Sim!
A vitória do Sim à despenalização da interrupção voluntária gravidez até as dez semanas põe Portugal em sintonia com a imensa maioria dos países da nossa Europa. Pelo menos neste campo, não seremos mais a excepção. Abriu-se um espaço à livre decisão da mulher, a lei penal deixará doravante de se impor à sua esfera privada. Dissipar-se-á o medo, talvez o efeito mais imediato de ontem à noite. Isto representa, sem dúvida, um ganho civilizacional.
Se o resultado do referendo não foi vinculativo, o seu significada político é porém inequívoco, atendendo à expressiva vitória do Sim (uma diferença de quase vinte pontos percentuais em relação à votação obtida pelo Não) e ao reforço da participação eleitoral, que tem que se dar como boa. Aliás, fosse expurgada a abstenção técnica (estimada entre 5 a 7% da abstenção total), e obteríamos um resultado muito perto de ser vinculativo.
Beja e Setúbal foram os distritos onde a votação do Sim foi mais expressiva, acima des 80%. O Porto inverteu o sentido de voto de há nove anos (o Sim também saiu vencedor aqui). Minho e interior Norte votaram pelo Não. A descida dos valores abstenção em Lisboa e no Sul em geral fizeram a diferença na noite de ontem.
Está assim aberto o caminho a uma lei mais humana e socialmente mais justa.
P.S. Arrisco a tese de que a última cartada de marques Mendes, o celebre “crime sem pena” teve o feito contrário ao pretendido, acabando por confundir ou desmobilizar alguns partidários do Não.