quarta-feira, setembro 30, 2009

Um Presidente Fragilizado

A intervenção do Presidente não dissipou o clima de suspeita em torno do caso das (hipotéticas) escutas à Presidência da República por parte do Governo. Nunca se referindo a esta questão, Cavaco Silva não deixou porém de aludir às vulnerabilidades do sistema informático da Presidência, ou à possibilidade “de alguém do exterior entrar no seu mail”. Ou de dizer “como é aqueles Políticos (do Governo) sabiam dos passos dados por membros da Casa Civil da Presidência da República”.
Utilizou expressões extremamente duras para classificar a acção de membros do Governo, que procuraram “puxar o Presidente da República para a luta político-partidária” com o fito de “desviar o debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos”. Falou da tentativa de colagem do Presidente ao PSD, engendrada pelos propagandistas do Governo.
De tudo isto o que sobressai é que as relações entre Belém e São Bento são péssimas, o que não constitui propriamente uma novidade para os mais atentos. Mas o mau relacionamento entre a Presidência da República e o Governo não começou com a notícia dos assessores do Presidente que” tinham participado na elaboração do programa eleitoral do PSD”. Remonta ao Estatuto dos Açores.
Creio que o Presidente sai politicamente fragilizado de toda esta história. Não esclareceu a questão das escutas, antes preferindo refugiar-se num clima de ambiguidade feito de interrogações pouco próprias para quem está no exercício de tão importante cargo.
E se lhe assiste alguma razão quanto à forma como “o partido do Governo” utilizou o caso das escutas para desviar a campanha dos problemas que mais afligem os cidadãos, não se percebe por razão não interveio na altura própria. Ou seja, durante a campanha eleitoral, o tempo e o lugar indicados para melhor alertar os eleitores para os intentos dos arautos do Governo.

O conflito institucional está, pois, para lavar e durar. Tem a mão dos spin doctors do Governo e da Presidência da República, mas os primeiros parecem bem mais hábeis nestas guerras comunicacionais. Levam vantagem os do governo, talvez porque os spin doctors da Presidência sejam de um outro tempo. De um tempo pré-moderno.

segunda-feira, setembro 28, 2009

As Eleições em Setúbal (Concelho)

Nestas legislativas o PS voltou a ser força mais votada, recolhendo a preferência de 18.788 eleitores, em termos relativos, 32,08% dos votos expressos; perdeu 6913 votos em relação às eleições de 2005 (nesse ano, chegou à cifra dos 43%).
O PSD surge em segundo lugar, à semelhança do que tinha sucedido há quatro anos atrás. Progride quer em número de votos, quer em percentagem dos sufrágios: 11061 votos (18,89%); em 2005, alcançou 10.591 votos, em termos relativos, 17.77%.
Já a CDU atinge 9334 votos (15, 94%), mantendo a terceira posição, mas recuando quer em número de votantes, quer em percentagem, de acordo com o nosso referencial de comparação.
Subidas apreciáveis tiveram o Bloco e o CDS. O primeiro chegou aos 9088 votos (15,52), aproximando-se da CDU; o segundo atingiu mais de 11% dos votos, um resultado histórico aqui no Concelho, e mais um exemplo de como o partido de Paulo Portas penetrou no eleitorado urbano. Arrisco dizer que é talvez o melhor resultado de sempre obtido pelo CDS em Setúbal.
Neste olhar sobre Setúbal, deixo as extrapolações autárquicas para os outros.

P.S 1 - Gráfico das legislativas de 2009.
P.S.2 - Gráfico das legislativas de 2005.

