sábado, janeiro 30, 2010

A díficil arte de ser humano

Não sou grande fã de trabalhar.
A sério.
Normalmente, quando faço este disclaimer "a sério" é que ninguém me leva. No entanto é verdade.
Proletário suburbano que sou lá tenho de me levantar pelos clarões da madrugada, voltar pelo breu da noite, para ganhar a vida e pagar impostos.
Em tudo o que faço, exijo de mim mais do que qualquer outra pessoa espera de mim. Sempre fui o meu maior crítico e o meu maior apoiante. Sempre estive lá para mim, para me puxar para cima e para me puxar as orelhas.
No trabalho também. Não gosto de trabalhar (a sério!), mas qualquer trabalho é para ser feito o melhor possível, sem desculpas; honrar o nome da minha gente, sempre. Qualquer trabalho, não sou esquisito.
Ontem, descobri que fui nomeado para um prémio a ser votado pelos colegas da "repartição".
"Trusted", they say. They trust me, my suggestions and contributions are highly valued by the team, they say. High standards, they say.
Pois.
Na volta para casa, dei comigo a pensar se alguém mais, quantos mais, estariam a pensar que mereciam receber a nomeação (e o prémio). Eu sei, assim de cor, de meia dúzia que o merecia mais que eu. People I trust for advise and people I look for suggestions and contributions.
Não percebem?
É-me igual. Com nomeação ou sem nomeação, encolho os ombros e na segunda-feira este proletário volta para a "repartição" e volta a dar o litro como sempre fez toda a vida. Não dá para ser de outra forma.
Trust me.

Não que interesse a alguém...

...mas eu ainda ando por aí.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Ethan Rose - Música para o filme de Gus Van Sant - Paranoid Park

O Haiti

Para retomar algum contacto com o mundo dos blogues, aqui vão algumas linhas, breves linhas, sobre o Haiti.
Este país com mais de duzentos anos de existência, nascido de uma revolta de escravos que pôs fim ao jugo colonial dos franceses, foi assolado por uma catástrofe natural de proporções bíblicas.
Mas o devastador terramoto contou, também, com a incúria dos homens para deixar o seu rasto de destruição e morte. Se é verdade que um terramoto desta magnitude causaria sempre vítimas em qualquer lugar do nosso mundo, também não é menos verdade que o mau governo pode, involuntariamente, ampliar o rasto de destruição e morte. E o povo haitiano, que passou do colonialismo directamente para as malhas do neocolonialismo, nunca teve muita sorte com os seus sucessivos governantes. Basta lembrar o tristemente célebre “Papa Doc” Duvalier.
As catástrofes naturais, a destruição que causam, reflectem também a forma como as comunidades humanas se organizam. O Haiti é um país mergulhado na pobreza e na miséria. Sem saneamento básico. Sem sistema de saúde. Um estado falhado à sombra do amigo americano.
Uma nota final para as televisões e a sua cobertura da tragédia haitiana. Há quase um fervor doentio pela violência, as pilhagens, em suma, por tudo o que retrate o lado negro da natureza humana. Não nego o valor noticioso de tais factos. Mas a vida não é só isso, mesmo nos momentos mais sombrios (a tragédia natural, a guerra, o Holocausto) há exemplos de generosidade, de solidariedade. Sabemos por experiência histórica que é assim, mas essas estórias quase não aparecem ecrã. É por isso que cada vez menos vejo os telejornais.