terça-feira, outubro 02, 2007

Menezes e o populismo

Sobre o populismo e as directas nos grandes partidos do sistema político.
Luís Filipe Menezes venceu as directas para liderança do Partido Social Democrata, o que parece ter surpreendido muita gente. Das elites políticas aos analistas da comunicação, sem esquecer híbridos como o prof Marcelo, todos falam da vitória do populismo, como se este fenómeno fosse estranho ao tecido da sociedade de massas.
O populismo encontra terreno fértil numa democracia cada vez mais alicerçada nas modernas formas comunicacionais (dos vários suportes à disposição dos indivíduos no mundo imaterial da Internet ao reino das votações em directo banalizadas pelas televisões do mercado), que causaram a erosão das instâncias de mediação ou dos mecanismos tradicionais de representação. Poder-se-ia pensar que o advento das formas directas de participação e tomada de decisão nos assuntos da polis seria inequivocamente positivo, porque gerador de mais de democracia: a vida interna dos partidos seria mais transparente, o debate mais rico e aberto. No entanto, algumas experiências passadas dizem-nos que esta história pode não ter um final feliz. Atente-se nas palavras de Fareed Zakaria, no livro O Futuro da Liberdade – A Democracia iliberal nos Estados Unidos e no Mundo, sobre o impacto das primárias (grosso modo, a eleição dos candidatos dos partidos pelos eleitores, e já não apenas pelos notáveis ou militantes de base):

Hoje, os partidos políticos não têm peso real na América. No decurso da última geração, tornaram-se tão abertos e descentralizados que ninguém os controla mais. As máquinas, as organizações, os chefes, os militantes e os líderes do partido, tudo isso deixou de ter importância. Na melhor das hipóteses, o partido representa, para um candidato telegénico, um meio de recolha de fundos. Se ele é popular e ganha a nomeação, o partido dá-lhe apoio. E por essa via o candidato beneficiará de mais algum apoio logístico e de uma nova lista de potenciais financiadores. De facto, os candidatos às primárias acharam útil, no passado, concorrer contra o establishment do partido. Essa postura dava frescura à campanha, como a de um David contra Golias, e foi esse o caminho de George McGovern, Jimmy Carter ou Ronald Reagan. Hoje, essa estratégia é mais difícil porque já não há establishment contra quem se candidatar. Quem representava o establishment em 1992? Bill Clinton, Bob Kerry ou Paul Tsongas? Nenhum dos três. O sucesso de George W. Bush não consistiu em ser candidato do establishment, mas de ser candidato da sua família. Bush tinha duas coisas que são necessárias num sistema sem partidos – um nome conhecido e uma máquina de financiamento. Quem tiver as duas, tenha ou não experiência política, tem agora uma enormíssima vantagem. Esta é a razão pela qual, neste novo sistema porventura mais «democrático», se tem visto mais dinastias políticas, mais celebridades oficiais e mais políticos bilionários do que era habitual. Isto é apenas o começo. À medida que o declínio dos partidos políticos se acentuar, a riqueza e a celebridade tornar-se-ão argumentos de peso para alguém fazer-se eleger.

O partido político é hoje um recipiente vazio à espera de ser cheio com um líder popular