quarta-feira, março 28, 2007

Grandes Portugueses e o espectro do fascismo

Eu confesso não ter acompanhado o concurso dos Grandes Portugueses e a “eleição” do defunto Oliveira Salazar, embora não tenha dispensado um olhar, via You Tube, pelas invectivas da comunista Odete Santos, de quem se pode dizer que com inimigos destes o fascismo doméstico nem precisa de amigos.
Não sou dos que não retiram significado daquela votação, que mesmo afastado o espectro da ressurreição do ditador não nos deve alhear de alguns males que afectam a democracia; entre estes, eu elegeria a corrupção, que tem sido a gangrena do regime, e as sombras que se projectam sobre a nossa economia, ameaçada de estagnação.
Contudo, é possível que o fascismo (se considerado à maneira de um “tipo ideal” weberiano, pode perfeitamente incluir o caso português, que como os outros teve as sua especificidades, integrando na sua síntese ideológica elementos da realidade local, da tradição e da história) volte a ter expressão entre nós, constituindo-se como ameaça ao regime democrático; e o mesmo pode suceder noutras geografias europeias. Esta ideologia nascida nos alvores do século XX está muito longe de ter sido despejada para o caixote de lixo da História, pode ressurgir sob novas formas.
O historiador das ideias Zeev Sternhell, uma das maiores autoridades no estudo do fascismo, lembra-nos que:

“A happy society does not just hatch fascism, which builds its ascension on simple solutions for complex problems. A rising unemployment rate certainly favours fascism more that democracy. Democracy is the luxury of happy societies. A society that considers itself a victim of economic disaster tends more to accept simple solutions, accusing democracy of all evils and calling in a strong-man to fix things. ... In Eastern countries, authoritarian regimes can develop easily. It is more difficult in the West, but never impossible. I believe that the fascist disaster in Europe was not a problem that arose solely from historical contingency, but rather something emanating from a fundamental problem of culture and identity. And these problems have not gone away."

Nesta mesma entrevista (Anticapitaliste et Liberal), ele também nos diz outras coisas interessantes:

Pour éradiquer le fascisme définitivement, ne faudrait-il pas s'attaquer au concept de l'identité nationale?

N'oublions pas que le fascisme a une vision organique de la nation tout en acceptant les préceptes de l'économie libérale. Vouloir préserver une identité nationale n'est pas du fascisme en soi, aussi longtemps que le système politique dans lequel on opère est un système de démocratie libérale. A condition que les règles du jeu démocratiques soient préservées, le basculement est évité. Par règles du jeu démocratiques je n'entends pas seulement le droit de mettre un bulletin dans une urne tous les cinq ans, mais le respect absolu des droits de l'homme. De là vient la situation ambigue que l'on retrouve un peu partout en Europe occidentale: on est conscient que la démocratie libérale c'est les droits de l'homme, mais d'autre part on se pose des questions sur le statut de l'homme. Est-ce un individu ou le membre d'une communauté nationale et culturelle? Et c'est dans ce décalage que vont naître, à mon avis, dans les dizaines d'années à venir des terribles basculements. Il faudra faire des choix qui ne seront jamais totalement compatibles entre eux.


P.S. A entrevista pode ser lida aqui.