quinta-feira, agosto 31, 2006

Tempos nefandos

De uma assentada, sem se esperar, há quem se vá embora do nosso dia-a-dia.
Estão connosco mais tempo que a nossa família e que os nossos amigos, mas muitas vezes nem fazem parte deste último grupo, mesmo tendo em conta uma definição bem alargada do conceito.
No meu caso, já aqui declarei a minha misantropia profissional e mercenária. De entre a imensa multidão de gente a que chamo amigos, apenas houve um que fez a transição de colega para amigo (sorte a minha neste caso).
No entanto...
Para a semana, alguns destes assalariados, que partilham comigo o mesmo comprador de trabalho, já aqui não estarão e o que agora não se diz, percebe-se nos olhos. Passará rápido. O mar não está para peixes, daqueles que ficam paradinhos a abrir e a fechar a boca, ao sabor das marés, e temos de continuar a dar o litro.
Como dizia alguém, "é a vida".

quarta-feira, agosto 30, 2006

Confiança na confiança

Via RSO:

A sucessão de reacções ao afastamento de Carlos de Sousa e de Aranha Figueiredo da Câmara de Setúbal levou a CDU a emitir uma nota de imprensa para «transmitir a todos uma mensagem de confiança no futuro e naqueles que vão, a partir de agora, continuar o difícil trabalho desenvolvido» na autarquia desde 2002.


Não foi também uma grande, enorme, demonstração de confiança estes mesmos membros do PCP terem escolhido apoiar, para as eleições autárquicas do ano passado, aqueles que agora forçaram a demitir-se?
Como confiar neles?

terça-feira, agosto 29, 2006

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - XI

Responde o Pedro ao João:

João,
talvez me tenha explicado mal, mas eu acho que existem várias classes de objectos que podem ser considerados monumentos, e no caso de setúbal, por razões históricas ou de outra ordem, existem de facto vários monumentos que são somente simbolos político e logo, perdoe-me que escreva, mas eu não tive absolutamente nada a ver com a sua criação, não estava lá, nem tive opção de escolha em muitos deles.

E não acredito que haja percentagens para medir estas coisas... uma coisa é certa no caso de setúbal e porque não há fumo sem fogo, o facto de os Setubalenses não se identificarem com as suas obras de arte urbanas deveria querer dizer qualquer coisa, sobre a forma como algumas delas foram "geradas"... também não teve nada de comunitário... não me parece que lá porque a Câmara comissionou um trabalho e porque nós elegemos a equipe camarária isso se traduza em eu ter ajudado à criação desta ou daquela obra de arte.

E como também escrevi no email, desgosto, mas entendo que há quem goste e na minha cidade, vossa cidade também acho que há lugar para todos. Só porque não gosto, não piso! ;)

Quando ao facto de só se dizer mal, é preciso ter calma na classificação de estereótipos, porque por exemplo eu critico, mas acho que ajudo na conversão, preocupo-me e se sou assim com tudo o que faço, porque não se-lo também com a cidade onde vivo e da qual acho que temos todos um papel único?

Não acredito que as instituições sejam um erro, acho é que hoje, e não é um mal em Setúbal, temos as instituições preocupadas com coisas que sinceramente não devia estar preocupadas, ao passo que outras, parece que querem ser delegadas para os cidadãos, como por exemplo na limpeza das ruas... que é um excelente exemplo.. a cidade cresceu, a infra-estrutura de caixotes pelos vistos não... e sim, as pessoas
sujam, mas sujam em todo lado e por todo o país, e não se pode falar de limpeza sem falar de educação, mas também não se pode desprezar a limpeza porque quem suja é mal educado! ;)

Pegando nas suas frases e no verdadeiro sentido democrático, nós somos as instituições.. todos nós, só que às vezes nos esquecemos disso... ou preferimos não fazer nada.. não é o caso, mas reconheço que é uma tendência generalizada..

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - X

É a minha vez:

"se são maus, também gostaria que me explicassem porquê"

Parece-me que o João não se contenta em aceitar a subjectividade da apreciação artística de outros intervenientes nesta conversa. Existe algum padrão que possamos utilizar para medir os nossos gostos?

"Se dizemos assim tanto mal delas, é de nós próprios que estamos a dizer mal..."

Sem dúvida. Isto no seguimento do seu argumento de que a delegação de direitos e poderes nos nossos governantes (locais e não só) inclui também a sua capacidade de agir na cultura (onde penso que os monumentos se poderão enquadrar). Não será possível, aceitável, desejável capacidade de auto crítica nessas escolhas democráticas da maioria?

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - IX

Responde o João Aldeia ao Pedro Custódio:

Eu não vou deixar cair o meu argumento, por muito que isso aborreça alguma gente. Eu posso estar errado, admito que sim, mas ainda estou à espera que me expliquem porque é que acidade se dá tão mal com os monumentos que ela própria produziu (sejam eles bons ou maus, mas se são maus, também gostaria que me explicassem porquê).

