quinta-feira, junho 30, 2005

O Bem

Às vezes, somos invadidos por um sentimento de nobreza, por uma necessidade absoluta de fazer o bem, só que…


O demoníaco assume por vezes a aparência do bem ou ganha mesmo completamente corpo nele. Se eu não em apercebo disso, estou, naturalmente, em desvantagem, pois este bem é mais sedutor do que o autêntico. Mas que me acontece quando eu me apercebo disso? Quando, numa batida aos demónios, sou acossado em direcção ao bem? Quando, transformado em objecto repugnante, vou de roldão, espicaçado e encurralado por agulhas que me picam? Quando as garras visíveis do bem se atiram a mim? Recuo um passo e mergulho, fraco e triste, no mal, que esteve todo o tempo atrás de mim à espera da minha decisão.

Do Espólio, Franz Kafka.

Os Incêndios

Sobre os incêndios, creio que o problema não reside tanto na protecção da propriedade, mas sim no desequilíbrio territorial.
As grandes manchas de floresta localizam-se no interior, neste nosso interior envelhecido e despovoado. Aí, as áreas de jurisdição dos concelhos e juntas de freguesia são extensas e escasseiam os meios humanos e os recursos técnicos, concentrados, como é sabido, no litoral. Os próprios proprietários vivem longe, na terra sobraram apenas os velhos a quem já falta a energia para cuidar das propriedades. Em suma, o nosso drama é o de um país macrocéfalo, cuja população se concentra numa estreita faixa litoral.
Por mais meios que o Estado tenha, não é possível prevenir (embora no campo da prevenção muito esteja por fazer) todas as situações, num contexto em que a maior parte da floresta pertence a particulares, cabendo a estes a boa gestão das respectivas propriedades.
É certo que a expansão de floresta, vista como o nosso petróleo verde, foi feita desordenadamente, não tendo o Estado assumido, de pleno, um papel regulador. Permitiu que se plantasse em zonas onde outrora não havia floresta, muitas vezes quase inacessíveis aos corpos de bombeiros; não criou caminhos entre os terrenos florestados.
Por último, não acredito que uma liberalização do uso dos terrenos inverta a situação actual. Provavelmente, assistiríamos a manchas de floresta povoadas por segunda habitação, com os inevitáveis danos ambientais.

Portugal em Inglaterra

ExampleExample

Arquitectos Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura.

"Designed in Portugal, engineered in England, fabricated in Germany using innovative Finnish technology, built, with lashings of Anglo-Saxon enterprise, in London and all done in six months without a penny of subsidy: if Tony Blair wants a symbol of the New Europe to mark his presidency of the European Union, he had better claim this year's Serpentine Pavilion in Kensington Gardens as his own." no Telegraph

Fogos e propriedade - II

Volto ao tema, tentando ver algumas implicações da intervenção estatal no direito à segurança da propriedade.

O Estado não tem conseguido, através da legislação, evitar a existência daquilo que poderei chamar como uma externalidade negativa sentido pelas propriedades vizinhas às de quem não minimizou o impacto da propagação dos fogos, abrindo aceiros, criando caminhos, limpando e retirando o mato, mantendo pequenas albufeiras, mantendo um serviço de vigilância de incêndios (seja humano ou recorrendo a novas tecnologias de detecção e combate precoce)...

Há mesmo várias maneiras pelas quais o Estado propicia estes efeitos negativos.

Uma será que a passagem da propriedade entre gerações familiares é feita num quadro legal e fiscal complexo e custoso, fazendo com que durante períodos significativos não estejam claramente definidos os direitos de propriedade entre os herdeiros.
Outra serão as inúmeras restrições que o proprietário enfrenta no seu uso, afectando-lhe também o valor de mercado. Ou seja, se não houver intenção de manter a produção florestal (ou de modo geral, agrícola) de um terreno, a lógica maximizadora do benefício obtido da propriedade, seria a sua venda. As restrições limitando o uso, limitam o mercado, suportam a ausência de rentabilização da propriedade e levam à inexistência de investimentos na mesma (como os referidos acima).
Os subsídios e financiamentos públicos à agricultura, em épocas de cataclismo (fogos e secas) também desincentivam a busca de formas de assegurar particularmente o valor das propriedades.

Uma das funções do estado deveria ser assegurar o respeito pela segurança, aqui incluída a da propriedade. Essa função não é bem desempenhada, em parte pelo exposto acima (apesar dos gastos elevados no combate aos fogos) mas também porque o sistema judicial não age nem com celeridade nem com firmeza sobre quem de forma negligente (ou deliberada), provoca ou contribui para a propagar fogos.

Texto já colocado no Insurgente.

quarta-feira, junho 29, 2005

Emídio Guerreiro

Example
1899 - 2005
Três séculos em 105 anos.

"A liberdade nasce com a aurora da Humanidade, é uma necessidade intrínseca do progresso e caminha a par da dignidade humana. Sem dignidade não há liberdade e por isso as ditaduras não se sustentam a não ser pela força." (CMP)

Estudo, debate e divulgação do Liberalismo Clássico

A Causa Liberal, "Associação para o estudo, debate e divulgação do Liberalismo Clássico", abriu o seu blog há dois anos.
Parabéns aos seus membros pelo trabalho já feito!

Visto

A Queda

Houve quem saísse a meio da sessão.
Não compreendendo porquê, eu fiquei até ao fim.
Elucidativo.

Detenções Arbitrárias

O Relatório da Human Rights Watch faz a denúncia das prisões arbitrárias de suspeitos de terrorismo nos Estados Unidos.
Pessoas têm sido detidas em segredo, durante meses, sem acusação formada e sem acesso a advogado.

"Opérant derrière un mur du secret, le département de la justice a jeté de nombreux musulmans vivant aux Etats-Unis dans un monde kafkaïen de détention sans limites et sans inculpation, et d'accusations sans fondements de terrorisme. Ils se sont retrouvés non pas à Guantanamo où à Abou Ghraib mais dans le système carcéral fédéral américain, victimes du détournement de la loi sur le témoin essentiel -material witness-. Au moins un quart d'entre eux sont des citoyens américains. Et près de la moitié n'ont jamais été présentés à un grand jury ou devant un tribunal..."

Em sociedades que se sentem ameaçados por um inimigo interno/externo, é estreita a linha que separa a política de segurança do abuso securitário.

Aqui está o Engenheiro

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Luís o convite para escrever no Office. E também as palavras amáveis quando anunciou mais este elemento na equipa.
Ele já disse quase tudo sobre mim, vindo do "Cavaquistão", onde o PS ganhou nas últimas eleições, benfiquista e que veio parar a Setúbal via casamento.
Aproveito esta estreia, para vos contar porque vinha, ontem, a rir sozinho no carro, enquanto ouvia a TSF. Estavam a dar a notícia de aumentarem o montante em que os bancos são obrigados a pagar os cheques sem cobertura. Bom, o meu pai pertence ao pequeno comércio, e eu sei os problemas que existem com cheques carecas, por isso pensei que estava a ouvir mal, quando o ministro disse que gostaria de liberalizar para qualquer montante até ao final da legislatura. E qual a razão do senhor ministro? Porque os tribunais estão "entupidos". OK, então depenalizemos os roubos, que são muitos,o tráfico de droga, talvez um caso ou outro mais complexo que ocupa muito tempo ao juiz, e assim vamos ter os tribunais em dia.
E eu que ainda há dias comprei um livro de cheques...

terça-feira, junho 28, 2005

Condicionamento industrial - versão séc. XXI

Aquilo que seria para todos uma boa notícia, esbarra contra a última versão da Lei do Condicionamento Industrial.
Nem me apetece acrescentar mais nada. Leia-se esta notícia no Região de Setúbal Online:

"O presidente da Associação de Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal [José Landeiro Borges] está «surpreendido» com a intenção do Grupo Amorim de investir num centro comercial ao ar livre, na zona ribeirinha de Setúbal.(...)