Eleições, questões e factos

É um facto de que o Bloco e a CDU juntos representam mais de um milhão de votos. É, também, um facto que a maior concentração geográfica do eleitorado comunista fez com que a CDU conseguisse obter quase tantos deputados como o Bloco de Esquerda, que tem um eleitorado mais disperso pelo território nacional (BE- 16 deputados; CDU – 15); ainda que o partido de Francisco Louçã tenha obtido mais 110.935 votos do que os comunistas. Vicissitudes do sistema eleitoral.
Factos ainda, a perda de mais de quinhentos mil votos por parte do Partido Socialista e o crescimento do CDS nas zonas urbanas, com destaque para o círculo de Lisboa, onde foi a terceira força mais votada, à frente do Bloco e da CDU (também de destacar o resultado do partido de Portas no Porto, Coimbra e Setúbal). De onde vêm estes votos do CDS? Do PS? Ou dos novos eleitores? Aparentemente, não do PSD, cuja votação permanece mais ou menos constante em relação às eleições legislativas de 2005 (pela contagem actual, o PSD perde 7164 votos, mas falta ainda contabilizar os círculos da emigração).

Legislativas/Impressões

Se olharmos os resultados destas legislativas pelo prisma das eleições europeias de Junho, e com a crise mundial em pano de fundo, é indubitável que o PS teve um resultado positivo, pois recolheu o maior número de votos e de mandatos. Ficou, no entanto, muito aquém da maioria absoluta, perdendo à volta de duas dezenas de mandatos em relação às legislativas de 2005.
Inversamente, O PSD foi o grande derrotado desta noite eleitoral, com uma votação pouco acima da obtida há quatro anos, então considerada humilhante. O partido social-democrata e a sua líder, Manuela Ferreira Leite, não conseguiram capitalizar o bom resultado das europeias, nem o desgaste do governo de Sócrates.
Os que mais souberam captar o descontentamento do eleitorado foram o CDS, grande surpresa e em termos relativos o vencedor destas eleições, e o BE, que duplica o número de mandatos na assembleia, superando o meio milhão de votos. No entanto, o progresso eleitoral do bloco fica ensombrado pelo resultado do CDS: é o partido de Paulo Portas que, se associar os seus eleitos aos do PS, consegue formar a maioria absoluta de mandatos. Nesse sentido, a capacidade de o bloco influenciar a governação socialista sai diminuída. Além disso, a soma dos deputados do CDS e do PSD excede o número de mandatos socialistas na futura assembleia. Mérito da campanha de Paulo Portas. Mérito de um político que ilude as sondagens, não se deixando por elas escravizar.
Resta a CDU, que também avança (tem mais um deputado,um crescimento de mais de treze mil votos). Mas foi avanço tímido, em tempo de crise económica e de crescimento do desemprego. Por que razão progride tão pouco a CDU num contexto como este? Uma questão central para os comunistas.
Há uma maioria de esquerda na assembleia, mas muita crispação entre as formações políticas que se reclamam desse ideário. Desejável seria um governo de esquerda plural, mas o espectro é o de uma governação à Guterres.

domingo, setembro 27, 2009

Da Logística das eleições

Hoje de manhã, quando fui votar deparei com algumas coisas que não gostei.
Na mesa onde votei, houve alguma dificuldade em ler o meu nome e a registar o meu número, com os membros da mesa a repetirem-se, gerando alguma confusão.

Quando fui colocar o voto na urna, uma eleitora discutia com a mesa por o seu nome e número não constar nas listas e com a mesa a não dar resposta às suas dúvidas. A coisa estava a ser pouco digna e interpelei a mesa para que esclarecesse que instruções tinha num caso como esse. Finalmente indicaram à eleitora que enviasse um SMS para o número que lhe daria a resposta quanto ao seu local de voto. Entretant, já mais pessoas estavam dentro da saula de aula, junto à mesa.

Enfim, este processo de escolha dos membros das mesas leva a que possamos encontrar quem não tenha as capacidades intelectuais para desempenhar a função. É mais que altura de mudar este arcaísmo democrático.

