quarta-feira, janeiro 31, 2007

A campanha chegou aos infantários

Segundo me disse um amigo, este panfletos abaixo foram colocados no cacifo do filho, no infantário onde está (uma instituição bem conhecida em Setúbal), sendo que, segundo me contou, noutro estabelecimento também foram colocados as mesmas folhas nos cacifos dos miúdos.
Os pais não parecem ter apreciado nada o facto de se ter usado os filhos como meio para fazer campanha junto deles.

Uma Pequena Revolução

Uma pequena revolução informática lá em casa. Ou as prodigiosas invenções russas, para erradicar de vez com o Norton.

terça-feira, janeiro 30, 2007

3 anos de Tugir


Acho que ainda vou a tempo de dar os parabéns ao Carlos (mantenhamos a esperança!) e ao Luís pelo terceiro aniversário do Tugir.

Mais estado, melhor estado?

"Mais estado, melhor estado?" é o título do texto que coloquei no Insurgente sobre o debate de ontem à noite no Prós & Contras: alguns defensores do Não argumentaram que é preciso mais estado, usando melhor os seus recursos, para ajudar a levar a termo mais gravidezes, num quadro de manutenção da criminalização e penalização do aborto.

Se vos interessar o assunto, passem por .

Despenalizar é um imperativo

Já nem me lembrava da passagem de Aguiar Branco pela pasta da justiça, de tão apagado que foi. Mas nunca imaginei que alguém, que foi ministro da justiça deste país, argumentasse de forma tão indigente, como ficou à vista de todos no Prós e Contras dedicado ao aborto.
Risível o argumento de que a actual lei “é cumprida todos os dias, porque há mulheres que não abortam”. Deve ter o dom da ubiquidade, o nosso antigo ministro da justiça.
Pobre Aguiar Branco!, muito sofreu às mãos do prof. Vital Moreira.
Os partidários do Não, entre a primária demagogia (nas fronteiras do terrorismo) e a incapacidade em perceberem o desacordo fundamental entre o Ser e o Dever Ser, negam o livre-arbítrio da mulher, como muito bem enfatizou o sociólogo José Manuel Pureza. A sua arte da persuasão não dispensa a bengala da lei penal, que prevê pena de prisão até três anos para a mulher que aborte. Ora chama-se a isto persuadir ou coagir? Por que não abdicam do apoio de uma lei iníqua na prossecução do seu (louvável) esforço de prevenção da prática do aborto através da acção social ?
Porque o que está em causa, no próximo dia 11 de Fevereiro, é saber se queremos continuar com esta lei injusta, que pune a mulher com pena de prisão.
Despenalizar, como é proposto na pergunta do referendo, significa não apenas reconhecer a importância esfera de decisão da mulher, mas também conhecer as suas motivações, ao regular esta prática em estabelecimento de saúde autorizado. Longe por isso da liberalização selvagem que hoje existe, esse mundo sórdido da clandestinidade que voluntária ou involuntariamente os partidários do Não ajudam a perpetuar, em face da intransigência de que dão provas.

Uma blogger na rádio

Pedro Rolo Duarte entrevistou a Isabel Goulão, a.k.a. Miss Pearls.
Vale sempre a pena lê-la. Vale com certeza a pena ouvi-la. Aqui.

