sexta-feira, setembro 29, 2006

A nossa competitividade

De acordo com o relatório do World Economic Fórum, Portugal desceu da 31ª posição para a 34.ª (4,60 de pontuação), perdendo três lugares. Dois países da Europa do Leste, a República Checa e a Estónia, estão agora a nossa frente.
O índice global de competitividade é o resultado da combinação de múltiplos factores ou variáveis, entendem os investigadores não haver uma causa primeira, que determine o maior ou menor grau de competitividade de um país.
Foram definidos nove “pilares” a partir dos quais se constroem o índice em causa; entre parêntesis o posicionamento e pontuação de Portugal em cada um dos factosres:

• Institutions (28; 4.83)

• Infrastructure (26; 4.93)

• Macroeconomy (80; 4.23)

• Health and primary education (16; 6.88)

• Higher education and training (37; 4.63)

• Market efficiency (38; 4.61)

• Technological readiness (37; 4.18)

• Business sophistication (43; 4.47)

• Innovation (32 ;3.81)


Grassa na blogosfera lusa um debate sobre se a nossa queda se deve ao desempenho de um Estado castrador da livre iniciativa ou ao mau comportamento das empresas; contam-se as espingardas em defesa das respectivas damas (para empregar um registo mais ou menos romântico).
Sobre o Estado, verificamos a sua influência (positiva) ao nível dos factores Institutions, Infrastrutures e Health and primary education, onde obtivemos pontuações bem acima da nossa classificação final. Resumidamente, um ambiente institucional favorável aos negócios ou ao investimento até parece existir, regras mais ou menos claras regulam a interacção entre os governos e os agentes económicos, o sistema judicial desfruta de independência, os juízes são vistos como sendo imparciais e os direitos de propriedade são protegidos. (Instituitions); o desenvolvimento das infra-estruturas de transportes e de distribuição de energia é vital para o crescimento da economia e o florescimento dos negócios em geral, e tem sido, no nosso país, fruto da acção do Estado. Por fim, a educação primária e a extensão dos cuidados de saúde, onde o Portugal obtém o seu melhor resultado, é fruto também do longo braço do Estado; a título de exemplo, o controlo das doenças infecto-contagiosas e uma taxa de mortalidade infantil que é das mais baixas do mundo.
Vamos agora aos pecados do Estado, traduzidos no lugar que ocupamos (80.º) no item relativo ao ambiente macroeconómico. O resultado aqui obtido exprime males há muito debatidos, a saber, o deficit das contas públicas, o peso da dívida pública no PIB e a excessiva rigidez do sistema fiscal.
Também a educação secundária e superior e a formação profissional não nos deixam bem colocados, quando comparados com um país de leste como a Polónia (ocupamos a 37ª posição, quatro lugares abaixo dos polacos). Neste domínio, as ineficiências são largamente da responsabilidade do Estado, embora os privados também tenham a sua quota-parte (muito em particular na formação profissional).
Em relação às empresas, a nossa prestação não é de facto muito famosa, é reflexo da persistência de arcaísmos vários no tecido empresarial. Assim, ao nível da sofisticação dos negócios, um país como a República Checa, que nem ainda duas décadas de pós-comunismo leva, ocupa a 29.ª posição, enquanto nós caímos para uma modesta 43.ª). Ora, no estádio de desenvolvimento em que nos encontramos (fase 3- as countries move into the innovation-driven stage, they are only able to sustain higher wages and the associated standard of living if their businesses are able to compete with new and unique products. At this stage, companies must compete through innovation,producing new and different goods using the most sophisticated production processes), só através da inovação e da sofisticação dos negócios pode a nossa economia crescer.
Neste estado de coisas, há pois responsabilidade dos nossos empresários, apesar da arrogância com que muitas vezes falam, passando as culpas para o Estado, que como bem sabemos tem as costa largas.


"business sophistication of an economy’s enterprises.This
is particularly important for productivity at the top end of
the global value chain, and is measured by the quantity
and quality of local suppliers, well-developed production
processes, and the extent to which companies in a country
are turning out the most sophisticated products."