Tomemos como exemplo o caso desta resposta de Pedro Custódio. Há demasiados monumentos políticos? Mas afinal quantos deveria haver? 50%? 20%? 5%? E qual é a percentagem que existe na realidade? Do que é que o Pedro discorda: da ideologia política associada aos monumentos? Ou é averso a que quaisquer opções políticas sejam
vertidas em monumentos? Acaso a Igreja da Batalha não é um monumento político? E os Jerónimos? E estão a mais?

Desculpem lá, mas acho que se sonha em demasia com um mundo asséptico, em torno de valores "neutros" tais como essa "comunidade" queteria direito aos tais monumentos "diferentes". Nós vivemos em comunidade, temos as nossas instituições e elas funcionam! O facto de haver muito a melhorar no seu funcionamento não implica que se tratem as instituições e a cidade como um erro. É que todos nós fazemos
parte da cidade e participamos nas suas instituições. Se dizemos assim tanto mal delas, é de nós próprios que estamos a dizer mal...

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - VIII

Pedro Custódio:

Se os cidadãos tivessem de facto poder para produzir arte, dita urbana, teríamos uma cidade em muito diferente.
Acredito que deve haver lugar a dois modelos de criação artística:

- A comissionada, por um lado choca-me, mas acho que faz sentido que exista para assinalar marcos históricos, sociais e outros importantes para a nossa definição de cidade e de cidadania, para educar os mais novos, etc.
- A expontânea, e aqui perdoem-me mas acho que há projectos por esse mundo fora que nos mostram que pode haver arte nas cidades por criação expontânea, sendo que as entidades reguladoras o que fazem é preparar os espaços para as acolher, tipicamente podem não ser pagas, mas não deixam de ser uma mostra pública de arte e muitas vezes acabam por se tornar ícones das cidades que as acolhem.

Eu pessoalmente não gosto de algumas das obras ditas de arte, ou monumentos, na nossa cidade, desconheço os motivos por que lá foram colocados, acho que no caso de Setúbal, temos demasiados monumentos políticos e poucos de vida comunitária ou de gentes da nossa terra, mas como em tudo o que se considera arte, não gostar não quer dizer que discorde, não morro de amores, mas acho que são sinais de vivência em sociedade. Agora uma coisa é certa muito há a fazer pela cidade, que no meu ponto de vista é bem mais importante do que a criação de novos monumentos, acho que gostava de ver a criação de novos espaços e arranjo dos já existentes espaços públicos, acho que a cidade peca por isso, por não tornar os espaços públicos muito mais públicos.

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - VII

Escrevi eu:

"Quanto à falta de qualidade artística dos monumentos, que para mimnão é assim tão evidente, é capaz de concretizar um pouco mais?(como já escrevi, ouço muito esse argumento, mas ninguém capaz de o explicar)."

João,
Importa-se de concretizar um pouco mais onde encontra qualidade nos monumentos?
Já agora: porque são os meus argumentos laterais e os seus não?
E já agora parte dois: neste país que eu conheço, há muito pouco para onde fugir da dicotomia estado/cidadão, pelo menos no que eu entendo ser o estado como delegação de direitos dos cidadãos, como conjunto de mecanismos que organiza a sua existência e a actuação das instituições do dito estado. Embora eu nunca dissesse que o estado é criminoso! Já quanto aos seus agentes (eleitos e/ou não eleitos) estão sujeitos às mesmas viscicitudes da condição humana e não conseguem fugir a tal, a terem a sua própria agenda de utilização dos recursos públicos. E se cita o P.Samuelson, lembro-me agora de James M. Buchanan. Mas não queria ir por aí, correndo o risco de enfadar ainda mais os restantes setubalenses aqui reunidos...

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - VI

É a vez do João responder:

Eu penso que os seus argumentos, neste dominio da opiniião que os setubalenses têm sobre os seus próprios monumentos, são mesmo laterais. O meu argumento é este: dizendo aqueles que lá colocaram os monumentos (insisto: os setubalenses!) tão mal deles, então há aqui um problema de dupla personalidade.

É curioso o seu recurso, quase exclusivo, à dicotomia estado-cidadãos para explicar tudo (estado=demónio e criminoso - cidadãos=vítimas puras e inocentes). É uma história de fadas, mas está bem.

Quanto à tolerância, ela está em eu aceitar um monumento às Nacionalizações discordando embora do processo político associado: trata-se de um facto histórico, e o monumento representa apenas isso e não faz mal a ninguém. Um dia será substiituído, como todos os monumentos. Na altura estava na moda nacionalizar (incluindo nos países capitalistas não revolucionários) agora está na moda o contrário. Como diz o Paul Samuelson, as teorias (e os economista) seguem a tendência do momento.

Quanto à falta de qualidade artística dos monumentos, que para mim não é assim tão evidente, é capaz de concretizar um pouco mais? (como já escrevi, ouço muito esse argumento, mas ninguém capaz de o explicar).

Minha resposta:
João,
"não me limitei a agitar o nome"; pretendia associar o nome de Buchanan ao que eu tinha dito nas frases anteriores. Eu sei; era um "argumento de autoridade". Embora não fazer seja não valorizar quem pensou e escreveu sobre determinada matéria, para mais numa área tão interessante como a Public Choice...