«Nas reuniões em que estiveram presentes pessoas da Câmara de Setúbal e, inclusivamente, num debate que teve lugar há duas semanas para discutir o futuro do distrito, nunca se abordou tal questão», critica Landeiro Borges. Carlos de Sousa já tinha esclarecido que a associação de comerciantes ainda não tinha sido contactada, mas Landeiro Borges considera que tal procedimento «não é correcto», quando está em causa a aprovação de uma superfície comercial que terá, inevitavelmente, impactos no comércio tradicional local.

O presidente da associação de comerciantes quer agora inteirar-se do processo, para depois se pronunciar. Mas deixa antever que a posição da associação não será favorável à instalação do empreendimento."

Derrota de Fraga

Buuuummmm!!!

Via RR:
O patrão do Grupo Sonae e o Ministério da Economia assinaram, em Lisboa, os contratos de relançamento do investimento turístico em Tróia.
8 de Setembro, às 16 horas, é a data e hora que vai marcar o fim de oito anos de avanços e recuos no processo de requalificação turística.
Belmiro de Azevedo faz ainda uma estimativa do investimento que deve chegar às centenas de milhões de euros.
Serão cerca de seis mil camas e 10 mil novos postos de trabalho.
As infra-estruturas devem estar a funcionar já no final do próximo ano.


O que terá acontecido ao morcegos?

segunda-feira, junho 27, 2005

Árvores todos os dias

Entrei e fiz uma descoberta. Então é isso que elas são!
Depois de alguns anos a estacionar junto delas, finalmente descubro-lhes o nome. Grande nome: Albizia julibrissin.
E em Setúbal também estão floridas.

No novo link, ali ao lado: "Dias com árvores".

Les uns et les autres

A liberdade de expressão é para mim o sustento da blogosfera. Cada um cria o seu blog e torna-o o espelho do que quiser, do que lhe der mais satisfação privada que se torne público. Assim se preenche um diário pessoal.

Quando falamos de weblogs onde há mais que um escriba, temos de ter a certeza que de ínicio nos compreendemos e compreendemos o que se espera uns dos outros. Certamente há surpresas. O inesperado torna o diálogo mais interessante, senão possível. Mesmo em blogs colectivos onde os escribas partilham os mesmos valores, há por vezes troca de argumentos sobre pontos de vista distintos. Ganha o debate e o blog.

Nos posts deste Office podem encontrar muitas vezes posições bem diversas. Muitas vezes antónimas. Algumas vezes concordantes. Mas eu sabia ao que ía quando convidei o Luís Marvão, quando insisti, para que ele deixasse aqui as suas considerações sobre o mundo que nos rodeia.
Alguns meses depois, o exercício do contraditório aqui no Office superou as minhas expectativas. Mas as regras sempre foram claras: o Marvão faria do Office Lounging a sua casa enquanto esta lhe fosse confortável. A liberdade de saída estaria assegurada, na certeza que a consideração mútua continuaria. E isso faz a diferença: eu posso não concordar com ele, mas respeito-o por aceitar debater essas disconcordâncias sempre com tolerância, respeito e bom humor, que é coisa que por vezes faz falta à direita e à esquerda.
Recordo parte do que escrevi há 6 meses:
Caro Marvão, dou-te as boas-vindas, com a certeza que iremos manter uma saudável e constante discordância. Espero que nos divertamos bastante com isso - só assim vale a pena.

O Verão e os Trópicos

À medida que entramos na época estival, sentimos os músculos e o cérebro entorpecerem, o tempo convida à inacção e os nossos políticos e cultores do défice preparam-se para ir a banhos nas estâncias balneares do país ou nos paraísos tropicais globalizados.
Leio, no Público, que os americanos, pela voz do falcão Rumsfeld, negoceiam com grupos da resistência iraquiana. Depreendo que estes deixaram de ser terroristas para passarem a ser apenas combatentes, numa operação orwelliana tão comum na arte da política externa americana.
Para os não-combatentes ou terroristas, o lugar de eleição é Guantánamo. Aí, segundo Dick Cheney, são bem alimentados e estão nos trópicos. “Têm tudo o que poderiam alguma vez querer”.

E depois do adeus?

"Mas ver o Barnabé definhar custa-me. Por isso, vou andando. É provável que volte à blogosfera. Se me der para aí, claro."

Daniel Oliveira anunciou a sua saída do Barnabé, blog que co-fundou.
Mas, tal como Santana Lopes fez, avisa que vai andar por aí. Na blogosfera.

'Tá-se bem...

Ontem, num telejornal da noite, reportava-se as actividades que, nos países mais envolvidos com a produção de estupefacientes, se tinham realizado para comemorar o Dia Internacional de Luta Contra a Droga.
No Afeganistão organizou-se a queima de muitos fardos de droga, originando uma imensa fogueira e uma enorme coluna de fumo. Na conferência de imprensa que se seguiu, um ministro declarou-se muito satisfeito por se ter feito a queima.
Imagino que estivesse ele, os que a ela assistiram e todos os habitantes das redondezas...

sexta-feira, junho 24, 2005

Investimentos em Setúbal

A 19 de Maio deste ano dei conta aqui no Office que o Grupo Amorim tinha assinado um acordo de patrocínio com o Festroia, porque pretendia investir em Setúbal e queria por isso contribuir para a vida cultural da cidade. Louvável iniciativa.

Hoje, soube-se finalmente quais os planos de investimento. Lê-se no Dinheiro Digital:
O presidente da Câmara de Setúbal, Carlos de Sousa, revelou na quinta-feira que o Grupo Amorim pretende construir na zona das Fontaínhas um centro comercial (Dolve Vita Setúbal), oferecendo à autarquia como contrapartida o «Quartel do 11».
Também o Região de Setúbal Online se refere ao assunto:
Com este projecto, a autarquia sadina, para além de entregar a um privado parte da requalificação da zona ribeirinha, resolve outro problema antigo, já que o Grupo Amorim propõe-se adquirir ao Ministério da Defesa, por 1,7 milhões de euros (350 mil contos), o desactivado Quartel do 11. Segundo Carlos de Sousa, é intenção do promotor comprar o edifício de 3.400 m2 e entregá-lo, requalificado, à Câmara de Setúbal, para exploração de um Centro Cultural há muito reivindicado pela população.
Claro que há quem já conteste o projecto. Carlos Sousa sabe que isso vai acontecer. Como irá ele gerir esta situação em época eleitoral?
No RSO:
A Associação de Comércio e Serviços ainda não foi consultada sobre o investimento, mas Carlos de Sousa antevê já que «a reacção deverá ser igual à que acontece no resto do país, quando surge uma superfície comercial». Antecipando eventuais reacções negativas, o promotor defende que «o Dolce Vita, mais do que um concorrente para o denominado comércio tradicional, reforçará a atractividade da baixa de Setúbal como um todo, alargando a sua área de influência».
No DD:
«Naturalmente que vamos tentar impedir a concretização deste empreendimento porque isso pode significar o encerramento de muitas lojas da Baixa de Setúbal que atravessam um período de grandes dificuldades«, disse o presidente da Associação de Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal [José Landeiro Borges].

Para além da criação de postos de trabalho, não será o novo centro comercial uma hipótese de atrair os clientes que hoje se deslocam ao Montijo, Alcochete, Alamada e mesmo Lisboa, para a zona da baixa? Será que os comerciantes que lá venham a ter lojas não beneficiam? E as lojas da baixa não beneficiará da visita de mais gente? Mesmo durante o período noturno, poderá ser uma forma de dar vida à Luísa Todi.
A propósito desta constante oposição do comércio dito tradicional aos investimentos em novos espaços comerciais, lembro um post de Fereiro passado, "Comércio tradicional vs. Hipers". Nele encontram-se elencadas o número de instituições envolvidas em licenciamentos de novas superfícies:"Associação de Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal, assembleias e câmaras municipais envolvidas, DECO – Associação de Defesa dos Consumidores e Direcção-Regional da Empresa.As superfícies com maior área, por sua vez, são analisadas por uma comissão regional."

PS - Obrigado ao Miguel Noronha pela dica.