Mais tarde, na Câmara Municipal de Setúbal, pude assistir ao esforço que muitos eleitores mais idosos faziam para aceder às suas mesas de voto, colocadas no 1ºandar, ao cimo da grande escadaria. Para mais, no rés do chão não haviam editais com as mesas de cada intervalo de número de eleitor.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Sondagens, jornalistas e sacanagem

Sempre cultivei uma dúvida metódica em relação às sondagens. Mas da dúvida mais ou menos racional passei à desconfiança. À desconfiança profunda por causa das eleições europeias.
Sinto que o rigor metodológico recua na proporção dos custos e do quanto os potenciais clientes estão dispostos a pagar por uma sondagem. E já nem falo de algumas cumplicidades político-partidárias lá para as bandas das empresas e institutos de sondagens. Ou não fossem os partidos (principalmente os grandes partidos, que podem pagar) bons clientes.
Mas é espantoso como as sondagens, quando chegam às mãos dos jornalistas, se transformam na Verdade da Revelação. É espantoso vê-los num frenesim à volta dos candidatos, inquirindo-os sobre essa coisa maravilhosa que é a sondagem. Diríamos não haver vida para além da sondagem, perante a qual se esfumam a crise e os demais problemas do país. Naturalmente, o Governo e o PS agradecem.
É o reflexo de um jornalismo preguiçoso e indigente que entre nós grassa, e que enforma negativamente a campanha (aqui só por hipocrisia se podem imputar culpas aos partidos políticos e aos seus militantes).
Desta campanha eleitoral, bem poderíamos dizer, parafraseando o poeta Alegre, que foi só “imagem, sondagem e sacanagem”

quinta-feira, setembro 24, 2009

Leituras sobre Carris



The Secret Agent - Joseph Conrad

Imperdível para qualquer pretendente a revolucionário anarquista e a todos os que gostam de grandes livros, de grandes escritores como Conrad.
A ler antes ou imediatamente a seguir à leitura de "O Homem Que Era Quinta-Feira" de G. K. Chesterton.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Cracóvia - Carros e coisas pitorescas


Cracóvia - Imagens das férias

Imagens da Praça do Mercado Medieval. Fantástica! Não fica nada atrás da Praça da Cidade Velha em Praga.

terça-feira, setembro 22, 2009

O Presidente, as Escutas e o Público

Ao demitir o seu assessor, o Presidente da República lançou ainda mais sombras sobre o caso das escutas a Belém. Ao não falar ao país, fica cada vez mais associado ao clima de intriga política que tem assolado a campanha eleitoral.
Está história espelha, porém, o clima de desconfiança, de surdez, que existe entre Belém e São Bento. Entre o Presidente da República e o primeiro-ministro. O primeiro-ministro de um governo belicoso.
Já sobre o PÚBLICO, muitos querem lançar o seu director, José Manuel Fernandes, na fogueira, qual bode expiatório em todo este processo. Não me quero arvorar em advogado de defesa deste impenitente neoconservador, mas não deixo de sustentar que o director do PÚBLICO agiu dentro da ética jornalística: um presidente que suspeita de que está a ser ilicitamente escutado é notícia em qualquer parte do mundo. Pelo menos do mundo onde a imprensa é livre.
Onde o PÚBLICO falhou foi na protecção das fontes. È por causa disso que o jornal e o seu director saem fragilizados. É por causa disso que o PÚBLICO deve esclarecimentos aos seus leitores.

