sexta-feira, outubro 21, 2005

Presidencialismo

Mais uma voz pela presidencialização do regime, desta vez saída do espectro da esquerda.
O sociólogo Villaverde Cabral, citado pelo Público de ontem, veio a terreiro defender o reforço dos poderes do Presidente, face ao esgotamento da “capacidade de regeneração do sistema partidário”.
Gaullização é palavra que aquele reputado especialista não enjeita, para quem o Presidente deve intervir de forma mais “directa e activa” nos problemas da governação (participando por exemplo no Conselho de Ministros), para assim justificar a sua eleição por sufrágio directo e universal.
Poder-se-ia pensar que Cabral defende uma revisão constitucional que consagre o reforço dos poderes presidenciais. Mas não: basta tão-só uma interpretação mais vigorosa dos poderes que lhe são consagrados pela Constituição da República. E ninguém melhor do que Cavaco para encarnar essa mutação : “Se alguém tem neste momento em Portugal um capital que possa investir numa orientação deste tipo esse alguém é Cavaco”. Se a reforma do exercício dos poderes presidenciais é, para Villaverde, essencial “à refundação da democracia”, então o prof. Cavaco Silva é o homem providencial neste tempo de crise. E procura espantar os medos que à esquerda existem a respeito de “tão autoritária figura” : “A esquerda tem medo de Cavaco. Mas tem medo de quê? As políticas do eng. Sócrates são muito mais à direita do que jamais o prof. Cavaco e Silva protagonizou. A esquerda tem medo de quê? Da ditadura? O prof. Cavaco e Silva não tem estatuto para se armar em ditador!”.
Depois disto, só não se percebe por que razão Villaverde Cabral não apoia Cavaco (disse não apoiar nenhum dos candidatos).