Em jeito mordaz e caricatural, esta plausível dialéctica envolvendo um bloquista meio hippie e um mui salazarento liberal:
Para se distrair da tentadora sobremesa, o doutor Teles e Melo decidiu brindar a anfitriã com os merecidos elogios.
- Ah, estimada Sr.ª Barbedo e Silva, o manjar que nos ofereceu é uma raridade desde os tempos de abundância do Estado Novo!
A sr.ª Barbedo e Silva corou de prazer e ia exprimir um delicado agradecimento, quando um indivíduo se antecipou.
- Abundância do Estado Novo? Está a brincar, não?
O doutor Teles e Melo pousou o olhar no impertinente. Deveria ter uns trinta e tal anos, sem gravata, alguns dos cabelos espetados. Gedelhudo do BE, percebeu imediatamente o doutor Teles e Melo. O trotskista insistiu.
- Só se está a falar da família Patiño e do Ballet Rose…
E riu alarvemente.
O doutor Teles e Melo passou a mão pelo queixo.
- Estou a falar completamente a sério, caro… senhor. O Estado Novo foi responsável pela maior fase de prosperidade deste país dos últimos 300 anos.
O “hippie” estava pasmo.
- Não me diga que o senhor…
- Doutor - corrigiu o doutor Teles e Melo.
- Como?
- Doutor.
- Doutor?
- Doutor.
O indivíduo pareceu engasgar-se com uma gargalhada contida.
- O sôtor é admirador do Salazar?
O doutor Teles e Melo enrubesceu com a deturpação do título. Mas conseguiu manter a conversa.
- Nada disso. Sou um liberal! Mas há que reconhecer o grande desenvolvimento que o Estado Novo deu ao país.
Por Jorge Palinhos, 5dias.net