Coisas do Sábado

Coisas do Sábado por causa do cinema.
Tinha pensado ir ver A Viagem a Itália, mas fui traído pelo sono profundo, ou as sequelas de uma semana de noites mal dormidas. Já era tarde portanto. Preparava-me para despender o tempo que restava daquela tarde de Sábado em desenfreado consumo. Tinha já planeado uma visita à Ananana, mas, em face do contratempo aludido, seguir-se-ia a Fnac. Mas eis que um amigo me sugeriu um filme inglês, do início da década de sessenta, que passava na Cinemateca às 18.30 h.
Para compensar a perda do Rosselini, lá me decidi a ir ver a dita película.
Não podia ter feito melhor escolha. A Taste of Honey, de Tony Richardson, é um filme cheio de vitalidade, com uma fotografia belíssima e excelentes actores que dão corpo a personagens cheias de vida.
A paisagem industrial, onde são visíveis os vestígios de decadência, é dominante ao longo do filme, que se centra na vida de uma família da working class, mãe e filha adolescente.
Arrojado, aborda o racismo e a homossexualidade (de uma forma madura raramente vista, longe dos estereótipos, profundamente humana; profundamente singular).
Tem um cunho documental, ao vê-lo percebemos onde foram beber realizadores britânicos como Ken Loach ou Mike Leigh.
Perdi o neo-realismoo italiano, mas ganhei o realismo britânico. E Rossellini haverá mais, ao longo desta semana e do próximo mês de Fevereiro.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Impasses

Escândalo urbanístico na Câmara de Lisboa e pacote legislativo sobre a corrupção embargado pelo primeiro-ministro José Sócrates, acontecimentos sem qualquer nexo de causalidade, mas que são reveladores dos impasses que assolam a nossa política.
E se em política o que parece é, então demos mais um passo no sentido do descrédito das instituições e, em último grau, da política.
Em Lisboa, o executivo, mesmo se gravemente amputado (com a saída da vereadora que detinha o urbanismo e do respectivo director do departamento), persiste em manter-se à frente dos destinos da principal câmara do país e conta (facto que nos dias de hoje não nos deve espantar) com o apoio da oposição (a única voz que parece dissonante é a de José Sá Fernandes), que, manietada ou impreparada, prefere o inexorável apodrecimento da situação a um cenário precoce de eleições. Para prejuízo da instituição Câmara Municipal de Lisboa e da democracia local.
A estabilidade, esse velho valor salazarento, é dogma que a tudo se sobrepõe. E assim os partidos da oposição evitam os riscos de uma clarificação política, fugindo das eleições como o diabo da Cruz. Mas é uma ilusão pensar que não sairão chamuscados de toda esta situação.
Na Assembleia da República, José Sócrates preferiu o mediático tema do aquecimento global à corrupção que vai minando a credibilidade das instituições democráticas. Mas não deixou de tecer considerações, por sinal assaz deselegantes, sobre a generalidade das propostas contidas no anunciado pacote legislativo de combate à corrupção, da autoria do deputado João Cravinho.
Recorrendo à mais despudorada demagogia política, José Sócrates invocou a inversão do ónus da prova na espinhosa questão do enriquecimento ilícito dos titulares de cargos políticos executivos, aí vislumbrando um grave atentado aos direitos e garantias dos cidadãos. Ridicularizou as propostas de Cravinho, sugerindo que as mesmas seriam dignas de uma qualquer república bolivariana da América Latina, ou mesmo da totalitária Coreia do Norte, e não de um estado europeu, moderno e civilista. Esqueceu-se o nosso primeiro-ministro de que o deputado do seu próprio partido, João Cravinho, até nem teve de inventar a roda; tão-só se baseou, para o aludido pacote legislativo de combate à corrupção, na legislação em vigor em democracias antigas do que a nossa, da estirpe da velha Albion, por exemplo. Ou nas convenções europeias que se têm debruçado sobre o problema da corrupção.
De tudo isto sobressai a impressão de que o interesse corporativo falou mais alto, se o primeiro-ministro não anunciar proximamente medidas alternativas, já que o aludido pacote legislativo não serve o interesse do país. Se não o fizer, está a contribuir para a erosão moral do sistema democrático, que precisa de passar mensagem, aos cidadãos, de que é eficaz no combate à corrupção.
Parafraseando Max Weber, é importante que os nossos eleitos, deputados e titulares de cargos políticos executivos, dêem a impressão de que vivem para a política e não da política. Se insistem em passar junto dos cidadãos a ideia contrária, então estão a prazo a contribuir para a ruína da democracia.

