quinta-feira, novembro 12, 2009

Daquilo com que não se compram melões

Um amigo referia-se, há uns tempos, ao dinheiro como “aquilo com que se compram melões”. Todos os dias, proletário suburbano que sou, vou para o meu local de trabalho à procura de justificar a continuidade dos meus rendimentos, para que não faltem melões lá em casa.
Trabalho integrado numa estrutura hierárquica em tudo semelhante à da maioria das organizações empresariais de maior dimensão. Tal como em muitas, na hora de tomar decisões, há quem mande e há quem obedeça, há quem planeia e quem executa. Tal como na maioria das organizações, há regras que vão do “dress code” até às chamadas “due diligences” para, por exemplo, contratar fornecedores.
Quem planeia e executa são Homens, com todos os defeitos e qualidades da condição humana. A rede que une estas pessoas baseia-se na confiança mútua, no respeito entre todos e no respeito pelas regras de todos conhecidas (internas ou da Lei geral).
Quem participa nesta rede de tem de actuar com responsabilidade. Individual, sem dúvida. Antes de alguém ser integrado numa destas organizações, faz-se o possível para obter referências que permitam antever se se comportará com a necessária responsabilidade face às tarefas que lhe venham a ser atribuídas. É a soma destes comportamentos individuais, balizados pelas regras de conduta que se afirmaram ao longo dos anos como as que melhor servem a organização, que a ajudarão (também) a posicionar-se para actuar em mercados competitivos.

Introduzo aqui outra palavra: honra.
O respeito por regras de Bem e o reconhecimento do Mal aprende-se ao longo da nossa infância e adolescência entre aqueles a quem mais nada obriga que o sentimento de amor e protecção, recorrendo aos costumes que se provou serem os que melhores avançavam o sucesso dos membros de uma civilização.

Para mim, responsabilidade e honra dificilmente devem ser separadas. Encontrá-las juntas deveria ser natural e expectável num profissional competente. Deveriam ser constantes na atitude que cada indivíduo tem perante a sua actuação em todos os caminhos da vida, no que a si mesmo diz respeito e à sua família. Esta última é para mim a fonte primária onde ambas são adquiridas. Ambos os conceitos ficam assim ligados ao nome que cada um de nós carrega. O meu comportamento ao longo da minha vida é testemunha dos meus pais, irmãos, avós… Não sendo eu crente, ainda assim tenho que o quarto mandamento é bem importante. Não esqueço, de modo algum, a influência de amigos, da escola, de todos os demais que connosco se cruzam, mas tenho a família como a grande definidora do carácter de cada indivíduo. Por outro lado sou um profundo crente do livre-arbítrio, na capacidade que cada um tem de decidir por si e actuar em seguida. Como decide e como actuará, não podem deixar de ser formatadas pelos valores que formaram cada ser humano.

Em suma, parece-me importante valorizar alguns conceitos que a passagem dos tempos parece empurrar para o esquecimento. As consequências do abandono destes valores não deixariam de ser negativas não só para quem os esquece como para aqueles que com eles lidam; seja numa empresa (para os colegas e accionistas), seja na rede familiar e de relações pessoais em que cada Homem participa.

Já colocado no Insurgente.