quarta-feira, março 07, 2007

Jean Baudrillard



















Jean Baudrillard (1929-2007).
Os indígenas da Melanésia sentiam-se maravilhados com os aviões que passavam no céu. Mas, tais objectos nunca desciam até eles. Só os Brancos conseguiam apanhá-los. A razão estava em que estes possuíam no solo, em certos espaços, objectos semelhantes que atraíam os aviões que voavam. Os indígenas lançaram-se então a construir um simulacro de avião com ramos e lianas, delimitaram um espaço que iluminavam de noite e puseram-se pacientemente à espera que os verdadeiros aviões ali viessem aterrar.

Da mesma maneira que a sociedade da Idade Média se equilibrava em Deus E no Diabo, assim a nossa se equilibra no consumo E na sua denúncia. Em torno do Diabo, era ainda possível organizar heresias e seitas de magia negra. Mas, a magia que temos é branca, e não é possível qualquer heresia na abundância. É a alvura prolifáctica de uma sociedade saturada, de uma sociedade sem vertigem e sem história, sem outro mito além de si mesma.

É neste sentido que o consumo é lúdico e que o lúdico do consumo se tornou progressivamente o lugar do trágico da identidade.

Ou ainda: ao forçar os jovens à Revolta («jovens - revolta»), matam-se dois coelhos de uma cajadada: conjura-se a revolta difundida por toda a sociedade adescrevendo-a a uma categoria particular, e neutraliza-se esta categoria circunscrevendo-a a uma fusão específica: a revolta.

in A Sociedade de Consumo.