World Trade Center
Depois do World Trade Center, entrei no carro e liguei o motor. No leitor de cd, uma música dos Joan of Arc com o refrão "God bless America" a ecoar incessantemente, num registo provavelmente irónico, atendendo às idiossincrasias do mentor (Tim Kinsella) desta banda da cena indy americana. Mas, para mim, não deixou de fazer um sentido quase literal, confrontado com o olhar de Oliver Stone sobre a tragédia que se abateu sobre Nova Iorque naquela manhã de Setembro.
Do filme, retenho a força das imagens que espelham a destruição do ground zero e o heroísmo da gente simples; polícias e bombeiros, em particular.
É, sem dúvida alguma, um registo patriótico. E muito eficaz. Alguém tinha de fazer um filme assim, que falasse de união num tempo em que a América se confronta com feridas profundas, divisões exacerbadas pelos erros da Administração Bush; em Guantánamo e no Iraque. Stone quis lembrar o 11 de Setembro como acontecimento que uniu os americanos, não quis falar das vicissitudes da política externa nem da ofensiva contra os direitos e garantias dos cidadãos (Acto Patriótico). É porém irónico que tenha sido um liberal (no sentido que esta expressão assume no espectro político americano, conotada que está com a extrema esquerda) a fazê-lo. Foi por isso bem acolhido na América vermelha (conservadora e republicana), que não deixou certamente de se rever no marine que encarava o resgate de vidas humanas como uma missão de que estava investido por Deus. E que acabará por fazer duas comissões no Iraque.
O elemento religioso é presença importante no filme, como se Stone quisesse, por via dele, melhor expressar o sentimento destes americanos diante do acontecimento trágico e ininteligível. Nem sempre de forma convincente (o que dizer da aparição de Cristo em sonhos?), por vezes pareceu-me que não lidou bem com a transcendência.
O recurso aos flashbacks, para ilustrar fragmentos da vida familiar das personagens presas nos escombros do Worl Trade Center, também me pareceu destituído de eficácia, sem a força que encontramos por exemplo em Malick (The Thin Red Line).