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - V

Respondo eu:

João,
Em jeito de réplica à sua resposta:

"tanto quanto sei aqui funciona a democracia, e foram também os setubalenses que escolheram os seus representantes. "

Isso responde a uma das minhas questões sobre a delegação de direitos/poderes incluída na eleição municipal.

"não nos pomos a cogitar: "Quem é que terá posto aqui isto? Foram os habitantes de Antuérpia ou terão sido políticos sem mandato eleitoral para tal?" Não faz sentido, não é? "

Discordo. Faz sentido saber se a origem do monumento (o seu "design" e até o seu custo - aspecto não menos importante) vem de uma entidade pública (eleita, sem dúvida) ou de um cidadão ou grupo de individuos que pretendeu celebrar determinado acontecimento ou ofercer à comunidade determinada peça ou edíficio.

"penso que o seu valor não pode nunca ser medido pelo que custaram"

Concordo. O que não retira a minha capacidade e direito de discordar com a sua qualidade artística e consequentemente valiar do seu valor (incluindo nisso, também, o seu custo).

"Não me diga que também não é o Estado que se deve encarregar disso. Então quem será? E porque é que não o fazem? "

Digo. Encontro, facilmente, muitas outras maneiras de aplicar o orçamento camarário que, no caso de Setúbal, não esqueçamos o que representa em termos de endividamento e má gestão acumulada que só não envergonha quem o produziu porque esse sentimento está muitas vezes afastado de quem gere o dinheiro dos outros. Se os individuos/cidadãos/instituições privadas/contribuintes/ não o fazem é porque claramente acham que o seu dinheiro é melhor empregue de outro modo, ao contrário dos decisores públicos que gastam o dinheiro alheio (já sei, vai dizer que os impostos são da comunidade....). No entanto é errado dizer que os privados não o fazem. Não esqueçamos, por exemplo, que mais que o ministério da cultura, tem sido a Gulbenkian (e o petróleo...) a financiar a cultura em Portugal. Certamente (e de certeza melhor que eu) conhece o acervo da dita fundação.

"O monumento da Praça de Portugal, dito "ao 25 de Abril e às Nacionalizações""

Não me referi a esse monstro de metal mas aos blocos de betão com restos de cordas velhas do porto que desde o ano passado está na Luísa Todi. No entanto a existência de um monumento às nacionalizações é bem significativo de quão infeliz é a monumentalização de Setúbal, ao celebrar um dos episódios mais infelizes da história recente (não estender este comentário ao 25/4/74).

"Entretanto, a viuva do escultor ameaçou colocar a Câmara em tribunal se adulterarem a obra. O problema aí não é certamente dos polítcos que lá colocaram as estátuas... "

Faria ela senão muito bem! O problema, não sendo os políticos que lá colocaram a estátua, seria do dito presidente e respectivos yes-persons (para ser politicamente correcto no género...) culturalmente omniscientes.

"eu próprio vejo muito valor nesses monumentos, mesmo quando têm uma carga ideológica que não me agrada. Chamava-se a isso tolerância."

Neste caso, a tolerância é-me imposta, pois nada poderei fazer para alterar ou contribuir directamente para a escolha de certos conceitos artísticos - tal como vimos acima, os setubalenses escolheram os seus representantes e democraticamente lhes cederam o direito de por eles escolherem a estética dos seus monumentos. E mais que a carga ideológica (a única objecção, comentei-a acima) irrita-me a evidente falta de qualidade artítica geral. Mas aqui reconheço a minha incapacidade perante as inversas capacidades dos dirigentes camarários que assim decidiram.

Como sempre, é um prazer consigo trocar argumentos que espero não considere laterais.

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - IV

Responde o João Aldeia:
Caro Luis Silva: essa sua separação entre quem lá colocou os monumentos e os habitantes da cidade, para mim, não faz qualquer sentido. Afinal quem é que lá colocou os monumentos? Se não foram sesimbrenses, ou palmelenses, ou lisboetas (e certamente que não foram) então, foram os setubalenses. É claro que podemos depois esmiuçar o processo político subjacente, mas tanto quanto sei aqui funciona a democracia, e foram também os setubalenses que escolheram os seus representantes.

Se formos a Antuérpia e virmos lá um monumento que nos agrade (ou desagrade), não nos pomos a cogitar: "Quem é que terá posto aqui isto? Foram os habitantes de Antuérpia ou terão sido políticos sem mandato eleitoral para tal?" Não faz sentido, não é?

Finalmente: não tenho nada essa visão negativa dos monumentos e, em todo o caso, penso que o seu valor não pode nunca ser medido pelo que custaram (pode-se achar que foi dinheiro mal empregue, mas não é o custo que valoriza a obra), nem esse valor pode ser medido por serem feitos de determinados materiais, nobres ou sucata que seja, nem são maus só porque foram mandados colcar pelo Estado. Meter isto na conversa é ir buscar argumentos laterais.