O desrespeito da Lei

Do processo de corrupção em que são arguidos militares da GNR, saíu a notícia de que existia uma circular de 1986 em que o comando da GNR exemptava de multas alguns cidadãos. Lê-se no Correio da Manhã:
Durante 16 anos (1986-2002), o documento livrou de condenação um número ainda indeterminado de políticos, magistrados, diplomatas, e agentes de forças de segurança, que pelas infracções de trânsito que cometeram foram apenas alvo de participações por escrito aos respectivos superiores hierárquicos.(...)A missiva foi distribuída ao dispositivo territorial e à Brigada de Trânsito da GNR, ordenando que todos os condutores infractores cujas qualificações profissionais ‘encaixassem’ nesta directiva fossem apenas identificados e alvo de uma participação aos respectivos superiores hierárquicos. A norma previa infracções cometidas ao volante de carros do Estado e viaturas particulares.
Como é possível num estado de direito que esta circular tenha estado em vigor durante tantos anos, tendo terminado só quando a Judiciária começou a fazer detenções na BT? Como é possível que os órgãos fiscalizadores do funcionamento do estado e da justiça não tenham dado por ela? A resposta poderá parecer óbvia, mas não quero crer que houvesse uma tão alargada conivência. Não quero crer.

Comentando o assunto, o presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses afirma:
Qualquer tratamento de excepção, que até pode ser bem intencionado, é manifestamente ilegal. Ninguém está acima da lei.
O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público lembra (tal como tinha feito o presidente da ASJP) a possibilidade de os beneficiados desconhecerem que o eram. O presidente da Comissão Parlamentar de Ética descansa-nos sobre a igualdade perante a lei:
Fora do que está previsto na lei e de tudo o que diz respeito aos cargos políticos, os deputados são apenas cidadãos.
Finalmente, o comandante da GNR que redigiu a circular, que vigorou durante 16 anos, comenta:
Tratou-se de uma circular feita por um órgão de soberania, a GNR, em atenção a outros órgãos de soberania. A participação feita em sequência à infracção nunca implicou o perdão automático da multa.
A GNR é um órgão de soberania?!?
Aproveito para lembrar o artigo 110º da Constituição da República Portuguesa:
Artigo 110.º
(Órgãos de soberania)

1. São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais.

2. A formação, a composição, a competência e o funcionamento dos órgãos de soberania são os definidos na Constituição.
O respeito pela lei e a sua aplicação pelos agentes e tribunais deveria ser uma das poucas coisas onde o Estado deveria aplicar os recursos que colecta aos contribuintes.

Arte no feminino

Example

À distância, este candelabro, pode parecer mais um trabalho de algum mestre cristaleiro destinado a um salão de baile de um palácio.
Mas não é.
É um trabalho da artista portuguesa Joana Vasconcelos, que expõe na Bienal de Veneza. A luz é reflectida pelo conjunto de 14.000 tampões.
Example

quinta-feira, junho 23, 2005

Selma

Selma Blair

Any relation to Mr. Blair?

O Mundo às Avessas II

Equívocos

Caro Marvão,
Antes de continuar, gostava de fazer um disclaimer: não sou accionista de nenhum banco nem de nenhuma SCR. Dito isto, talvez seja de esclarecer a diferença entre banca comercial (no sentido tradicional) e o que é uma SCR (Sociedade de Capital de Risco). Nada melhor do que verificar como define a APCRI este negócio e que diferenças existem com o tradicional financiamento bancário. Para isso aconselho a visita ao seu site, abstendo-me de aqui o repetir abundantemente. Deixo apenas este parágrafo:
"Não confunda CR com endividamento. Num empréstimo os financiadores têm direito a juros e reembolso do capital qualquer que seja a evolução do seu negócio, sucesso ou falhanço. Com o CR há uma entrada de dinheiro como contrapartida da tomada de uma posição minoritária no capital da empresa, pelo que a rentabilidade dos investidores depende da rendibilidade e do sucesso do negócio."

Adiante. Porque achará o Sr. presidente, figura respeitável, mas dada a acessos emocionais que o fazem ter visões de desígnios nacionais, que os empresários bancários mudariam a sua estratégia? Estarão os seus accionistas a pressioná-los para mudarem de estratégia? Por serem instituições sem fins lucrativos? Não me digam que vamos voltar ao debate sobre responsabilidade social das empresas, que o Sr. presidente também defendeu há alguns meses... Porque não se informa o Sr. presidente antes de se acometer de tantas e grandes emoções que o fazem defender tais desígnios?

Adenda: Leitura complementar no Insurgente.

quarta-feira, junho 22, 2005

o Pecado do Presidente

O Presidente da República chocou os espíritos liberais da nossa pátria.
Não querem reconhecer o óbvio : a sociedade civil é frágil e as empresas amam demasiado a sombra do Estado. É assim hoje, como ontem, traço profundo da nossa História. Não é preciso ser-se marxista para o reconhecer, cronistas da estirpe de um Vasco Pulido Valente têm gasto rios tinta sobre o atraso crónico da nossa burguesia, para usar um termo que caiu em desuso.
Mas estes espíritos do nosso tempo reagiram em defesa da sua dama, a sacrossanta banca privada que não gosta de investir em projectos de inovação tecnológica, mas sim em imobiliário. A sacrossanta banca privada que beneficia de generosas regalias concedidas por esse mesmo Estado.

Some Girls Are Bigger Than Others

Em Londres está em preparação um musical com as canções dos The Smiths cantadas por 6 intérpretes (4 senhoras e 2 senhores), acompanhadas por um quarteto de cordas.

O título do musical foi retirado de uma música do disco "The Queen is Dead", onde se explica que as raparigas têm vários tamanhos e que algumas das suas mães também são maiores que as mães de outras raparigas.
Como sempre, uma lição de vida.
Resta a esperança que, depois do musical dos Abba ter passado por cá, também este venha até nós. Parece-me bem que muitos trintões o iriam ver.


PS- Obrigado ao FCG pela dica.

terça-feira, junho 21, 2005

Vem aí o Engenheiro!

A partir de hoje a equipa do Office Lounging reforça-se com mais um escriba.

Originário do Cavaquistão, este cavalheiro foi descendo progressivamente o país até às areias da Zambujeira. Para além de ser um tipo simpático como poucos, tem uma qualidade que eu aprecio particularmente: qualquer hora é boa hora para uma petiscada!
Tem defeitos. Pois tem. É benfiquista. Mas estou a tratar de lhe salvar a alma, indo propô-lo para sócio do VFC.

Boas escritas Zé!

Visto

ExampleExample

Excelente.
E não só pelas meninas. Mas também.
E pelo regresso em grande do Mickey.
E pelos planos e pelas cores e pela luz (ou falta delas).

Sacripantas anti-cultura!

Leio no Setubalense que não foi concedido o apoio de 600 mil euros do Ministério da Cultura para as comemorações do Ano Bocage (o que já tinha acontecido com o Ano Luísa Todi). A câmara além de lamentar a decisão, admite reequacionar o programa de gastos, quer dizer, de comemorações.

Para além de relembrar que é irrelevante se o dinheiro vem do estado central ou do orçamento municipal (os pagantes são os mesmos), lembro as dificuldades que a câmara tem tido em fazer face aos gastos correntes e lembro o passado recente do saldo das suas contas e o recurso ao crédito. Não vejo razão para festas. Infelizmente.

Um exemplo que poderia ter sido seguido é o do FESTROIA, que assinou um acordo de patrocínio com o grupo Amorim e que permitirá expandir as suas actividades de divulgação de filmografias alternativas.

PS - Podiam recuperar alguns dos euros já desperdiçados, vendendo o cordame e o tetrapodes comemorativos da revolução dos cravos, que juntaram num monte, no meio da Av. Luísa Todi (que onde quer que esteja, ficou certamente contente por lhe terem espetado aquele mamarracho na "sua" avenida).

