És impenitente mas do tipo "Distraidus Maximus"
Caro Marvão,
Eu sei que, numa nova época posterior à tua tentativa de angariar por ti próprio o capital para investir na tua casa de burguês estabelecido nos confortos do capitalismo consumista, te dirigiste à recém criada (à data, tinha dias tal invenção) instituição bancária.
Fizeste-o, se bem me lembro, intrigado com o que lá levaria os teus vizinhos (os mesmos que à última hora tinha precisado do seu dinheiro para comprar aquecedores; maldito Arrefecimento Global). No dia em que lá te resolveste finalmente a ir visitar essa instituição, descobriste algo que não suspeitavas: que os teus vizinhos lá deixavam parte dos seus rendimentos (porque não precisavam comprar mais aquecedores e os frigoríficos ainda se aguentavam).
Sendo o gajo afável que toda a gente conhece, meteste, de imediato, conversa com um senhor de gravata colorida que lá trabalhava (vulgo proletário-executivo-bancário). Explicou-te o teu novel conhecido que a troco de um preço (ensinou-te então uma palavra nova: juro) os teus vizinhos estavam dispostos a que o banco fornecesse parte desses rendimentos lá depositados a quem se comprometesse a devolvê-lo nem que fosse de forma faseada. Claro que por esta demora na devolução (que se estendia por décadas!) que o banco cobraria (lá estava a tal palavra nova!) um juro.
Então não te lembras que o proletário-executivo-bancário da gravata colorida até te explicou que por esse serviço de intermediação entre os teus vizinhos e os que recebiam essa parte dos depósitos (outra palavra nova: empréstimo), pelo tempo, preocupações e arrelias que poupava a quem o pedia (veio-te à memória todo o tempo que tinhas perdido de porta em porta, o emprego desaparecido e as Novas Oportunidades desperdiçadas em tempos anteriores à invenção da banca), cobravam uma diferença entre o juro que lhes entregarias e os que eles entregariam aos teus vizinhos?
Ainda recordo o teu ar de satisfação por tudo se ter tornado claro para ti: eram afinal os teus vizinhos que te emprestavam o dinheiro para a casa; só que ao invés das arrelias que tinhas tido antes, havia um proletário-executivo-bancário que em seu nome te o entregava, facilitando a vida a todos os envolvidos. Como nem tu entregas o teu tempo de forma gratuita à sociedade que diariamente ajudas na tua labuta, também o senhor proletário-executivo-bancário tinha de ser pago pelo seu patrão (esse miseráveis ratos do capitalismo). Era da tal diferença entre juros que o proletário-executivo-bancário recebia o dinheiro para as gravatas e assim fazia crescer o rendimento do senhor da loja das gravatas que fazia crescer o rendimento do talhante onde comprava os bifes, que fazia crescer o rendimento do sapateiro onde concertava os sapatos e que era (afinal!) um dos teus vizinhos.
Ah, como me lembro da tua alegria ao compreenderes que tudo estava ligado e que o proletário-executivo-bancário tanto tinha facilitado a vida de tanta gente!
Eu sei que, numa nova época posterior à tua tentativa de angariar por ti próprio o capital para investir na tua casa de burguês estabelecido nos confortos do capitalismo consumista, te dirigiste à recém criada (à data, tinha dias tal invenção) instituição bancária.
Fizeste-o, se bem me lembro, intrigado com o que lá levaria os teus vizinhos (os mesmos que à última hora tinha precisado do seu dinheiro para comprar aquecedores; maldito Arrefecimento Global). No dia em que lá te resolveste finalmente a ir visitar essa instituição, descobriste algo que não suspeitavas: que os teus vizinhos lá deixavam parte dos seus rendimentos (porque não precisavam comprar mais aquecedores e os frigoríficos ainda se aguentavam).
Sendo o gajo afável que toda a gente conhece, meteste, de imediato, conversa com um senhor de gravata colorida que lá trabalhava (vulgo proletário-executivo-bancário). Explicou-te o teu novel conhecido que a troco de um preço (ensinou-te então uma palavra nova: juro) os teus vizinhos estavam dispostos a que o banco fornecesse parte desses rendimentos lá depositados a quem se comprometesse a devolvê-lo nem que fosse de forma faseada. Claro que por esta demora na devolução (que se estendia por décadas!) que o banco cobraria (lá estava a tal palavra nova!) um juro.
Então não te lembras que o proletário-executivo-bancário da gravata colorida até te explicou que por esse serviço de intermediação entre os teus vizinhos e os que recebiam essa parte dos depósitos (outra palavra nova: empréstimo), pelo tempo, preocupações e arrelias que poupava a quem o pedia (veio-te à memória todo o tempo que tinhas perdido de porta em porta, o emprego desaparecido e as Novas Oportunidades desperdiçadas em tempos anteriores à invenção da banca), cobravam uma diferença entre o juro que lhes entregarias e os que eles entregariam aos teus vizinhos?
Ainda recordo o teu ar de satisfação por tudo se ter tornado claro para ti: eram afinal os teus vizinhos que te emprestavam o dinheiro para a casa; só que ao invés das arrelias que tinhas tido antes, havia um proletário-executivo-bancário que em seu nome te o entregava, facilitando a vida a todos os envolvidos. Como nem tu entregas o teu tempo de forma gratuita à sociedade que diariamente ajudas na tua labuta, também o senhor proletário-executivo-bancário tinha de ser pago pelo seu patrão (esse miseráveis ratos do capitalismo). Era da tal diferença entre juros que o proletário-executivo-bancário recebia o dinheiro para as gravatas e assim fazia crescer o rendimento do senhor da loja das gravatas que fazia crescer o rendimento do talhante onde comprava os bifes, que fazia crescer o rendimento do sapateiro onde concertava os sapatos e que era (afinal!) um dos teus vizinhos.
Ah, como me lembro da tua alegria ao compreenderes que tudo estava ligado e que o proletário-executivo-bancário tanto tinha facilitado a vida de tanta gente!