sábado, setembro 19, 2009

A Campanha, o Governo e os Media que temos

Não há memória de uma campanha em que o debate sobre os problemas do país tenha sido tão ofuscado por uma sucessão cirúrgica de episódios muito bem engendrados. Primeiro, a questão espanhola a propósito do TGV (discutiu-se Manuela Ferreira Leite e Espanha, em prejuízo do TGV), depois o caso da compra de votos em secções da Distrital de Lisboa do PSD (prática que não é assim tão inédita, e que poderíamos alargar a outros partidos) e, agora, a manchete do Diário de Notícias a dar conta de que a notícia das escutas a membros da Casa Civil da Presidência tinha sido, afinal, encomendada ao PÚBLICO por um assessor do Presidente da República.
Todos estes casos desviam-nos das questões políticas que deveriam enformar o debate político nos media em tempo de eleições. A saber: as questões do investimento público como meio de resposta à crise, do desemprego, do endividamento externo, do combate às desigualdades sociais, do ambiente, etc. Políticas governamentais, como a do modelo de avaliação dos professores ou a da tributação dos reformados, ou mesmo a dos dinheiros dos contribuintes injectados na banca, e não noutros sectores da economia, praticamente deixaram de ter espaço nos meios de comunicação social.
Não deixamos de entrever simetrias entre a estratégia de José Sócrates nos debates, que se traduzia em centrar a discussão nos programas eleitorais dos adversários, evitando o escrutínio das medidas políticas implementadas pelo seu governo ao longo destes quatro anos, e a sucessão de episódios aludidos atrás. Porque de tudo isto quem sai favorecido é o Governo, que relega para o limbo do esquecimento os problemas do país real.
Diríamos que a estratégia propagandística que o Governo tão bem tem imposto aos principiais media está, tomando de empréstimo a expressão de um secretário de estado, a trucidar o PSD, cujos estrategos da campanha não parecem estar à altura do desafio (as sondagens, com toda a reserva que nos poderão suscitar, revelam uma progressão do partido socialista e uma queda dos socais-democratas).
Sabemos do gosto dos media pela sociedade do espectáculo, mas isso não nos deve iludir acerca das agendas políticas por estes prosseguidas. Não podemos olharmos para a manchete do Diário de Notícias e ver nela apenas informação. Isso seria esquecer que a agenda informativa deste jornal não raro se confunde com a do governo. Por vezes, perante as primeiras páginas do Diário de Notícia, mais parece que estamos a ler um órgão oficioso do governo.
A vantagem do Governo no campo dos media não é de hoje. E tal vantagem pode não ser despicienda para o resultado eleitoral de 27 de Setembro.


P.S. Sintomática a suspensão do Jornal Nacional da TVI, hoje quase esquecida. Bastou a tese, largamente difundida, de que o governo não podia ser o responsável pela suspensão daquele jornal, dado que seria politicamente desastroso fazê-lo em vésperas de eleições, para logo sossegar a boa sociedade dos media. Ninguém, por um instante que fosse, pensou na hipótese de o Governo ter promovido a suspensão do Jornal Nacional a coberto da tese de que seria politicamente desastroso cometer um acto dessa natureza com eleições à porta….Certo é que o Jornal de Manuela Moura Guedes dava notícias incómodas para o governo. Certo é que esse jornal acabou.

terça-feira, setembro 15, 2009

O que faz falta é animar a malta

A malta está farta do estado a que isto chegou. Só a esquerda(lha) mais afastada da realidade, hipnotizada pelas pregações dos avençados públicos que prometem que isto vai lá com mais subsídios e mais funcionários estatais a distribuir o dinheiro dos impostos dos outros (uma vez que não os pagam eles mesmos) não vê.
No entretanto, a malta começa a animar-se.
Depois não nos queixemos das consequências do falhanço do estado e dos seus funcionários em garantirem o "core business" estatal para o qual os contribuintes pagam tanto e de forma crescente: a segurança e a justiça.