Videoclip Lounging

Vitória!

Ainda há razões para esperança, lá pelo Bonfim.

Em Almada

Este fim de semana assisti à representação de "Fedra", pela Companhia de Teatro de Almada no teatro municipal.

A programação do dito teatro inclui alguns espectáculos de música a que tentarei assistir. Já em Fevereiro, no dia 16, é a vez do Quinteto de Jazz Sara Valente apresentar o disco "Blue in Green" (a Sara Valente é setubalense). No dia 17 de Março, apresenta-se a Orquestra de Jazz de Matosinhos com "Músicas de Thad Jones", contando com a participação de músicos convidados, vindos da Village Vanguard Orchestra.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Aborto. Uma Campanha feita mais para os homens

Identifico-me profundamente com o que escreve Pacheco Pereira neste artigo, de que destaco este excerto:

O que mais me desagrada neste campanha – feita mais para os homens do que para as mulheres – é que ela passa ao lado, mais do que isso, desrespeita, ignora, menospreza, o carácter essencialmente existencial, vivido, do problema do aborto. É por isso que o aborto é mais uma questão das mulheres, como é a maternidade, e não é totalmente extensível e compreensível aos homens. Este é um dos casos que esquecemos muitas vezes muitas vezes, quando achamos que a igualdade é algo de adquirido sob todos os aspectos, e que tem a ver apenas com a sociedade, a economia, a cultura e o direito. Não, pelo contrário, há desigualdades, “diferenças” no dizer politicamente correcto, estruturais entre os seres humanos, uma das mais fundamentais é a que a maternidade introduz entre homens e mulheres. E, para as mulheres, uma das mais fundamentais é a que a maternidade introduz entre homens e mulheres. E para as mulheres que, quase todas, ou abortaram ou pensaram alguma vez em abortar, ou usam métodos conceptivos que à luz estrita do fundamentalismo são abortivos, o aborto de que estamos a falar neste referendo não é uma questão de opinião, argumento, razão, política, dogmática, mesmo fé e religião. É uma questão de si mesmas consigo mesmas, íntima, própria, muitas vezes dolorosa e nalguns casos dramática.

Pacheco Pereira, in PÚBLICO; 25 de Janeiro de 2007

Creio que também os meus posts iam no mesmo sentido deste texto, mas, evidentemente, sem a eficácia, a clareza e a mestria de JPP.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A ler

No Insurgente, o Adolfo Mesquita Nunes dedica a sua coluna Pontos de Fuga ao referendo sobre o aborto e aponta questões muito interessantes.

Mehldau, o Artífice

O pianista Brad Mehldau irradiou toda a sua classe pelo palco do CCB.
Com uma técnica irrepreensível, um imenso saber na arte da improvisação e a subtileza daqueles pormenores que fazem toda a diferença.
E depois há o lirismo que impregna a música de Mehldau, a sublime desconstrução de fraseados melódicos de geografias alheias ao Jazz, que através dele viajam até outras paragens e a casa regressam mudados; mais ricos.
O concerto terminou com o tema Riverman, de Nick Drake, que imperceptivelmente
foi sendo transformado numa outra coisa, como se de um contínuo se tratasse; sem indício de ruptura, como se fosse o prolongamento natural do seu próprio ser. Tanta mestria e delicadeza só podem ser obra de um poderoso artífice.
Brad Mehldau brindou-nos com cinco (ou mais?) encores, coisa raramente vista. Generosidade a rodos para um público que muito tossiu ao longo do primeiro terço do concerto. Mas tivemos muita sorte em ter Mehldau entre nós. Fosse Keith Jarrett, e o concerto teria logo acabado ao primeiro tema ou, o mais tardar, ao segundo.