Serviços Mínimos

A latitude dos serviços mínimos, depressa maximizados ao sabor das conveniências dos governos em funções, sejam de esquerda ou de direita.
Veio o Tribunal Constitucional dar razão aos maquinistas da CP, vítimas da aplicação unilateral de uns serviços mínimos bastante latos. Era então Jorge Coelho o Ministro dos Transportes.
A Justiça, ainda que lenta, funcionou neste caso.
Mas, a continuarmos por este caminho, lá chegaremos ao fim do direito à greve. Em nome do combate aos privilégios...
Mudam-se os tempos, e as palavras ganham sentidos diversos.

segunda-feira, junho 20, 2005

A Extrema-direita

Um apontamento sobre a manifestação de extrema-direita .
Felizmente, não foram muitos os que se concentraram na Praça Martim Moniz.
Mas estão presentes, na Área Metropolitana de Lisboa, as condições objectivas favoráveis ao crescimento destas forças políticas.
Concentração urbanística e guetização da vida social, tolerância face ao pequeno delito que mina os alicerces morais da vida quotidiana e políticas de inclusão social contaminadas pelos dogmas do multiculturalismo, constituem o terreno fértil onde nascem e se desenvolvem os movimentos identitários e xenófobos.

O Mundo às Avessas

Um Mundo às avessas, o afã com que se ataca os supostos privilégios de que usufruiria a classe docente.
Não vejo os professores rodeados de sinais exteriores de riqueza, envoltos em fuga ao fisco, mas isso pouco importa . Agora são os vilões a abater.
No mundo às avessas, impera a lógica do “temos de renunciar a direitos porque há sempre quem tenha menos do que nós”; se somos remediados, temos de passar à condição de pobres e desta à de indigentes, tudo em nome dos que nada têm e de um imperioso nivelamento por baixo.
Se temos um emprego, é forçoso que nos sintamos culpados, à semelhança dos ricos no país de Salazar, por causa dos muitos desempregados. Estranha forma assumida pela lendária inveja nacional neste tempo histórico.
No mundo às avessas, o primeiro-ministro é corajoso quando ataca os “privilégios” dos remediados, em defesa da igualdade com os que ainda são menos.
É assim a política no país com a maior disparidade de rendimentos da Europa Ocidental.

Seis pontos

Example

Tiago Monteiro obteve seis pontos em Indianapolis, correspondentes ao 3º lugar do pódio.
O resto é conversa. Como seria se, ao contrário do que aconteceu, o erro de pneus fosse da Bridgestone.

Give a little respect

Durante o fim de semana, ouvi um dirigente da FENPROF, em entrevista a uma rádio, dizer (cito de memória) que "quantos mais processos disciplinares e faltas os professores tiverem, mais dignificam a profissão".

Hoje de manhã, numa entrevista a uma televisão, a um dirigente da FENPROF foi perguntado sobre o impacto nas famílias, nos alunos e pais, de não haverem exames hoje. Respondeu o representante do sindicato da CGTP que os pais e os alunos não se deviam preocupar, que hoje ou noutro dia, os exames seriam feitos. Ou seja, para este professor, é irrelevante o impacto da greve na vida dos 110.000 alunos , e nas respectivas famílias, que estarão em exames esta semana.

Não se deve esquecer que a FENPROF está em luta "contra o agravamento das condições de aposentação" e "contra o congelamento das carreiras e o roubo do tempo de serviço".
Ou seja, pretendem manter as reformas aos 55 anos e a progressão automática na carreira, baseada nos créditos obtidos em formações de duvidosa utilidade, não se sujeitando a qualquer avaliação da qualidade do seu trabalho.
Sem dúvida mais um passo na credibilização da profissão perante o resto da sociedade.

Post já publicado no Insurgente.

sábado, junho 18, 2005

Parabéns

O Lusitano está de parabéns pois completou o seu primeiro aniversário.
Para além das boas escritas, tem a mais valia de contar com um vitoriano entre o seus colaboradores.

sexta-feira, junho 17, 2005

Maria

Maria Sharapova

Miss Sharapova lidera o ranking das atletas mais bem pagas e está no segundo lugar do ranking feminino do ténis.
Vale cada cêntimo.

Political Compass

Aqui tens os resultados do meu teste.

“...the classical libertarian collectivism of anarcho-syndicalism ( libertarian socialism) belongs in the bottom left hand corner.”

Economic Left/Right: -6.38
Social Libertarian/Authoritarian: -5.95.

“…Gandhi, believing in the supreme value of each individual, is a liberal leftist.”

Situo-me uns pontos abaixo do Gandhi e perto do Dalai Lama.
Não me julgava um pacifista, mas segundo o teste encontro-me bem perto de o ser.

Parece que foi ontem

Help! - The Beatles

Help! - The Beatles

Faz hoje quarenta anos que Paul McCartney gravou "Yesterday", acompanhado por um quarteto de cordas e sem os restantes Beatles. Foi numa viagem entre Lisboa e Albufeira, que Paul McCartney escreveu a letra. Diz a lenda que a musa lhe soprou os versos enquanto passavam por Odemira.
Para que conste, os primeiros CD's que comprei, quando finalmente um leitor apareceu lá por casa, foram os "The Red / The Blue Double Album".

Testes

Eles valem o que valem, mas aqui ficam os resultados de um dos escribas deste Blog. Deixo o desafio ao meu amigo Marvão para os fazer também. Será interessante comparar os resultados!

Political Compass:
"The usual understanding of anarchism as a left wing ideology does not take into account the neo-liberal "anarchism" championed by the likes of Ayn Rand, Milton Friedman and America's Libertarian Party, which couples law of the jungle right-wing economics with liberal positions on most social issues. Often their libertarian impulses stop short of opposition to strong law and order positions, and are more economic in substance (ie no taxes) so they are not as extremely libertarian as they are extremely right wing"
Resultado:
Economic Left/Right: 7.63
Social Libertarian/Authoritarian: -4.56 (algures ali em baixo, perto do Friedman)
Example

World's Smallest Political Quiz:
"LIBERTARIANS support maximum liberty in both personal and
economic matters. They advocate a much smaller government; one
that is limited to protecting individuals from coercion and violence.
Libertarians tend to embrace individual responsibility, oppose
government bureaucracy and taxes, promote private charity, tolerate
diverse lifestyles, support the free market, and defend civil liberties."
Example

quinta-feira, junho 16, 2005

Para refrescar a memória - III

O Alberto Gonçalves reabriu o Homem a Dias para ajudar a refrescar a memória a muitos esquecidos. Dois textos de leitura obrigatória:

Uma coroa de flores para o Álvaro

Uma coroa de flores para o Vasco

Como a memória é uma coisa lixada que por vezes nos prega partidas, como desaparecer ou ser demasiado selectiva, sugiro a impressão dos textos para que nos dias em que as bandeiras vermelhas se desfraldam, a eles se possa recorrer e nos lembremos do que significam Vasco e Álvaro.

Parabéns

Parabéns ao Francisco José Viegas pelos dois anos de um dos melhores blogs em língua portuguesa. O Aviz é de visita obrigatória.

Coisas que melhoram a tarde a qualquer um

Example

Smash the System: Singles and More - Saint Etienne

A Reforma Agrária

No Alentejo, a Reforma Agrária era a aspiração de gerações deserdados, de assalariados agrícolas sujeitos à miséria e a toda a sorte de privações.
Estamos a falar de um contexto histórico marcado pela concentração fundiária, pelo latifúndio improdutivo e pelas coutadas feudais.
A Terra, como é sabido, é um factor de produção, o rendimento dela extraído deve garantir a base do sustento a quem a trabalha. Há aqui imperativo social, uma obrigação moral. Propriedades ao abandono, num cenário de desemprego e fome, constituem a reivindicação legítima de quem não encontra, pela sua condição de vida, outro meio de subsistência, que não o do trabalho da terra.
Os movimentos sociais, que no Alentejo e partes do Ribatejo eclodiram com o fim da ditadura, são o produto de determinadas relações de produção, de uma estrutura de propriedade marcada pela injustiça e a desigualdade profunda. Sucede o mesmo noutras geografias (Vide o movimento dos Sem Terra no Brasil).
Para muitos trabalhadores alentejanos e ribatejanos, a Reforma Agrária representou um capital de esperança. Depositaram as suas energias na construção de um futuro diferente, sentiam-se agentes da mudança.
Este processo nasceu de baixo, não foi obra maquiavélica de um partido (o PCP deu corpo a uma aspiração antiga).
Ao contrário do que dizes, hoje ainda há uma ou duas cooperativas, filhas da Reforma Agrária, bem sucedidas nos mercados agrícolas (não me lembro agora dos nomes). E, sobre a falência das UCP’s, não te esqueças de um mês de Novembro...