Via o Setubalense:
"Assaltante foi apanhado e sovado por populares
Um indivíduo na casa dos 30 anos de idade, assaltou a caixa do posto de combustível da Galp, sita na Avenida Infante D. Henrique, junto à Praça de Portugal (...)Um cliente daquele posto apercebeu-se de toda a situação, e encetou perseguição ao assaltante(...)Outros populares aperceberam-se que se tratava de um ladrão em fuga, e descarregaram no homem uma real sova, ficando este algo maltratado. A ambulância do INEM foi depois chamada ao local para transportar o ladrão ao hospital. O dinheiro foi recuperado e devolvido à proveniência."

no espaço de uma semana, este foi o segundo assaltante apanhado por populares naquele espaço da Praça de Portugal. O primeiro foi um espanhol que assaltou, acto contínuo, uma loja chinesa e o Montepio Geral e, tal como este de agora, acabou detido às mãos de populares."

segunda-feira, setembro 14, 2009

Pacheco Pereira e o elogio do Avante

A Festa do Avante é um caso único em Portugal e tem muito a ver com a idiossincrasia social e cultural do PCP. Ela vive de uma micro-cultura criada pela longa participação do PCP na vida política portuguesa, que marcou em várias regiões do país (Alentejo, Margem Sul, etc.) sucessivas gerações de portugueses.
[...]
Toda a gente sabe que a Festa do Avante não nos dá música de forma inocente. A Festa tem um papel essencial na identidade comunista, no financiamento do PCP, na política do partido e mesmo na sua propaganda para fora, na sua “marca”, como agora se diz. Mas, dito tudo isto, quando se pergunta se a Festa “puxa para cima” ou “puxa para baixo”, se o modelo é o Quim Barreiros (que eu presumo os comunistas também apreciam) ou outra coisa, com livros, opera, debates, exibição da diversidade nacional nem que seja na gastronomia popular, que alguns pavilhões exibem com orgulho local, tenho que concluir que “puxa para cima”. Dito de outra maneira, a Festa do Avante! é uma das raras iniciativas partidárias que, concorde-se ou não com o PCP, hoje dignificam a vida política nacional.

In Abrupto

sexta-feira, setembro 11, 2009

Hoje, na Rádio Europa Lisboa (90.4 FM)

Debate político avesso ao politicamente correcto com um pé na blogosfera...

- Legislativas – Com os debates nas televisões e a campanha eleitoral no adro, quais são as diferenças entre os partidos e as projecções possíveis para o dia 28 de Setembro?

- Jornal TVI – O Jornal Nacional de sexta-feira foi cancelado pela administração da TVI. Estamos perante censura, pressões ou mera vingança de uma estação de televisão por não ter conseguido o negócio que pretendia com a PT?

- O apertar do cerco – Foi promulgado o novo regime da Segurança Social que alarga o leque das remunerações dos trabalhadores dependentes sujeitas a contribuições. Entretanto, já em 2010, os gestores deixam de deduzir no IRS as indemnizações que resultam da rescisão do seu contrato de trabalho. O cerco fiscal aperta-se?

- Livros online – A Google prepara-se para lançar uma biblioteca digital com livros que já não estão nas livrarias. Várias empresas, governos e organizações opõem-se a esta iniciativa alegando conduzir ao monopólio e colocar em risco os direitos de autor.

Esta semana, André Abrantes Amaral e Antonieta Lopes da Costa debatem com Luís Silva e Miguel Botelho Moniz, bloggers d’ O Insurgente.

Pode ouvir os debates anteriores aqui.