Visto


O último de Altman.
Uma despedida em grande com um filme sobre o fim de um programa de rádio, gravado "in front of a live audience", com um elenco recheado de estrelas, todas em excelente plano.
Não sendo eu um grande fã de Meryl Streep, rendo-me neste caso à sua prestação vocal. Assinalo também a linda Virginia Madsen - um anjo - e Kevin Kline (tentem contar o número de vezes que entala os dedos...) - um dectective nostálgico dos noir doutras eras.
Finalmente, uma palavra para Garrison Keillor a interpretar-se a ele próprio, no seu próprio argumento, no seu próprio programa de rádio. Mais genuíno, é impossível.
Se não viram no cinema, vão buscar o DVD.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Brad Mehldau

A Ciência dos Sonhos




O último filme de Michel Gondry, A Ciência dos Sonhos, tem algumas fragilidades narrativas (muito exagero também, como se andássemos demasiado tempo em círculos), mas não deixa de ser extremamente sedutor, esse lado encantatório que nos é oferecido por uma mente que se debate com uma percepção distorcida das coisas.
Casas feitas de cartão, rios de celofane, mapas da “desastralogia”, ricas representações de um “eu” em permanente risco de rota de colisão com a realidade. E com a pessoa que ama, a terna e indulgente Stéphanie/Charlotte Gainsbourg.
Há no protagonista (Stéphane Miroux/Gael Garcial Bernal) um viver pelo excesso que só pode conduzir ao abismo. Mas o filme termina como um conto de fadas. Um belo conto de fadas.
Viva a anarquia do celofane!

terça-feira, janeiro 23, 2007

Milton Friedman

WSJ:
What is the biggest risk to the world economy: America's deficits? Energy insecurity? Environment? Terrorism? None of the above?

Friedman: Islamofascism, with terrorism as its weapon.

Excerto de uma troca de e-mails de Friedman com o editor da sua última entrevista ao The Wall Street Journal.

(via rede de informação Insurgente)

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Arquétipos do SIM e do NÃO

Lembrando o texto do filósofo Slavoj Zizek sobre a noção de ”típico”, que ancorada no senso comum é objecto de apropriação político/ideológica, aproveito para regressar ao tema do aborto.
A campanha do referendo à despenalização da prática do aborto até às dez semanas não tem sido assim tão diferente da ocorrida em 1998; emergem os argumentos de então, os arcaísmos de sempre, com os inevitáveis párocos, cónegos e bispos a ameaçarem, com o castigo da excomunhão, os cristãos que ousarem votar SIM no próximo mês de Fevereiro. Entre o risível e o terrorismo verbal.
De positivo, o aumento dos movimentos cívicos, embora quantidade não signifique necessariamente mais qualidade. Pelo contrário...
O Não e o Sim têm os seus arquétipos de estimação. Basta tão-só lembrar o caso da mulher emancipada, da classe média, que por “desleixo ou irresponsabilidade” engravidou e que por “egoísmo” decide abortar, subtexto presente em muitos dos artigos e opiniões de doutos representantes do Não. Já em relação ao SIM, temos “a família proletária” (queria dizer “carenciada”, mas não resisti ao anacronismo) que se confronta com o triste destino de ter mais uma “boca” para alimentar.
Evidentemente que as coisas não são assim tão manifestas, e que o quadro que tracei é redutor, havendo, de um lado e do outro da barricada, posições bem mais complexas. Mas convém não ignorar a força significante daqueles dois arquétipos.
O meu SIM, anteriormente exposto neste lugar imaterial que me dizem ser sustentado por uma benemérita empresa americana, não faz distinção (de ordem moral) entre a mulher burguesa e emancipada e a ”proletária”. Ambas têm as suas razões, como diria Jean Renoir. Apenas constato a profunda desigualdade entre quem (não obstante a legislação adversa) pode abortar em condições de razoável segurança (embora a preços inflacionados, convém não esquecer) e quem não tem escolha outra, a não ser sujeitar-se a condições médico-sanitárias deficientes, no limite, pondo em risco a sua própria saúde; é sobre estas mulheres que se abate todo o peso da realidade do aborto clandestino, flagelo a que importa dar resposta.
Quem defende a actual moldura penal, que prevê pena de prisão para a mulher que aborte, está necessariamente a desprezar a esfera de decisão desta última; a sobrepor um juízo moral abstracto à experiência concreta. E não se trata de um juízo moral inócuo, pois tem consequências no plano penal.
Se queremos defender a vida intra-uterina, então importa conhecer as razões destas mulheres, ao invés de as confinar ao mundo sórdido da clandestinidade. Entendo, por isso, a mudança da lei como uma janela de oportunidade.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Banir o passado