Se ele o diz...

In Abrupto ("TRIBULAÇÕES DE UM IGNORANTE"):
Que viu a notícia de última hora no Público Norton de Matos apresentado por uma época no Setúbal e que se convenceu, na sua absoluta ignorância, que era do velho general republicano que se falava. Não percebia o título, mas enfim há muitas notícias de que não se percebe o título. Até pensei que era uma peça de teatro.E depois sai-me um treinador de futebol de uma coisa chamada Vitória de Setúbal…

Confesso que também tenho as minhas dúvidas sobre a bondade da contratação de Norton de Matos. Mas o contrário do dissidente do PSD, costumo ler jornais, ver telejornais, tenho até o hábito de desconfiar de títulos e de tentar perceber se a notícia é enviezada pelas preferências do jornalista. Por isso, e ao contrário do comentador da SIC, dei conta que num passado recente a "coisa chamada Vitória de Setúbal" venceu a Taça de Portugal em futebol (sabe, aquele desporto bárbaro onde 22 matulões perseguem uma bola e são perseguidos por três maduros com apitos e bandeirinhas).

A "coisa chamada Vitória de Setúbal" foi fundado a 20 de Novembro de 1910, tem muitos milhares de associados e uma cidade inteira de apoiantes e merece mais respeito de quem eu costumava respeitar.

Para refrescar a memória - II

Espero ter ficado claro na primeira parte do post o que esteve em causa durante o Verão de 75 e o que pretendiam os que estavam com o Dr. Cunhal, o que este pretendia para Portugal.

Foi-me lembrado por quem lá esteve, o que se passou em Odemira nessa altura e que o deputado comunista junta aos acontecimentos de Rio Maior. Nada surpreendentemente alguns pobres desgraçados, manobrados pelos controleiros locais (do partido e/ou dos sindicatos) tentaram ocupar várias propriedades. Alguns dos proprietários substituiram-se às funções que o estado deve assegurar de manter a segurança de pessoas e bens e assegurar o cumprimento da justiça e das leis. Alguns defenderam com armas as suas vidas e os seus bens.
A reforma agrária comunista previa a expropriação de terras para serem trabalhadas por quem não fazia a menor ideia de como transformar as UCP's em empresas agrícolas viáveis. Rios de dinheiro foram transferidos, com avales do ministério da agricultura. No fim tudo foi desperdiçado, como demonstrou a falência de UCP's e Coop. Agrícolas.

O PCP teve no período pós revolução um só objectivo: instaurar em Portugal um regime comunista autocrático à imagem estalinista do seu líder. Se não o conseguiu foi porque, promovendo a sua própria sobrevivência, se absteve de contra atacar durante e depois do 25 de Novembro, reconhecendo que os resultados das eleições demonstravam que só uma pequena percentagem da população queria substituir uma ditadura por outra. O povo, aparentemente, não se mostrou (como nunca o fez desde então) disposto a aceitar amanhãs que cantam por troca com a sua liberdade de participação.

Nos dias que correm, como em momentos do passado, há um aparente ónus a suportar pelos não filiados no PCP. De facto, neste país, quem não foi comunista deste 1917 não pode ter sido outra coisa que não colaboracionista. A mim estranha-me esta atitude em pessoas mais novas, muitos deles (como eu) crianças na década de 70. Até parece que a democracia parlamentar, o estado de direito com todas as suas instituições, é uma dádiva vermelha!

quarta-feira, junho 15, 2005

Um Último Adeus

Um último adeus a Álvaro Cunhal, nas palavras de Pablo Neruda, que lhe dedicou o poema Lámpara Marina.
Reproduzo apenas uma parte :

Los presidios

Pero,
portugués de la calle,
entre nosotros,
nadie nos escucha,
sabes
dónde
está Álvaro Cunhal?
Reconoces la ausencia
del valiente
Militão?
Muchacha portuguesa,
pasas como bailando
por las calles
rosadas de Lisboa,
pero,
sabes dónde cayó Bento Gonçalves,
el portugués más puro,
el honor de tu mar e de tu arena?
Sabes
que existe
una isla,
la isla de la Sal,
y Tarrafal en ella
vierte sombra?
Sí, lo sabes, muchacha,
muchacho, sí, lo sabes.
En silencio
la palabra
anda con lentitud pero recorre
no sólo el Portugal, sino la tierra.
Sí, sabemos,
en remotos países,
que hace treinta años
una lápida
espesa como tumba o como túnica
de clerical murciélago,
ahoga, Portugal, tu triste trino,
salpica tu dulzura
con gotas de martirio
y mantiene sus cúpulas de sombra.

O Candidato do BE

Não conheço bem o candidato do BE, João bárbara.
Mas espero uma boa prestação, com a ajuda do deputado Prof. Fernando Rosas, que, como é sabido, obteve um excelente resultado em Setúbal .
Com ou sem vereador, lá estarão os deputados do BE na Assembleia Municipal a vituperar o neo-liberalismo e a enriquecer a democracia local.
Mais vozes se levantarão contra a Nova Setúbal (entre elas, a do Professor Fernando Rosas).

Courteney

Courteney Cox

You've come a long way since dancing in the dark with the boss.

O candidato do BE

Está escolhido o candidato do BE à câmara de Setúbal. Será o médico João Bárbara, que conta com o apoio incodicional do Grande Timoneiro Ideológico do bloco, o Sr. Prof. Rosas.
Mas nem este último, mesmo recorrendo aos seus proféticos dons divinatórios e a toda a sua omnisciência, consegue adivinhar um futuro tão radiante como o visionado pelo próprio candidato. Para Rosas, o candidato do BE "ocupará um cargo de vereador na autarquia sadina". Já João Bárbara não está com meias tintas - o objectivo é ganhar.
Podemos achar esta ambição um pouco irrealista, mas o Dr. explica que "mais que contabilizar os votos, vencer é levar os setubalenses a participar democraticamente no debate sobre os problemas essenciais da cidade" e apresenta-se com o lema “Por uma cidade onde se possa viver com dignidade” (via R.S.O.).

Lembro que João Bárbara é habitual cronista no Setúbal na Rede, onde costuma comentar assuntos ligados à saúde. Numa das suas crónicas disse do ex-ministro da saúde Luís Filipe Pereira que ele era "demagogo, dissimulado e arrogante, fiel seguidor da cartilha neo-liberal". Satisfeito com a mudança de ministro, tece elogios a Correia de Campos, "um professor de saúde pública com um currículo brilhante e que passa por ser uma das pessoas que mais sabe de saúde em Portugal" a quem o Dr. Bárbara não tem "pretensão de lhe querer dar lições".

Resumindo, se és anti-neo-liberal não hesites: vota Bárbara!

terça-feira, junho 14, 2005

O "Office" feito pelos meus amigos

O meu amigo António, sempre vigilante sobre o estado de bovinidade geral (já que estou em maré de usurpar bordões alheios) e em particular sobre os erros mais néscios (eu já senti a sua admoestação!), enviou-me uma missiva que titulou de "Traduções Perversas":
O disparate propagado na televisão já não surpreende grandemente. Na estação de Queluz vi Évora localizada num “mapa de Portugal” onde - nos meus mapas - costumo encontrar Castro Verde. Com a RTP aprendi que Hieronymus Bosch foi um pintor surrealista. Enfim, já se sabe que não há tempo nas redacções para pesquisas muito complexas. E que importa afinal que Évora se localize a norte de Beja ou que Bosch tenha nascido 474 anos antes do manifesto de Breton?

Se já moderei as expectativas quanto ao rigor da informação televisiva, ainda conservo algumas no que respeita aos LIVROS. No recém-editado “Papas Perversos”, de Russel Chamberlin (Edições 70), dei-me conta, com incredulidade, que Avinhão é banhada pelo Reno, e não pelo Ródano, como julgava saber.