6ªf, 11 de Setembro- 18h

quinta-feira, setembro 10, 2009

O Debate Sócrates/Louçã e os comentaristas

Deixo Cracóvia para um outro tempo. Por agora, o tempo é de impressões sobre a escolha (cirúrgica) dos comentadores pelos principais órgãos de informação, com destaque para as televisões, sempre tão pródigas em nos fornecerem as narrativas dos debates da política. O debate entre Sócrates e Louçã não podia, pois, fugir à regra.
Os putativos comentadores, investidos de poder simbólico pelos principiais media, logo decretam vencedores e vencidos, num despudorado exercício de desonestidade. Neste país que é o nosso, muita gente (inclusive jornalistas, não obstante as lágrimas de crocodilo) respirou de alívio com fim do jornal de Manuela Moura Guedes, essa mancha na aura de imparcialidade que é imagem cultivada pelo jornalismo doméstico. Mas muito poucos se indignam com as agendas ocultas sob o manto de imparcialidade do nosso jornalismo.
Olhemos, por exemplo, os comentadores escolhidos pela SICNotícias para analisar o debate entre os candidatos do partido socialista e do bloco de esquerda: uma senhora politóloga do ISCP, o jornalista Nicolau Santos, do Expresso, e o empresário, e figura do Eixo do Mal, Pedro Marques Lopes.
Como era de esperar, todos alinharam pelo mesmo diapasão. Ou seja, Sócrates, vencedor incontestado do debate, pôs a nu as coisas sinistras ocultas no programa do BE, em particular essa bandeira da esquerda radical, a da abolição dos benefícios fiscais, capaz mesmo de relegar as nacionalizações para plano modesto.
Os ilustres comentaristas julgaram ver na estória da abolição dos benefícios fiscais o calcanhar de Aquiles de Francisco Louçã. Esqueceram outros que estão bem longe da chamada esquerda radical, e que também vêm denunciando a iniquidade de tais benefícios que só aproveitam a um grupo restrito da população: os que melhor conhecem as vantagens do nosso intricado sistema fiscal; ou que podem remunerar os préstimos de um especialista. Isto é claro no caso dos PPR ou de outros produtos similares. (vide Vital Moreira, Saldanha Sanches e, pasme-se, Bagão Felix). E ignoraram que Louçã, referindo-se às deduções fiscais para as despesas de saúde e educação, disse que “o que pode ser fornecido gratuitamente não precisa de ser deduzido “. Se é certo que grande parte da classe média compensa as despesas com a saúde e a edução através do regime das deduções, importa também não esquecer que quem mais deduz é quem mais gasta. E quem mais gasta é, em regra, quem tem rendimentos mais altos. Logo, há aqui uma natureza regressiva em tais benefícios. Seria socialmente mais justo o estado fornecer estes serviços (Saúde e Educação) a toda população através de um sistema que tenda para uma maior gratuitidade.
Exalta-se o (mau) ilusionismo de um primeiro-ministro que, no debate com Francisco Louçã, abdicou de defender as suas medidas para se limitar tão-só a brandir propostas soltas (melhor dizendo, apenas uma!) do programa do Bloco de Esquerda. É um sinal da importância hoje assumida pelo BE, que deixou de ser visto como um partido simpático. E que daqui para a frente será cada vez mais o alvo privilegiado dos comentadores do bloco central.

P.S. As primeiras páginas do Diário de Notícias de ontem e hoje, tomando como alvo o BE e a questão dos benefícios fiscais, são bem a ilustração do que acabo de dizer. Mas de há muito que este jornal está transformado numa espécie de órgão oficioso do governo.

(Re)Leituras sobre Carris



O Caminho para a Servidão - Friedrich August von Hayek

Em tempo de estágio para eleições legislativas. Para recordar quão facilmente se pode iniciar e percorrer o caminho.

terça-feira, setembro 08, 2009

Canhotos

Durante o debate de ontem à noite entre Paulo Portas e Jerónimo de Sousa, reparei que o camarada Secretário-Geral tomava notas com a mão esquerda.
Curiosa ligação com outros camaradas que eu conheço.
Será que a canhotísse é determinante na carreira política de um qualquer camarada? Quantos mais canhotos haverão no Comité Central?

A bem da transparência democrática, convinha que o PCP esclarecesse este ponto.

Por exemplo: poderá Maria das Dores Meira ser inesperadamente substítuida, na presidência da C.M.Setúbal, por um qualquer outro camarada canhoto quando se tornar demasiado embaraçosa a exibição da sua escrita dextra (*)?

(*) - Não faço a menor ideia se a Sra. é dextra ou não, mas não conseguiria terminar o post se não assumisse essa hipótese. Ou seja, tal como a maior parte da teoria marxista, este post é pouco consistente.