A propósito deste post do António, no A Arte da Fuga, lembrei-me de que o património histórico e arquitectónico português (ou seja, parte da nossa História) talvez esteja em causa.

Já passaram por Conimbriga?
Se não, devem fazê-lo depressa e visitar não só a parte escavada, da povoação Romana, mas também o museu (aproveitem para almoçar no restaurante, com uma ementa do tempo do Império). É que se se atrasarem, correm o risco de já não poderem apreciar a Casa da Cruz Suástica, dada a proposta alemã de proibir a exibição do milenar símbolo.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Avanços no aprofudamento da democracia

Prensa Latina:
The Venezuelan National Assembly is analyzing the conferral of special powers for the Executive to strengthen the revolutionary process.
The request should be approved before the end of the month, and deputy Hiroshima Bravo said it will help create socialism since it grants the president more strength and allows the country to have "more efficient laws."
President Hugo Chavez requested special powers to legislate in ten strategic areas that include the economy, finances, social activity, culture, security and defense.

Odemira: um concelho longe demais



As infelizes notícias que nos ultimos dias têm colocado Odemira nos telejornais, são bem a mostra de como os recursos do Estado deveriam ser orientados para servirem de protecção aos que mais dificuldades têm em prover os seus cuidados de saúde, por exemplo. Em vez disso, há uma vontade igualitária no SNS e nos seus sistemas de apoio, que a todos é devida protecção e que com ela todos podem contar em todas as alturas.
Uma rede de assistência pública, paga pelos impostos de todos (fornecida por privados ou por particulares) deveria ser um último recurso, um amparo de emergência ou um apoio temporal (o que se aplicaria aos recentes casos de cheias em Odemira). Não deveria ser uma garantia que entre sempre nos planos que cada um faz sobre os riscos que a vida acarreta (para si e para a sua família) e que por isso desmotiva outras precauções (como a poupança aplicada em seguros de saúde ou em planos para a reforma).

Em Odemira estamos a falar do maior concelho do país, onde a distância ao hospital distrital, o de Beja, é de perto de 100 Km e uma hora de caminho. Bem longe dos problemas levantados pelos autarcas do Norte, como o de Barcelos que se queixava na RTP de, dado o fecho da maternidade local, as grávidas teriam de se deslocar 20km por autoestrada até à maternidade mais próxima. Tornou-se figura nacional o Bombeiro Marques, cuja antiguidade nos BVOdemira lhe proporcionou a oportunidade de ajudar ao parto de dezenas de crianças a caminho de Beja.
Se considerarmos os limítrofes do concelho, a distância é ainda superior, por uma rede de estradas condicionadas pelo relevo serrano. Se pensarmos nos habitantes espalhados pelas aldeias e lugares das serras e montes do concelho (longe das planuras doutro Alentejo), estamos a considerar uma população envelhecida e com parcos recursos financeiros. É a esses que a rede de apoio público deve ser destinada. É para essa solidariedade que deviam ir os meus impostos e não para os programas de promoção de "justiça social" (tão populares entre os partidos portugueses) que muitas vezes não são mais que incentivos ao imobilismo e à indolência.
Enquanto não deixarmos para trás o conceito socialista de igualitarismo, de não criar diferenciações no fornecimento destes cuidados públicos, iremos limitarmo-nos a tentar esticar uma manta que a todos não vai tapar. Infelizmente, os mais fracos e desvalidos serão sempre os menos protegidos pelas políticas dos que clamam (mentindo) serem os seus campeões.