Os monumentos possuem uma carga simbólica muito importante, sendo das coisas mais antigas que a humanidade criou. Não me diga que também não é o Estado que se deve encarregar disso. Então quem será? E porque é que não o fazem?
O monumento da Praça de Portugal, dito "ao 25 de Abril e às Nacionalizações", é muito interessante. Quando oiço dizer mal dele faço duas perguntas: (1) o porquê de o criticarem tanto (ainda não recebi uma resposta objectiva, com pés e cabeça: apenas manobras de evasão e críticas vagas) e (2) se já tentaram entender o seu significado, assim um pouco à "Descartes": esquecer tudo o que se ouviu e os preconceitos políticos. Mas por esta altura já as pessoas começam a estar muito fartas da minha conversa (provavelmente porque a dificuldade em dar respostas revela que...)
E que dizer do boato que corre há anos em Setúbal (repetido por pessoas cultas!) de que nas estátuas de mulheres da fonte luminosa faltam, à cabeça, uns cestos com produtos da região? Ouvi um presidente de Câmara, numa sessão pública, afirmar que quando tivesse dinheiro mandava lá por os cestos! Entretanto, a viuva do escultor ameaçou colocar a Câmara em tribunal se adulterarem a obra. O problema aí não é certamente dos polítcos que lá colocaram as estátuas...

Os monumentos representam as suas épocas: não pode deixar de ser assim, é incontornável. Se os monumentos não prestam - e admito que seja o caso - então lamento os setubalenses, porque os seus monumentos são o seu espelho.

No entanto, eu próprio vejo muito valor nesses monumentos, mesmo quando têm uma carga ideológica que não me agrada. Chamava-se a isso tolerância.

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - III

Minha resposta ao João Aldeia:


"Acaso foram colocados por extra-terrestres?"

Caríssimo João,
Eu não diria que por aliens, mas pelo desígnio (sempre obscuro...) dos poderes camarários ou da Polis. Não creio que nos mais recentes exemplos (fonte, pórtico, monte de betão e cordas, o qual comemora o 25 abril) se possa dizer que os setubalenses se tenham manifestado pela sua feitura ou pelo seu aspecto artístico. Apenas se considerarmos que os poderes políticos também têm uma delegação de direitos de elevação de monumentos (resultante dos votos obtidos na discussão do seu programa político de monumentalização da cidade), poderemos considerar que é injusta a crítica à sua existência, aspecto ou mesmo custo. Por mim, tenho sérias dúvidas sobre a representação do 25 de Abril feita por vários tripods de betão cobertos com restos de amarras do porto de Setúbal (e que custou alguns milhares de euros a uma das câmaras paradigmas da má gestão do dinheiro dos contribuintes).


Nota: Com "monte de betão e cordas" referia-me aos tetrapodes do monumento à Resistência Anti-fascista, à Liberdade e à Democracia na Av. Luísa Todi.

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - II

No grupo do Google SetúbalNow.

Afonso Costa:

Ser setubalense é perceber o namoro entre o rio e a cidade.

Rogério Silveira:

Ser setubalense é não desistir de tornar a cidade um lugar melhor para se viver. É gostar de mergulhar no mar, de choco frito e ler Bocage.

Beverly Trayner:

Ser setubalense é viver as suas limitações e ainda se sente responsável perante as gerações futuras para o seu melhoramento em acções grandes e nos pormenores.

Sara Correia:

ser setubalense tem que ser diferente de ser madeirense,lisboeta,bracarense, escalabitano, ou até mesmo português?
Falamos de um cidadão que gosta da sua cidade / sitio de residência / sitio onde trabalha.
Falamos então de uma pessoa que respeita os valores desse local, bem como as pessoas que o integram.
Falamos de Setúbal como uma cidade linda muito mal aproveitada.
ser-se setubalense?
não é nada fácil responder a esta pergunta.
Moro cá há....20 anos (?) - tenho 27 O:-) - e não me sinto de cá.
Nunca me senti. :-\ .e acho que nunca me vou sentir....com vontade de ser contrariada...please!!!
Conheço gente maravilhosa de cá, ou "emprestados" que querem bem á cidade, que apesar de conhecerem sítios mais bonitos ou com melhores ofertas, que os há, optaram por cá ficar ou para cá se mudarem.
Mas também conheço gente, setubalense, que não me faz gostar mais da terra nem das pessoas..... Pessoas que estão em muitas lojas da cidade - nada contra o comércio local!!, que ao necessitarmos de uma informação ou de uma ajuda põem uma cara enjoada e simplesmente respondem: nã sei!
Estes são so setubalenses que me marcam e me entristecem...Esforço-me....muito..para que não seja esta a imagem que me vem á cabeça quando penso em setubal e no ser setubalense....Felizmente ao longo do tempo pessoas com vontade de mudar e com valores positivos têm cruzado o meu caminho, desfazendo assim esta papão...que teima em não passar...
Quanto aos tema: monumentos....e o dizer-se mal....acho que isso já
entra na categoria acima: _ser-se português!! :-D

"Ser Setubalense": conversas entre bloggers - I

Mesmo sendo setubalense de importação, com bem mais de metade da minha vida passada na cidade, fico satisfeito por poder discuti-la com outros. Mais ainda se eles se interessarem por ela tanto (ou mais) quanto eu. Assim, irei começar a publicar uma série de posts resultantes de conversas via e-mail com outros bloggers (podem encontrá-los aqui, no grupo do Google SetúbalNow) e que teve ínicio a propósito de um debate sobre o tema "Ser Setubalense", a decorrer no Museu do Trabalho Michel Giacometti.

