"Na situação em que o país se encontra, o Presidente da República é talvez o mais forte ponto de arranque de um processo de reformas. Aquilo que eu acho que o prof. Cavaco Silva é capaz de concretizar é o projecto e a tarefa mais difíceis desde 1976. Mas isto apenas se ele aparecer já dizendo ao país quais são os pontos de bloqueio, sem receio de afirmar objectivamente quais são os receios e os tabus que o país conhece. E estou a falar, por exemplo, da dimensão do sector público, da dimensão do Estado, do número de funcionários públicos; estou a falar da gratuitidade das prestações sociais, da inflexibilidade da prestação social em matéria de despedimento, etc.. Estas reformas não são uma questão de esquerda ou direita, de partidos ou de governo. São balizas para a actuação de um governo e ele deve dizer já o que pensa destas matérias. "
"Apresentando-se desta forma ao país, o Presidente deixa de estar às quintas-feiras a receber o primeiro-ministro para comentar a situação do país e passa a estar às quintas-feiras a receber o PM para julgar em que medida o Governo está ou não a cumprir as directrizes. Enquanto estes pontos forem respeitados na livre decisão do Governo, tudo bem. Quando qualquer destes pontos for tocado, o Governo terminou nesse dia. Com ou sem maioria. "
Morais Sarmento ao Diário Económico, 19 de Outubro de 2005.
Aqueles que ontem criticavam o Presidente da República por ter posto fim a um ciclo de estabilidade ancorado numa sólida maioria parlamentar, vêm hoje defender a sujeição dos governos a uma agenda presidencial, sob pena de estes verem cessar os seus mandatos.
Eis o presidencialismo em todo o seu vigor e, pelos vistos, nem é preciso rever a constituição.