A Noção de «Típico», o Estado-providência e o Aborto

"...Por mais ridícula que possa parecer esta noção de típico, contém um núcleo duro de verdade, consistente no facto de cada noção ideológica aparentemente universal se ver sempre contaminada por esta ou aquela componente de carácter universal que deforma a sua universalidade própria e sapa a sua eficácia. Na rejeição actual do sistema do Estado-providência, característica, por exemplo, da nova direita nos Estados Unidos, a ideia muito difundida de que o Estado-providência tal como hoje existe não funciona é contaminada pela representação mais concreta da famosa mãe celibatária afro-americana, como se o Estado social constituísse, em última instância, um programa destinado a acudir às mães negras celibatárias: o caso particular da «mãe negra celibatária» é tacitamente considerado «típico» da ideia amplamente aceite que existe acerca do Estado-providência e do que nele não funciona como deve ser… E passa-se a mesma coisa com toda a noção ideológica universal: continua a ser necessário procurar o elemento particular que arruína a eficácia específica de uma noção ideológica. No caso da campanha da Maioria Moral contra o aborto, por exemplo, o caso «típico» é o perfeito oposto da mãe negra (desempregada): a imagem de uma mulher profissionalmente bem sucedida e sexualmente livre, que confere prioridade à sua carreira em detrimento do seu dever «natural» de maternidade (imagem que entra em contradição flagrante com os factos, que nos fazem saber que a grande maioria dos abortos ocorrem em famílias modestas e numerosas).
Esta «inversão» específica, o facto de o elemento particular ser decretado «típico» da noção universal, é o elemento da fantasma, do fundamento/suporte fantasmático da noção ideológica universal – ou, nos termos de Kant, desempenha o papel de «esquematismo transcendental», traduzindo a noção universal vazia numa noção que se liga e aplica à nossa «verdadeira experiência». Enquanto tal, esta especificação fantasmática nunca é simples ilustração ou exemplo insignificante: é neste plano, em que a componente particular se imporá como «típica», que as lutas ideológicas serão ganhas ou pedidas. Para voltarmos ao nosso exemplo do aborto: a partir do momento em que percebermos como «típico» o caso do aborto numa família proletária numerosa e incapaz de suportar economicamente a entrada em cena de mais uma criança, a perspectiva sofre uma radical alteração".

Slavoj ZiZek, in Elogio da Intolerância.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

La Jetée



Ceci est l'histoire d'un homme marqué par une image d'enfance
Assim é La Jetée, filme de Chris Marker. Belo e trágico.
A narrativa é feita de uma sucessão de fotografias a preto-e-branco, imagens estáticas que nos fazem esquecer que o movimento é um atributo do cinema. E uma narração muito eficaz conduz-nos pelos meandros do tempo. De um tempo futuro, em que a humanidade está ameaçada de extinção; em que Paris não resistiu à destruição causada pela terceira guerra mundial.
Aos sobreviventes dessa catástrofe só resta uma solução: resgatar o passado. Cientistas usam estes sobreviventes para viagens no tempo, escolhem aqueles que estão prisioneiros de um acontecimento passado; de uma imagem; uma memória.
É assim que um homem regressa ao passado e redescobre a vida. E o amor.
"Fotoromance" de ficção científica. Profundamente cinematográfico.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Videclip Lounging

"They tried to make me go to rehab
I said no, no, no."

Ou seja: vão-se lixar!
A ouver no Videoclip Lounging.

Novo blog

O Elevador da Bica, de João Cândido da Silva e Vítor Matos.

Em campanha a favor do Não

DD:
BE vai denunciar hoje financiamentos do «não»(...)