O João Aldeia esteve presente e disso deu conta no Cetobriga. Outros bloggers deram o seu ponto de vista sobre o "Ser Setubalense" e o João Aldeia fez algumas interrogações que, com a sua autorização, passo a citar (outras participações no SetúbalNow se seguirão noutros posts):

Porque é que os setubalenses têm este problema de identidade? O facto de questionarem o que é ser setubalen-se (e fazem-na há muitas décadas!) é, só por si, intrigante. É curioso que o Museu do Trabalho procurou uma resposta, não nos setubalenses "históricos", mas sim naqueles que chegaram, como imigrantes, há pouco tempo à cidade - como se quisesse defir o conceito do que é ser "setubalense" a partir de fora, da fronteira exterior. No debate fiz uma intervenção referindo o insólito "mal estar" com que os setubalenses encaram os seus monumentos e estátuas públicas (fonte luminosa, monumento ao 25 de Abrilna Pc. Portugal, um outro na Av.luisa Todi, pórtico do Pq.Jose Afonso...), dos quais dizem sistematicamente mal, e isto há décadas! Na sequência da minha intervenção ouvi um remoque de um dos mais genuínos setubalenses, o sr. Joao Envia, que me sentenciou: "é que nós estamos habituados a melhor!" Fiquei surpreendido: então esses monumentos e estátuas não foram lá colocados pelos próprios setubalenses? Acaso foram colocados por extra-terrestres? Se queriam melhor, porque não o fizeram? E se o fizeram assim, porque é que dizem tanto mal? Reparem: não estou a dizer se os monumentos são maus ou bons - estranho é a violência da crítica. É como ir a casa de alguém e ouvi-lo dizer mal dos quadros e bibelots que lá tem em casa. Então porque é os colocou lá? E se não gosta deles, porque não os tira? Se fosse em Sesimbra (também sou Sesimbrense...) remataria com: "Estatão, ó !?" (corruptela de "o que é isto então?")

O Som no Office

Example

Pieces of a Man - Gil Scott-Heron

O disco de "Lady Day and John Coltrane" e de "The Revolution Will Not Be Televised".
E muitas outras boas canções.
Com Ron Carter.

segunda-feira, agosto 28, 2006

É verdade e eu também concordo. Porque é.

O Top Gear é um dos melhores programas de televisão disponíveis lá em casa. Há mais quem concorde. O maradona também gosta do programa.
A diferença é que eu tenho carta, conduzo e gosto de carros.

Ah! Outra diferença: ele escreve muito, mas bué mesmo, melhor que eu alguma vez escreverei.

Visto

Example

Não era filme que estivesse nos meus planos ver.
Mas lá fui.
As cenas de tiros foram excepcionalmente bem filmadas.

Tive saudades do crocodilo Elvis. Que será feito dele?

Pode ser fácil

Este é o nome que a minha amiga Sandra escolheu para se iniciar na blogosfera.
Muitas e boas escritas (e fotografias) são os meus desejos.

O blog "Pode ser fácil" vai já ali para a coluna da direita.
Passem por lá.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Videoclip Lounging

Capitalism shall overcome

Na Zambujeira, desde há dois anos que as bancas com os anéis, colares, brincos e demais bric-à-brac artesano-hippie, sairam da rua principal e estão situado num espaço único (logo ali ao lado) e que acabou por se tornar ponto de passagem de quem dá um passeio depois do jantar, por exemplo.

Este ano reparei numa novidade.
A par do tal espaço e de alguns resistentes (podemos lhes chamar os pequenos comerciantes desta história), que expõem as suas peças no passeio da rua principal, junto aos restaurantes, eis que um rapaz teve a arrojada ideia de agarrar no seu mostruário e fazer-se à areia. Conseguiu, assim, aumentar a probabilidade de vender algo durante o dia, enquanto os veraneantes se estendem nas toalhas.
De chapéu-de-sol em chapéu-de-sol, lá ía ele mostrando os seus trabalhos (brincos, pulseiras, colares, anéis), à procura de clientes.
Talvez dando-se conta do sucesso desta iniciativa, alguns dias depois, duas raparigas começaram a fazer o mesmo. Como trabalhavam juntas, conseguem realizar a exposição e demonstração das peças com mais desembaraço que o tal rapaz, conseguindo mais atenção por parte dos potenciais clientes.

Nesta história há um exemplo de como a livre iniciativa funciona. Aos três empreendedores, os meus parabéns.

O Vitória na UEFA

ExampleaaaaaaaaaaaaaaaExample

Vitória Futebol Clube - Sportclub Heerenveen

A lista de Silva

Como sabe quem me conhece, uma das minhas qualidades mais notáveis é ser do contra. Por isso, e contra a norma de a anunciar previamente, aqui fica a lista de leituras escolhidas para as férias de Verão que tão longe vão (este segundo dia de trabalho parece o tricentésimo).