Uma gralha incomoda mas compreende-se. Persistir no dislate de afirmar (pelo menos três vezes) que o Reno corre no sul de França revela, numa apreciação benevolente, um domínio dos rudimentos da geografia abaixo do que se espera de um tradutor e, simultaneamente, pouco brio no trabalho de tradução, ainda que se conceda que a grafia inglesa de ambos os vocábulos é muito semelhante (Rhine/Rhône) e que os dois cursos de água nasçam na Suíça. A similitude, de resto, fica-se por aí. O Reno desagua no mar do Norte e, pasme-se, o Ródano fá-lo no Mediterrâneo.

Diga-se, em abono da tradutora, que a mesma corrigiu, por sua vez, um desconchavo do Senhor Russel Chamberlin, que alude aos Reis Católicos “Fernando de Castela” e “Isabel de Aragão”.

Ainda assim, o livro recomenda-se.

António Forreta

Para refrescar a memória - I

Lembrei-me durante o fim de semana, passado em terras do Mira, de puxar pela memória familiar sobre os idos de 75 e sobre o fervor PRECuiano desse Verão.

Para começo e para situar a memória, recordo um post que aqui coloquei em Dezembro passado.


A 4 de Dezembro de 1975, o deputado Carreira Marques (PCP) discursa na Assembleia Constituite sobre os acontecimentos verificados nas vésperas do 25 de Novembro em Rio Maior e Odemira.
Desde já aviso, que eu era demasiado novo para fazer parte destes perigosos "fascistas" e das suas reivindicações de defesa da propriedade privada. Já das cores no texto, a responsabilidade é minha.

"(...)Significativamente, ignorou-se a campanha concertada levada a efeito até às vésperas do 25 de Novembro por forças reaccionárias e, elas sim, interessadas em recuperar a Revolução.Nem uma única voz aqui se ouviu para condenar que fosse os graves acontecimentos de Rio Maior e de Odemira, onde os fascistas lançaram autênticos ultimatos ao Conselho da Revolução e ao Presidente da República e atentaram seriamente contra as liberdades e a ordem democrática, e é importante que todos os antifascistas o façam prontamente, denunciando os ataques reaccionários. Em Rio Maior, onde a reacção parece apostada em reunir o seu quartel-general, e a pretexto de justas reivindicações de pequenos e médios agricultores, os fascistas montaram todo um cenário de guerra aberta contra Lisboa..
Uma voz: - Social-fascista!Vozes de protesto.
O Orador: - Fizeram uma manifestação, lançaram panfletos spinolistas, arvoraram-se numa chamada «União das Alianças dos Agricultores», que emitiu um manifesto, onde se dizia textualmente: «Vamos fazer valer os nossos direitos por meio de acções concretas que nos preservem de atentados inaceitáveis à propriedade privada.» E terminava o papelinho com palavras de ordem do estilo «Não às ocupações selvagens», «Pela defesa da legítima propriedade privada». Fizeram barricadas, cortaram estradas e outros acessos a Lisboa e ameaçaram cortar os abastecimentos de leite, água e energia eléctrica à capital se as suas reivindicações não fossem satisfeitas. É bom lembrar algumas das suas exigências: revisão imediata da Lei da Reforma Agrária; restituição das terras ocupadas aos antigos proprietários; saneamento imediato do Secretário de Estado da Estruturação Agrária, António Bica.
Vozes: - Muito bem!
Vozes diversas que não foi possível registar.
Uma voz (dirigindo-se para as bancadas da direita): - Cala a boca, urso!
O Sr. Presidente: - Chamo a atenção dos Srs. Deputados.

Poucas mudanças

"E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz, de mor espanto,
que não se muda já como soía. "
Luís Vaz de Camões


Penso que o poeta dos Lusíadas tinha razão.
Nos diários de uma viajante inglesa sobre os povos e lugares que visitou, há uma nota sobre Lisboa:
Some places look pretty at a distance which look very ugly when you come up to them - Lisbon is one of these places.
Porque tinha razão Camões? Basta ver que a apreciação da capital portuguesa foi feita por Mrs. Favell Lee Mortimer cerca de 1850. A frase continua pesarosamente actual.

segunda-feira, junho 13, 2005

No comments

Durante este fim de semana morreram dois homens que ficarão na história de Portugal.
O Marvão deixou por aqui as suas impressões sobre um deles. Não me custa a acreditar que também o desaparecimento do outro lhe merecerá alguma consternação.

Eu prefiro não comentar. O país que hoje somos fala pelas suas vidas, pela obra que deixaram. Fica a cada um dos leitores o comentário e a análise que devemos fazer sobre o caminho trilhado nos últimos 30 anos, tendo em conta o impacto de ambos na preparação do mapa.
Sempre digo, como esclarecimento aos menos atentos, que não partilho a memória agradecida do meu estimado amigo Marvão. Diria mesmo que temos memórias contraditórias.

Álvaro Cunhal

Example
(1913-2005)
Nunca estamos verdadeiramente preparados para ver partir alguém que aprendemos a admirar.
Por que são escassos os dotes da escrita, deixo a minha sentida homenagem ao resistente antifascista, àquele que soube dizer "não" em tempo de servidão.

Até amanhã, camarada.



quinta-feira, junho 09, 2005

Os Incêndios

Comecemos pelos aviões que só chegam dia 1 de Julho, um exemplo de um Estado ineficiente, incapaz de prevenir ou planear.
Depois, temos o mau ordenamento do território, a obsessão de plantar floresta densa em tudo quanto é lugar do interior despovoado, não salvaguardando caminhos para os bombeiros. É o argumento do “petróleo verde”, que irá salvar a nossa pátria do abismo e do défice.
É sabido que a maior parte da floresta portuguesa está em mãos privadas, de proprietários, na sua larga maioria, habitantes das cidades. No campo ficaram apenas os idosos, isolados e sem meios para fazer a limpeza dos terrenos. Meios que faltam também às juntas de freguesias, que governam extensas áreas onde escasseiam as pessoas.
Os incêndios são assim o espelho das assimetrias de povoamento que marcam o território nacional.
Só o Estado, reforçando o investimento nas políticas de prevenção e apoiando financeiramente as autarquias, poderá minorar esta situação. Neste domínio, precisamos de intervencionismo.

O "Non" no Diplomatique

No Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet dá-nos a sua visão do "não" francês.

Car ce « non » a une signification centrale : il marque un coup d’arrêt à la prétention d’imposer, partout dans le monde et au mépris des citoyens, un unique modèle économique – celui défini par le dogme de la globalisation.
Ce modèle avait déjà suscité, depuis le milieu des années 1990, des résistances diverses. Par exemple, lors du grand mouvement social en France de novembre 1995. Ou encore à Seattle (1999), où naquit ce qu’on devait appeler ensuite – surtout après le premier Forum social mondial de Porto Alegre (2001), suivi des événements de Gênes (2001) – le « mouvement altermondialiste ». Et dans divers Etats, de l’Argentine à l’Inde, en passant par le Brésil. Mais c’est la première fois que, dans un pays du Nord et dans le cadre d’une consultation politique institutionnelle, une société a l’occasion de dire officiellement « non » à la globalisation ultralibérale.
Depuis ses débuts en 1958, et surtout depuis l’Acte unique européen de 1986, la construction communautaire a exercé une contrainte croissante sur toutes les décisions nationales. Le traité de Maastricht (1992), puis le pacte dit de stabilité et de croissance (1997) ont retiré aux gouvernements deux des leviers majeurs de l’action publique : la politique monétaire et la politique budgétaire. Le troisième, la politique fiscale, est de moins en moins autonome, car elle s’inscrit dans une logique généralisée de « concurrence libre et non faussée ».
Les citoyens ont compris que le traité soumis à leur approbation « constitutionnalisait », à l’échelle européenne, la concurrence exacerbée non seulement entre les producteurs de biens et de services, mais aussi entre l’ensemble des systèmes sociaux happés dans une spirale descendante. Ce n’étaient certainement pas les très maigres « avancées » démocratiques du traité qui pouvaient contrebalancer le verrouillage du modèle concurrentiel qu’il induisait, vidant ainsi de signification les futures consultations électorales
.