«Para se ter uma ideia», afirma Francisco Louçã, este movimento «tem, desde Dezembro, o dobro dos outdoors na rua do que o PS», razão pela qual o movimento a que pertence o ex-ministro das Finanças só possa estar, na opinião do líder do BE, «a ser financiado por privados».
Segundo o deputado, o movimento estará «a seguir a lei», não recorrendo a entidades públicas, «mas isso eles é que terão de explicar».
O título do post refere-se às tácticas completamente idiotas do BE.
Afinal, não vão ser os "privados" (palavra demoníaca para os ideólogos do BE), com o seu voto, a escolher se mantemos o estado a que isto chegou, de incumprimento silenciosamente consentido da actual lei?
A insanidade do argumento é demonstrada com o esclarecimento que o movimento, onde Bagão Félix optou por expressar as suas convicções, está a "seguir a lei". Haja alguém que o faça.
Era bom que os demais possíveis votantes do Sim se demarcassem destes populismos imaturos.
(via Insurgente)

Adenda: Como é que o BE dispõe de orçamentos que ainda não foram entregues na CNE? E o que é que raio têm eles a ver com o que está em discussão por estes dias?

3º Seia Jazz & Blues

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Alice Coltrane (1937-2007)

Crime e Castigo

Quantos portugueses se dirigiram à polícia ou a outra instituição do sistema judicial para apresentar queixa ou denunciar a prática de aborto por uma familiar, por uma amiga, por uma namorada, por uma conhecida, por uma vizinha, por uma colega ou por uma desconhecida?

A todas as histórias de aborto (com a devida identificação da grávida) que são conhecidas, corresponde um imenso silêncio. Somos todos cúmplices de crimes sem castigo?

'Tá bem lembrado!



Aquilo de os Maias verem o eclipse como um sinal que os deuses lhes enviam, está bem visto. É mesmo muito original.
Só me lembro de tal coisa ter acontecido com Incas enquantos estes sacrificavam Tintin e os seus companheiros. De contrário, é mesmo muito inovador. Mesmo.

Visto(s)

aaaa

"Memórias de Uma Gueixa" é um grande, grande filme que apenas consegui ver em DVD.
Uma espécie de recompensa pelo visionamento da epopeia de Pata de Jaguar, salvo da barbárie pela chegada dos cristãos espanhóis, após ter passado minutos infindáveis à corrida pela selva, a fugir dos guerreiros Maias que o queriam cravar de setas.
Oops...
Desculpem lá - já vos contei o filme todo.
Já vos disse que "Memórias de Uma Gueixa" é um grande, grande filme?

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Videclip Lounging

Natalie


A culpa é de Israel.