Example A Grande Parada - Jean-François Revel

Example O Fio da Navalha - Somerset Maugham

Example Ravelstein - Saul Bellow

Example Liberalism: In the Classical Tradition - Ludwig von Mises

quinta-feira, agosto 24, 2006

O "reformas-gate" de Setúbal

Carlos Sousa resignou-se à vontade do seus pares.
Não dos seus eleitores, mas dos seus correlegionários políticos, que usando dos poderes que obtiveram dentro do aparelho do partido, através do impoluto e indiscutível método do centralismo democrático, mudaram a avaliação que faziam de um autarca que conta no seu currículo com várias vitórias para o PCP (ou CDU, se preferirem) em eleições nos concelhos de Palmela e Setúbal. Carlos Sousa foi uma aposta de Carlos Carvalhas para derrotar em 2001 um enfraquecido Mata Cáceres (PS), porque gozava em Setúbal do prestígio adquirido na sua gestão do munícipio de Palmela.
Talvez tenha chegado agora o tempo da concelhia setubalense se livrar deste "estranho" e quiçá, não-tão-ortodoxo-quanto-devia camarada. Aproveitando o enfraquecimento da sua posição decorrente do pendente inquérito sobre as duvidosas reformas antecipadas (a tempo de fugirem à nova lei) e sobre a sua intervenção no mesmo, o partido dispensou-lhe os serviços.
E os eleitores e munícipes setubalenses?
Terá um partido o direito de (de facto) "despedir" um presidente de câmara ou mudá-lo a meio do mandato?
Será que o vereador Fernando Negrão (PSD) tem razão quando pede eleições antecipadas porque nas eleições se vota em pessoas e não em partidos? E quando Santana Lopes foi substituído na CML por Carmona Rodrigues ou Isaltino Morais na CMOeiras por alterações decididas dentro dos seus partidos?
A confusão é responsabilidade de um sistema eleitoral ambíguo, que promove a personalização dos cargos mas mantem na base a dependência das entidades partidárias no controlo das listas e cargos obtidos.
Não fui votante de Carlos Sousa e decididamente preferia que não fosse uma reunião de membros de um dos últimos partidos totalitários da Europa a decidir sobre quem vai gerir, nos próximos anos, o caos em que está a CMS. No entanto, não tenho a certeza de que se deva pedir eleições antecipadas sem antes ou ao mesmo tempo assumir a necessidade de alterações aos métodos eleitorais.

Tempus Fugit

Três semanas passaram demasiado depressa.
Mesmo assim, não consigo escapar aos habituais comentários dos coleguinhas, perguntando se já não estava farto de férias.
Porque estaria eu farto de praia, de ter tempo para ler, para ouvir música, para comer bem, para receber amigos, para estar com os meus velhotes?
Eu sei que trabalhar enobrece e enriquece o Homem. E que férias só existem como contraponto ao trabalho. E que limitar por decreto "à la française" o tempo de trabalho é idiota.
Mas que as férias sabem sempre a pouco, lá isso sabem e a tentação de desejar que a reforma chegue bem antes do 90 anos (idade provável daqui a algum tempo, para ter direito ao que restar da Seg. Social) aumenta de forma irracional.

Que saudades dos três meses de férias na Zambujeira e daquele grupo de 30 miúdos que lá se juntavam todos os anos.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Educação e Liberdade de Escolha

Abaixo, podem ler o texto de opinião que saíu na revista Dia D, com o Público da passada segunda-feira, 21 de Agosto.

