houellebecq
A Plataforma, do escritor Michel Houellebecq, foi o último romance que li no ano que findou.
Confesso que me não me fez muito bem, mas reconheço que o olhar de Houellebeq sobre o nosso Ocidente é honesto. E implacável.
Neste livro, há também muito sexo, como não poderia deixar de ser, mas o efeito é mais o de anestesiar o leitor. E aquilo que Houellebecq vê como a celebração da vida, o amor que é união entre dois corpos, acaba por não escapar a uma certa banalização.
Por ora, destaco apenas esta entrevista a um sítio brasileiro:
Em “Extensão do Domínio da Luta”, por exemplo, você parece apoiar-se em Pierre Bourdieu ao considerar a sexualidade como “um sistema de hierarquia social”, assim como na idéia de que cada possui um capital sexual. O sexo é um fator de desigualdade social?
Houellebecq: As hierarquias sociais de que falo são absolutamente naturais. A sociedade não as criou. Ao contrário, no passado, chegou a suavizá-las através de certos mecanismos culturais. Atualmente, só consegue atenuá-las através do dinheiro. Um ser humano velho, feio e rico pode, contrariando a hierarquia natural, desfrutar de magníficas prostitutas, de sexo masculino ou feminino, o que é maravilhoso. Basta pagar. Em certo sentido, isso é muito bom e pode ser visto como uma humanização do sexo.
“Plataforma” foi lançado pouco antes do 11 de setembro de 2001. Nesse romance, você ataca violentamente o islamismo e encerra com um atentado perpetrado por muçulmanos fanáticos. A tragédia nos Estados Unidos ajudou a vender o livro, numa espécie de marketing sangrento, ou aumentou a raiva dos seus inimigos?
Houellebecq: Isso só me trouxe problemas. Todo o mundo no Ocidente correu para dizer: “Não se deve confundir Bin Laden com o Islã. A jihad deve ser entendida num sentido espiritual, não de guerra santa real. O diálogo entre as religiões do livro prossegue...”. E outras coisas desse gênero. Em resumo, o politicamente correto funcionou a mil, com força total e conseqüências nada agradáveis para mim. Fizeram-me passar por um desses seres primários que confundem as coisas, como se eu tivesse reduzido todo o islamismo à figura de Bin Laden. Virei inimigo dos muçulmanos e um troglodita incapaz de compreender a complexidade dos fenômenos sociais e religiosos.
Michel Houellebecq, em entrevista ao Trópico.
Confesso que me não me fez muito bem, mas reconheço que o olhar de Houellebeq sobre o nosso Ocidente é honesto. E implacável.
Neste livro, há também muito sexo, como não poderia deixar de ser, mas o efeito é mais o de anestesiar o leitor. E aquilo que Houellebecq vê como a celebração da vida, o amor que é união entre dois corpos, acaba por não escapar a uma certa banalização.
Por ora, destaco apenas esta entrevista a um sítio brasileiro:
Em “Extensão do Domínio da Luta”, por exemplo, você parece apoiar-se em Pierre Bourdieu ao considerar a sexualidade como “um sistema de hierarquia social”, assim como na idéia de que cada possui um capital sexual. O sexo é um fator de desigualdade social?
Houellebecq: As hierarquias sociais de que falo são absolutamente naturais. A sociedade não as criou. Ao contrário, no passado, chegou a suavizá-las através de certos mecanismos culturais. Atualmente, só consegue atenuá-las através do dinheiro. Um ser humano velho, feio e rico pode, contrariando a hierarquia natural, desfrutar de magníficas prostitutas, de sexo masculino ou feminino, o que é maravilhoso. Basta pagar. Em certo sentido, isso é muito bom e pode ser visto como uma humanização do sexo.
“Plataforma” foi lançado pouco antes do 11 de setembro de 2001. Nesse romance, você ataca violentamente o islamismo e encerra com um atentado perpetrado por muçulmanos fanáticos. A tragédia nos Estados Unidos ajudou a vender o livro, numa espécie de marketing sangrento, ou aumentou a raiva dos seus inimigos?
Houellebecq: Isso só me trouxe problemas. Todo o mundo no Ocidente correu para dizer: “Não se deve confundir Bin Laden com o Islã. A jihad deve ser entendida num sentido espiritual, não de guerra santa real. O diálogo entre as religiões do livro prossegue...”. E outras coisas desse gênero. Em resumo, o politicamente correto funcionou a mil, com força total e conseqüências nada agradáveis para mim. Fizeram-me passar por um desses seres primários que confundem as coisas, como se eu tivesse reduzido todo o islamismo à figura de Bin Laden. Virei inimigo dos muçulmanos e um troglodita incapaz de compreender a complexidade dos fenômenos sociais e religiosos.
Michel Houellebecq, em entrevista ao Trópico.