A Generosidade Americana

A Generosidade Americana


Talvez esteja a ser injusto, mas não consigo fugir à ideia de que, para o Presidente George Bush, o mundo não existe fora dos limites dos Estados Unidos da América. Foi assim com Quioto e é assim com África e os países mais pobres:


President Bush kept a remarkably straight face yesterday when he strode to the microphones with Britain's prime minister, Tony Blair, and told the world that the United States would now get around to spending $674 million in emergency aid that Congress had already approved for needy countries. That's it. Not a penny more to buy treated mosquito nets to help save the thousands of children in Sierra Leone who die every year of preventable malaria. Nothing more to train and pay teachers so 11-year-old girls in Kenya may go to school. And not a cent more to help Ghana develop the programs it needs to get legions of young boys off the streets.

According to a poll, most Americans believe that the United States spends 24 percent of its budget on aid to poor countries; it actually spends well under a quarter of 1 percent. As Jeffrey Sachs, the Columbia University economist in charge of the United Nations' Millennium Project, put it so well, the notion that there is a flood of American aid going to Africa "is one of our great national myths."
The United States currently gives just 0.16 percent of its national income to help poor countries, despite signing a United Nations declaration three years ago in which rich countries agreed to increase their aid to 0.7 percent by 2015. Since then, Britain, France and Germany have all announced plans for how to get to 0.7 percent; America has not. The piddling amount Mr. Bush announced yesterday is not even 0.007 percent.
What is 0.7 percent of the American economy? About $80 billion. That is about the amount the Senate just approved for additional military spending, mostly in Iraq. It's not remotely close to the $140 billion corporate tax cut last year.


Dito de outro modo, parece não haver mundo para além da guerra preventiva e das negociatas do petróleo.

Leelee

Leelee Sobieski

Um princesa polaca.

Portuguese Pink

Umas das coisas que distingue os ingleses será o seu gosto na escolha de vinhos. Para além do consumo de Porto (não necessariamente português), são consumidores, ao que parece ávidos, de vinho rosé.
Em Portugal nenhum homem de barba rija nem senhora de bom gosto são apanhados em público a beber tal coisa (já me custou chamar-lhe vinho, ali atrás, para o repetir).
os ingleses acham a coisa tão interessante, "cool" mesmo, que a resolveram pôr em garrafas de alumínio. É que assim, a coisa, irá manter-se fresca mais facilmente. Para mais, a garrafinha terá a palavra "Pink" escrita em letras fluorescentes - o que tornará ainda mais "fashion" o consumo da coisa em eventos onde a luminosidade seja difusa.

Bebam o que quiserem. Espero é que os fabricantes (não falo de viticultores) da coisa encontrem maneira de aumentar a sua exportação e não percam o mercado para outros industriais estrangeiros. Mesmo que não do sector.

Post já colocado no Insurgente.

quarta-feira, junho 08, 2005

Fogos e propriedade

Esta semana regressaram os grandes fogos florestais. Não por o governo ter oficilizado a data, mas porque o fim da Primavera traz as condições climáticas e as condições de vegetação propícias à sua rápida propagação.

Para além dos resultantes de manifestações naturais como relâmpagos, também há fogos que são, alegadamente ou comprovadamente, provocados por acção humana. Destes, há os que resultam de negligência estúpida ou falta de civismo e os que são deliberadamente provocados.

No primeiro caso teremos que nos esforçar para eliminar determinados comportamentos de risco. Para além das indesculpáveis queimadas em plena época estival, queria lembrar o hábito bem luso de atirar o resto do cigarro aceso pela janela do carro. Já todos assistimos a esse comportamento. Fazê-lo na cidade irá causar mais lixo, mas fazê-lo em estradas nacionais ou em autoestradas é criminalmente idiota, podendo a berma ser o local de ínicio de um incêndio.
No segundo caso temos os fogos que são deliberadamente provocados por lunáticos pirómanos, por quem procura obter alguma vantagem económica ao eliminar a floresta do vizinho e concorrente ou por quem procura uma injustificável vingança.

Em ambos os casos há um ataque à propriedade alheia, aos rendimentos de muitas famílias. Uma floresta é rentável durante muitos anos, fazendo parte do património hereditário familiar. Será também um ataque ao erário público, aos contribuintes em geral, por conta dos recursos enormes que todos os anos são gastos em meios de combate e indirectamente pela perda de tributação desse rendimento. Muitas vezes este prejuízo é majorado pelo desmazelo e negligência a que estão votadas muitas áreas florestais e agrícolas. Há um impacto negativo em propriedades alheias causado por quem não cuidou para minimizar o impacto da propagação dos fogos (abrindo aceiros, criando caminhos, limpando e retirando o mato ou mesmo mantendo pequenas albufeiras).

O respeito pela propriedade (nossa e alheia), para além do respeito pela lei, deveria ser mais um incentivo para mudar comportamentos.

Post já colocado no Insurgente.

Uma casa possível

Tomás Taveira, em coloboração com várias empresas e universidades, desenhou uma casa adaptada às necessidades da 3ª idade, usando as actuais disponibilidades tecnológicas para facilitar a vida de quem já viveu muito ou/e tem limitações físicas. Muitas das soluções adoptadas parecem-me bastante úteis para facilitar o convívio familiar entre gerações diferentes, que têm de se adaptar a necessidades diferentes.
O modelo da casa está em exposição no Museu das Comunicações, conforme refere esta notícia na CNN.
Example

terça-feira, junho 07, 2005

Aninhas

Anna Kournikova

Aninhas, Aninhas, como foste nessa
De casar com um oleoso chamado Iglésias?

Sócrates e a Co-incineração

Luís,

Esperemos que não se confirme este regresso à co-incineração, ou que o nosso pobre Concelho, tão fustigado por tão triste obra dos homens, a ela seja poupado.
A confirmar-se a insistência em tal projecto, nada mais é do que mera teimosia, pois hoje existem outras soluções tecnológicas e que aliás foram consagradas no projecto do governo anterior, que, como é sabido, granjeou largo consenso entre as associações de defesa e protecção do ambiente (as tais que tu dizes que são verdes por fora e vermelhas por dentro).
Parece que o nosso primeiro-ministro está a utilizar esta questão para pelo menos cumprir uma das promessas eleitorais em que foi pródigo durante a campanha. Ou então parou no tempo, no tempo em que era ministro do ambiente.
Fico grato por saber que, ao menos nesta questão, estás ao lado dos ecologistas.

Com a verdade me enganas

Título no Setubalense:

Devemos confiar que o presidente da câmara municipal de Setúbal se conhece melhor que ninguém.
PS - O bisemanário sadino limita-se a seguir uma tendência muito em voga nos media nacionais: as parangonas iludem sobre a notícia.