Por esta altura do ano, são muitos os pais que vêem os seus filhos chegarem à última parte do seu percurso académico: a entrada no ensino superior. A alegria de ver o nome do descendente afixada no quadro de admissões virá, a seu tempo, dar lugar às preocupações com a entrada no mercado de trabalho. Como e em que condições é que aqui chegaram?
Para trás ficaram doze anos de escola. Ao longo desses anos, estes jovens serviram de cobaias às experiências decorrentes dos programas políticos da maioria do momento, à vontade dos responsáveis pelos vários graus de ensino (coadjuvados pelos grupos de interesses que à volta deles gravitam e que deles dependem) de deixarem a sua marca na educação, preparando, a cada vez, aquela que seria a derradeira reforma do sistema.
Às famílias, aos pais e aos alunos, pouca escolha lhes foi proporcionada. Mais uma vez, e tal como noutros aspectos da vida dos cidadãos portugueses, o Estado escolheu por eles, pedindo-lhes apenas que pagassem a conta quer gostassem ou não do resultado. E fez escolhas concretas: quais os conteúdos dos currículos, quais as escolas a frequentar, quais os professores e, muito importante, como avaliar a evolução da aprendizagem. Interessante é o aparente alheamento a essas escolhas, as quais deviam ser uma responsabilidade familiar, até ao momento em que soa o alarme dos valores negativos nas notas dos exames de admissão à Universidade. Nessa altura é tarde para reclamar um direito que não devia nunca ter sido cedido ao Estado com a facilidade e naturalidade com que o é: o direito de decidir e escolher que percurso formativo têm os seus filhos.
A posição dominante do ensino estatal é suportada pelos impostos de todos. Não há um verdadeiro mercado educacional, uma vez que um dos fornecedores é privilegiado pelos imensos recursos postos à sua disposição e pela possibilidade de regular o seu funcionamento. Como não há mercado concorrencial, não existe um sistema de preços ligado aos serviços prestados por cada escola e à procura desses bens pelas famílias dos alunos. Isso impede que as escolas, os professores e os currículos que melhor satisfazem o mercado educacional, sejam recompensados.
A falta de um mercado livre para a educação, causado pelas barreiras promovidas pelo Estado, tem no final do percurso académico um impacto significativo. É que o tal sistema de preços na educação, funcionaria também como um sistema de informação às famílias e aos estudantes sobre qual a Universidade, qual o curso que, a par com as suas vocações, melhor os prepararia para o mercado de trabalho. Este transformaria o preço num veio transmissor das suas necessidades de recrutamento e da valorização dos serviços prestados por cada escola. Por tal mecanismo não funcionar, são milhares os jovens que prosseguem a sua formação em áreas de que o mercado de trabalho não necessita. Acabam por engrossar as fileiras dos “doutores” desempregados, sem que contas sejam feitas aos gastos com tão ineficaz percurso académico. Resta-lhes um sentimento de que o país lhes continua a dever algo, esperando que o estado lhes assegure saídas profissionais (nem que seja aumentando o funcionalismo público), não estando preparados para dirigir a sua vida profissional para fora das suas áreas académicas.
Os mesmos que defendem a supremacia do planeamento central, consideram inatacável o pressuposto da gratuitidade do ensino suportado na Constituição. Nunca é tido em conta os recursos que são retirados a todos os contribuintes para serem distribuídos de forma a manter todo conjunto de serviços de educação e acção social a funcionar. Nem mesmo a introdução de um sistema de cheque-ensino, que financiasse as escolhas de cada família e promovesse a competição entre os fornecedores, fossem elas escolas públicas ou privadas, merece aprovação ou consideração. Tal é visto como uma brecha aberta à sempre odiosa liberalização. Acima de tudo, impedir que as famílias e os alunos sejam responsáveis pelas suas escolhas – é esse o objectivo de quem procura manter o status quo que tão maus resultados tem produzido.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Opinião na Dia D

Hoje na revista Dia D, com o Público, podem ler o meu texto "Educação e Liberdade de Escolha".
Lá mais para o fim da semana, com o regresso ao trabalho e à blogos, colocarei aqui o texto.
Até lá, vou dar mais uns mergulhos!
(via GPRS)

sexta-feira, agosto 18, 2006

Férias

Example
Um período de ausência, mas voltarei, se for essa a vontade do Tempo.

Vénus e Marte

É comum dizer-se que os EUA estão para Marte como a Europa contemporânea está para Vénus. E adaptando a mitologia romana ao conturbado Médio Oriente, o discurso da nossa direita não vê, a propósito do Líbano, lugar para Vénus. Não restaria pois à Europa, que se prepara para encabeçar a missão das Nações Unidas no País do Cedro, senão submeter-se a Marte e assim abraçar a arte da guerra. E tudo porque é preciso desarmar o Hezbollah, a nova besta negra dos nosso ideólogos neocons (o subtexto é o de que a solução reside no emprego da força, porque “os árabes só conhecem a linguagem da força”).
O processo de desarmamento do Hezbollah tem de ser gerido com pinças e compete, em primeiro lugar, aos libaneses concretizá-lo por meio de negociações políticas. A via tem de ser essa, a busca de consensos para que o pluralismo cultural que caracteriza o País do Cedro não rime, uma vez mais, com guerra civil. E a Europa pode dar um contributo importante, fazendo recurso à diplomacia; a uma diplomacia alicerçada na experiência histórica.
Importa ainda dizer que a questão do desarmamento da milícia do Hezbollah estava na ordem dia nos assuntos da política do Líbano. E que o governo saído das últimas eleições libanesas tinha aliás dado início a esse processo, que acabou abruptamente interrompido por uma inútil intervenção militar de Israel; que só veio reforçar a posição dos islamistas no xadrez político do Médio Oriente.
Se Marte tem sido impotente, no Iraque como no Líbano, talvez a chave do conflito esteja em Vénus. Não subestimemos pois o poder de Vénus.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Videoclip Lounging

quarta-feira, agosto 16, 2006

Limites do uso da força

A ter sido [o rapto de militares israelitas] o pretexto por que esperava o Estado hebraico para dar início, com o beneplácito e envolvimento de Washington, a uma operação maciça de bombardeamento do Sul do Líbano, para assim neutralizar o Hezbollah, então estamos perante mais um rotundo fracasso da política americana no Médio Oriente: o Hezbollah emergiu politicamente mais forte, a ponto de surgir a liderar a reconstrução do martirizado Líbano, e o exército de Israel viu empalidecer a sua estrela, a aura de invencibilidade de que então desfrutara.
Longe vão pois os tempos da guerra fria, em que Israel era eficaz instrumento da política externa dos EUA nesta conturbada região.
Como à vista de todos ficaram os limites do uso força, talvez o tempo seja agora da diplomacia; de uma diplomacia ousada e com visão do futuro. Em Washington e Telavive.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Isabelle

Example
Demasiados posts sobre o Líbano, este blog estava a ficar monocromático.
Necessitava de qualquer coisa para dissipar a atmosfera e romper também com a modorra da época estival. Ainda para mais em Agosto.

