O Sobressalto da Ministra
As televisões e os jornais noticiaram o sobressalto da ministra Maria de Lurdes Rodrigues com a violência de que têm sido vítimas os professores.
A violência nas escolas é consequência de um estado larvar de indisciplina que não é de hoje, e a posição da ministra encerra de facto uma mudança, num ministério da Educação onde há muito imperava o mutismo sobre esta matéria. É por isso de louvar a nova atitude da ministra.
Ao estado a que chegámos, a fazer eco nos media e no número crescente de relatos de docentes, seria assaz injusto imputar responsabilidade maior a esta ministra, mas não nos podemos esquecer da campanha que fez dos professores bodes expiatórios dos problemas que assolam o ensino e os pôs assim à mercê da fúria das famílias e da sociedade em geral. Ora, isso contribuiu para a erosão da autoridade e do prestígio social do professor, cuja consequência primeira é o aumento da indisciplina, que por vezes desemboca na violência de alunos e pais. Em suma, não sendo a principal responsável (não é possível alhearmo-nos dos sucessivos governos que, à esquerda e à direita, blindaram o estatuto do aluno e retiraram poder de intervenção ao professor), Maria de Lurdes Rodrigues deu também o seu contributo (certamente que involuntário) para o actual estado de coisas.
Para fazer recuar o fenómeno da violência escolar, creio que importa, em primeiro lugar, voltar a definir a relação professor/aluno como uma relação de poder (como aliás bem disse a ministra), necessariamente assimétrica.
Devolver espaço de actuação ao professor e aos conselhos executivos das escolas (em muitos casos, estes são dominados por aparatchiks do governo, a mais das vezes interessados apenas no recalcamento dos problemas, enquanto esperam pela recompensa, traduzida na passagem para o conforto de um qualquer gabinete burocrático da 5 de Outubro...) poderá ser um primeiro passo. Mas muito mais há a fazer, desde logo começando pela redução do universo concentracionário do ministério da Educação, daquela intrincada teia burocrática que faz diferir no tempo a aplicação das sanções, assim esvaziadas de sentido. A simplificação do processo de aplicação de sanções, ou seja, reconhecido como efectivo pelo alunos, é uma questão de bom senso (não são precisas comissões de estudo para o aferir), não devendo ser confundida com qualquer espécie de autoritarismo ou poder absoluto do professor, que ninguém quer (penso eu) o regresso ao tempo da “outra senhora”. É bom lembrar que o exercício da liberdade pressupõe direitos, mas também deveres, e o uso da autoridade até pode ajudar.
A violência nas escolas é consequência de um estado larvar de indisciplina que não é de hoje, e a posição da ministra encerra de facto uma mudança, num ministério da Educação onde há muito imperava o mutismo sobre esta matéria. É por isso de louvar a nova atitude da ministra.
Ao estado a que chegámos, a fazer eco nos media e no número crescente de relatos de docentes, seria assaz injusto imputar responsabilidade maior a esta ministra, mas não nos podemos esquecer da campanha que fez dos professores bodes expiatórios dos problemas que assolam o ensino e os pôs assim à mercê da fúria das famílias e da sociedade em geral. Ora, isso contribuiu para a erosão da autoridade e do prestígio social do professor, cuja consequência primeira é o aumento da indisciplina, que por vezes desemboca na violência de alunos e pais. Em suma, não sendo a principal responsável (não é possível alhearmo-nos dos sucessivos governos que, à esquerda e à direita, blindaram o estatuto do aluno e retiraram poder de intervenção ao professor), Maria de Lurdes Rodrigues deu também o seu contributo (certamente que involuntário) para o actual estado de coisas.
Para fazer recuar o fenómeno da violência escolar, creio que importa, em primeiro lugar, voltar a definir a relação professor/aluno como uma relação de poder (como aliás bem disse a ministra), necessariamente assimétrica.
Devolver espaço de actuação ao professor e aos conselhos executivos das escolas (em muitos casos, estes são dominados por aparatchiks do governo, a mais das vezes interessados apenas no recalcamento dos problemas, enquanto esperam pela recompensa, traduzida na passagem para o conforto de um qualquer gabinete burocrático da 5 de Outubro...) poderá ser um primeiro passo. Mas muito mais há a fazer, desde logo começando pela redução do universo concentracionário do ministério da Educação, daquela intrincada teia burocrática que faz diferir no tempo a aplicação das sanções, assim esvaziadas de sentido. A simplificação do processo de aplicação de sanções, ou seja, reconhecido como efectivo pelo alunos, é uma questão de bom senso (não são precisas comissões de estudo para o aferir), não devendo ser confundida com qualquer espécie de autoritarismo ou poder absoluto do professor, que ninguém quer (penso eu) o regresso ao tempo da “outra senhora”. É bom lembrar que o exercício da liberdade pressupõe direitos, mas também deveres, e o uso da autoridade até pode ajudar.