A birra do Sr. Engenheiro

Cumprindo o que prometeu (ameaçou?) durante a campanha eleitoral, o ex-ministro do ambiente José Sócrates, volta a fazer avançar legislação que permitirá o recurso à co-incineração.
Recordo o que escrevi em Fevereiro, durante a campanha eleitoral:
Ontem [11/2/05] ouvi na TSF o cabeça de lista do PS por Setúbal, António Vitorino, reconhecer que é a própria administração da Secil que não pretende recorrer à co-incineração de resíduos perigosos. Vitorino já tinha dado outra entrevista onde falava sobre a probabilidade de não se recorrer a este processo.
Como esta decisão da empresa já foi anunciada há três semanas, não entendo porque é que Sócrates continua a insistir nessa possibilidade.
A continuada insistência de José Sócrates neste propósito deve doravante ser encarada como uma birra vingativa de cariz pessoal. Um ressabiamento contrariado pelo seu lugar tenente.

segunda-feira, junho 06, 2005

No Festroia as Tartarugas Também Voam

Example

A vigésima primeira edição do Festroia chegou ao fim.
Foi um ano bom, a mostra de cinema foi interessante e diversificada; a qualidade primou.
Pela minha parte , apreciei muito o “Sempre Se Pode Voar” (prefiro o título em inglês, “turtles Also Can Fly”) de Bahman Ghobadi, cineasta curdo de nacionalidade iraniana. Trata-se de um filme perturbante, que nos transporta para a realidade do Curdistão iraquiano em vésperas da entrada dos americanos no Iraque., onde as crianças sobrevivem por entre minas e traumas do passado (as atrocidades perpetradas pelo regime de Saddam Hussein). E este quotidiano das crianças é filmado admiravelmente, a câmara de Bahman mostra-nos a beleza do olhar, a sabedoria estampada no rosto da menina que perdera inocência. A fotografia é magnífica.
O filme tem também um registo divertido e irónico, com as peripécias em torno das antenas parabólicas, única forma de a aldeia saber, por via da CNN, o que em breve acontecerá ao seu país (mais uma vez, guerra). Emerge então um rapaz de nome satélite, figura proeminente entre as crianças e os adultos por ser único capaz de montar as antenas de televisão e por saber um pouco de inglês.
Já tinha travado contacto com este cineasta através do deslumbrante “Um Tempo para Cavalos Bêbedos”.
Dos países nórdicos, conservo dois filmes, “Night and day” de Simon Staho (Suécia) e “Hawai, Oslo” de Erike Pope (Noruega), que me tocaram bastante.
Bem, para o ano há mais (dinheiro parece não faltar, agora que foi firmado o protocolo com o empresário Américo Amorim) .

Direito à censura

Hoje, quando um colega me perguntou sobre determinada informação que eu lhe deveria fornecer, assegurei-lhe que ía tratar do assunto.
"Quando?"
"É já a seguir."

Não me estrangulei ali mesmo para não aumentar a possibilidade de me despedirem. Tinha acabado de proferir parte do bordão mais estupidamente brilhante, usado nos últimos tempos (talvez ficando só atrás do fedorento bordão do gato)
Se eu pudesse tinha raptado o criativo de publicidade que inteligentemente (sem sarcasmo) o concebeu. Tinha-lhe pintado a lápis azul a proposta que fez ao cliente. Tinha dado o script do anúncio a comer ao cão. Tinha feito qualquer coisa censurável.
Este seguimento de palavras tornou-se tão repetido, que dizer que o foi "ad nauseum" será pouco mas revelador.
No entanto, uma ocasião houve em que tal bordão me preparou uma grande alegria. No jogo do Jamor, vários benfiquistas usavam t-shirts garantido que a Taça (parte da famosa dobradinha) "era já a seguir; é que era mesmo já a seguir!".
Foi o que se viu. A seguir.

sexta-feira, junho 03, 2005

Colheita "Feira do Livro - 2005"

ExampleExampleExampleExample

Leituras novas; leituras para oferta; re-leituras.

Eles lá sabem...

Há quem tenha encontrado a receita para colocar o país no vanguarda do desenvolvimento. Lê-se no Distrito Online:
O caminho que se exige passa por tomar medidas que apostem na valorização da produção e do aparelho produtivo; apostar no crescimento económico; aumentar o mercado interno e por uma política de combate aos défices estruturais da economia portuguesa aumentando a produção dos bens materiais transaccionáveis, em particular nos sectores agro-alimentares, energético, tecnológico e na estrutura de transportes e logística que permitam o aproveitamento integral dos recursos endógenos do País.
Quanto a mim, falta acrescentar quais as táticas a seguir para que esta estratégia seja implementada, mas não deixa de ter algumas boas ideias.
Gosto particularmente do desejo de combater os deficits estruturais. Certamente através da diminuição das necessidades de financiamento do estado, através da diminuição da sua ingerência em todos os apectos da vida do país e da diminuição dos custos de manutenção dos serviços que o suportam. Os fundos assim não retirados ao sector privado iriam permitir "apostar no crescimento económico; aumentar o mercado interno". Estaria-se a aumentar a probabilidade de a "produção dos bens materiais transaccionáveis, em particular nos sectores agro-alimentares, energético, tecnológico" encontrarem uma procura com disponibilidade orçamental.

Vai no bom caminho a Direcção da Organização Regional de Setúbal (DORS) do PCP.
Não se admirem é de virem a ser expurgados.

Post já colocado no Insurgente.

quinta-feira, junho 02, 2005

Bloqueio

Setúbal começa a dar-se conta do que é ser uma cidade cercada. Para não enfatizar nenhum dramatismo, nem conferir nenhuma conexão militar à situação, direi talvez que é uma cidade com bloqueios.

Vejamos então.

Já se sabe que não se pode construir fora dos actuais limites urbanos porque se entraria em zona protegida pelo Parque Natural da Arrábida, porque noutra direcção se teria de derrubar centenas de sobreiros. Resta demolir e voltar a construir ou seguir uma opção mais anacleta e ocupar os andares ainda não vendidos, nacionalizá-los, tributar-lhes o vazio em vários milhares percentuais, obrigando os seus donos a tentar desfazer-se deles sem queo consigam (quem os compraria nessas condições se já agora não o fazem?). Mas pode-se dizer que este será um bloqueio com efeitos a mais longo prazo do que aquele que me preocupa por agora.

Aproxima-se o Verão. Esqueçamos estas minudências urbanísticas e pensemos antes em dourar o corpo recauchutado pelas dietas primaveris. Na Arrábida? Não, porque a estrada continuará cortada. As várias entidades e organismos públicos com responsabilidades pela obra de recuperação da estrada e das arribas, o seu pagamento e sua autorização, movem-se à velocidade das nomeações e mudanças de governo. Mais um ano sem Figueirinha e sem Galapos.

Para onde escapar? Como arrefecer o calor do Verão que já aí chega? A resposta estaria do outro lado do rio, passado a ferry-boat. Mas Troia vai finalmente ver-se livre de algumas torres, numa recuperação turística que se tornou vísivel assim que o estado se retirou donde nunca devia ter estado. O estaleiro de obras está garantido. Mais desvios terão que ser seguidos para chegar ao Atlântico.
Afortunados os que podem seguir mais para sul e deixar a nossa cidade aos seus bloqueios. Por enquanto as autoestradas continuam abertas. Talvez seja caso de pedir a sua passagem a SCUT.

quarta-feira, junho 01, 2005

Deep Throat

Mark Felt Linda Lovelace

Continuo a achar a profunda garganta da Linda mais interessante que a de Mark.
Mas isto sou eu.
Cada um gosta do que gosta.

Os ecologistas que não merecemos

Em Setúbal surgem dois casos em que o ecologismo demonstra a sua cegueira face aos interesses das populações.

No caso da SECIL, surge a ameaça de deslocalizar a empresa uma vez que não são reconhecidos os esforços que esta tem feito na área ambiental, dando ainda emprego directo a 300 pessoas. Essa indicação surgiu aquando da assinatura de um protocolo de mecenato com a Câmara, no valor de 230 mil euros. O edil Carlos Sousa considerou que "não está em cima da mesa a deslocalização da Secil", mesmo porque para isso seria necessária a intervenção do governo (a SECIL é uma empresa privada). Uma coisa na linha da Bombardier, certamente.

Outro exemplo é o da piscicultura no Sado. Desta vez, Carlos Sousa, está do lado dos empresários que apelidaram de "eco-talibans" os responsáveis políticos pela gestão do estuário (Reserva Natural do Estuário do Sado). Diz o representante dos piscicultores que podia facturar "30 milhões de euros anuais, empregar mais de 600 pessoas e produzir seis mil toneladas de peixe", rebatendo os argumentos apresentados como entrave à expansão do negócio.

Os que defendem um ecologismo tipo melancia (verdes por fora, vermelhos por dentro) tal como o praticado pelos senhores que se acorrentaram aos portões da VICAIMA, não estão só em agrupamentos de cidadãos. Estão também nas organizações públicas financiadas pelo mesmo estado que ao mesmo tempo gasta milhões em programas de combate ao desemprego, tendo para isso de aumentar impostos.