Supermarket Blues

Example
É da autoria de Mazen Kerbaj, músico libanês de que já aqui fiz eco.
Espreitem as ilustrações no seu blog em forma de diário; em tempo de guerra.

terça-feira, agosto 08, 2006

É a Diplomacia, estúpido!

segunda-feira, agosto 07, 2006

Electronic Intifada

sexta-feira, agosto 04, 2006

Israel a caminho da Vitória de Pirro?

Creio que o risco que Israel corre no Líbano é não perceber os limites do uso da força, o que pode decorrer da fragilidade do actual governo de coligação. Ou a embriaguez do poderio militar hebraico, sem paralelo no Médio Oriente.
Por exemplo, Amir Peretz, actual ministro da defesa e membro do partido trabalhista, tem-se desatacado pelo entusiasmo com que fala da empresa militar em curso, chegando a apregoar objectivos que mais tarde são desmentidos pela realidade dos factos; e pelas experientes chefias militares.
Talvez o tom belicoso, assaz presente nos discursos de Amir Peretz, se explique pela sua falta de experiência, ainda para mais numa pasta tão sensível como esta, e também pela vontade de apagar os vestígios da passada herança pacifista. Ele tem de legitimar-se aos olhos dos cidadãos, mostrar que está à altura do cargo que ocupa, em mais um momento conturbado da vida do Estado de Israel.
Mas a História também nos ensina que a guerra, se não submetida à racionalidade da política, pode desembocar em Pirro, por maior que seja o poderio militar em causa. E um Líbano destruído, arrastado para a guerra sectária, bem pode significar, para Israel, a Vitória de Pirro.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Videoclip Lounging

terça-feira, agosto 01, 2006

Mazen Kerbaj and The Israel Air Force

O trompetista libanês Mazen Kerbaj ofereceu-nos esta improvisação numa noite de bombardeamentos sobre Beirute.
Podem escutá-la aqui

Kontratempos

Já me tinham chegado ecos do Kontratempos, blog do Tiago Barbosa Ribeiro. Mas foi este post que me reteve, por causa das suas idiossincrasias; por aquilo que releva do seu autor.
O Tiago fala do conflito que assola o Líbano em termos muito hollywoodescos, a fazer lembrar aqueles filmes em que as personagens se limitam quase só uma representação grosseira do bem e do mal. Assim, o Hezbollah seria a personificação do mal, enquanto a Israel caberia representar o bem. E para conformar a ímpia realidade da guerra à pureza dos seus princípios ou juízos morais, afirma que Israel “não faz qualquer ataque deliberado a civis”. Extraordinário argumento. E assaz falacioso.
Vejamos então: quando um país alicerça a sua estratégia militar em bombardeamentos aéreos, sabe que provocará inevitavelmente inúmeras baixas civis, pelo que é irrelevante dizer que não o faz de forma deliberada.
É um pressuposto que os israelitas não poderiam certamente ignorar , ao enveredarem por uma tal estratégia, que aliás não tem produzido os resultados militares esperados; aparentemente, a máquina de guerra do Hezbollah não tem sido muito afectada, ao contrário das populações civis.
Em suma, considerando que os estrategos israelitas não procuraram atingir populações civis, poderíamos dizer que a morte destes é aqui consequência involuntária das suas acções, no caso concreto, o trágico bombardeamento de Qana.
Dito isto, é bom lembrar que no passado as forças armadas de Israel tomaram os civis como alvo, basta tão-só remeter o Tiago para os bombardeamentos de 1982, em Beirute, ou para os de 1996, no Sul do Líbano. Ou para o artigo Morality is not on our side, de Ze'ev Maoz no jornal HAARETZ. Mas eu penso que enunciados do Tiago são “à prova da realidade histórica”.
Outra asserção falaciosa é a de que “Israel lançou panfletos pedindo aos civis para abandonarem as suas casas”.
Tudo é simples à sombra desta lógica, Israel avisa que irá bombardear e os civis expeditamente abandonam as sua terras, transformadas numa espécie de arena onde se digladiarão as forças do Tsahal e as milícias do Hezbollah. De pouco importa que estradas, pontes e demais vias de comunicação tenham sido destruídas por acção do exército de Israel. Ou que seja uma decisão simples, para as pessoas, abandonarem tudo o que têm assim exposto ao roubo e à pilhagem. Ou que em tempo de guerra o custo das deslocações seja impossível de suportar para os que estão desprovidos de meios económicos. Ou que os velhos e os inválidos não se possam deslocar e que as famílias não os queiram deixar à sua sorte. Mas não. Para o Tiago, estas pessoas carregam a culpa de terem permanecido e não acatado o diktat de Israel. Deixam de ser civis para assumirem natureza do terrorista ou passarem a ser meros escudos humanos. Seria ridículo se não fosse trágico.
É mais um exemplo de como o maniqueísmo grassa, de desumanização do “outro”.
O mundo do Kontratempos é a preto e branco. Um mundo de escolhas simples, entre o bem o mal. Tudo é claro. Como naqueles filmes de Hollywood.