AYAAN HIRSI ALÍ



“La primera vez que me caí de una bicicleta me sentí libre”. Eso fue hace poco.
Sí, hace muy poco, poco más de una década. [Ríe, con una risa que le ilumina los ojos; traviesa, recuerda cómo con una paga que le dieron en Holanda dentro de su estatuto de refugiada se compró unos pantalones baratos y se despojó su larga y púdica falda. Así su indumentaria no se podía calificar de indecente, cumplía con las normas de una buena musulmana. Cuando probó la bicicleta se cayó…]. Soy libre. Mi libertad comenzó hace 13 años cuando tomé el tren rumbo a Amsterdam, cuando decidí escapar de un matrimonio concertado. Fue entonces cuando opté por una vida en libertad, por una vida en la que no me vería sometida a alguien a quien yo no había escogido y en la que mi espíritu también sería libre.
Por qué abandonó su religión?
Sentí que me estaba convirtiendo en una apóstata tras el 11-S. Todas las declaraciones que Osama Bin Laden y su gente citaron del Corán para justificar los atentados, las busqué y estaban allí. Bin Laden citaba verdaderamente las aleyas de nuestro texto sagrado. “¡No es posible!”, pensé. Pero lo era, ¡allí estaban! El rechazo fue algo natural. Más tarde leí un libro, un libro que sabía que no me hacía falta leer porque yo ya había roto con Dios: El manifiesto ateo. Antes de llegar a la cuarta página sabía que había echado a Dios de mi vida. Me había vuelto atea. Lo descubrí estando de vacaciones en Grecia, y como no tenía a nadie a quien decírselo, me miré en el espejo y me dije: “No creo en Dios”. Hablé muy despacio y en somalí. Y me sentí bien, no experimenté ningún dolor, sino una gran claridad. La perspectiva de abrasarme en el infierno desapareció y mi horizonte se hizo muy amplio. Dios, Satán... Todo era producto de la imaginación. A partir de ese momento iba a pisar con aplomo el suelo bajo mis pies y orientarme a través de la razón y mi amor propio. Mi brújula moral estaba en mi interior, en absoluto en las páginas de un libro sagrado.
¿No cree que pueda haber un islam moderado?
La gente dice que los valores del islam son la compasión, la tolerancia y la libertad, y yo observo la realidad, las culturas y los Gobiernos, y veo que eso, lisa y llanamente, no es así. En Occidente, muchos aceptan ese tipo de aseveraciones porque han aprendido a valorar las religiones o las culturas de un modo no demasiado crítico por miedo a que les llamen racistas. Lo peor que se le puede llamar a un holandés es racista. Su pasado colonizador, el apartheid en Suráfrica… Para que nunca les puedan llamar racistas no tienen que cuestionar la inmigración, incluso cuando ésta socava los valores de Occidente. Me produce mucha risa la Alianza de Civilizaciones del presidente Zapatero. ¿Es civilización provocar un sufrimiento intolerable a las mujeres, señor Zapatero? ¿Es civilización violar los derechos humanos haciendo de las esposas, las hijas, una propiedad? ¿Es civilización la corrupción moral de los países islámicos?

Derradeiro esforço no Iraque


No discurso de ontem à noite, o Presidente George Bush anunciou a intenção de enviar mais soldados americanos para o Iraque, argumentado ser esse o único caminho para aplacar a violência sectária (eufemismo para a guerra civil) que grassa naquele país.
É difícil não ver nisto semelhanças com o caso do Vietname, onde então também assistimos a uma escalada da guerra, com os militares americanos a atingirem quase o meio milhão de mobilizados. E no entanto sabemos bem qual foi o desenlace dessa desastrosa guerra: a humilhante retirada e o período de desmoralização que se seguiu, pois à época da escalada da guerra já não havia qualquer saída (militar ou política). O mesmo impasse desenha-se agora no Iraque.
Derradeiro esforço (“stay the course” foi a expressão empregue por Bush) para inverter a insurreição, que ceifa cada vez mais vidas americanas, e assumir algum controlo sobre uma situação política que mina o poder de dissuasão da hiperpotência, no Médio Oriente e no resto do Mundo, assemelha-se no entanto a um gesto simbólico de impotência. No Iraque de hoje, a vontade americana conta pouco. E cada vez menos.
Receio que os Estados Unidos venham a pagar um preço alto por terem substituído a política pela guerra (ao contrário da célebre máxima de Clausewitz, aqui a guerra não foi a continuação da política por outros meios).
E vimos também como a ingenuidade, aliada a uma visão maniqueísta do mundo, pode ser tão letal. Saddam era o tirano sanguinário e os soldados americanos os heróis que iriam ser recebidos com flores em Bagdad. E o povo iraquiano libertado viveria feliz, num Iraque próspero e democrático que faria a inveja dos povos vizinhos. Mas o curso da História revelou-nos uma realidade muito diferente. Feita de pesadelo.
A invasão militar e a incúria dos primeiros tempos da ocupação precipitaram o Iraque para um quotidiano de caos e violência. Hoje, o Iraque talvez já nem chegue a ser um país. Os EUA dificilmente escaparão ao julgamento da História.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Notícia a partir tudo!

Que é como quem diz “Breaking News!”.
Parece que hoje, muita gente, ficou espantosamente aflita com a descoberta que o SNS é pago pelos impostos dos contribuintes.
Parece que descobrimos hoje que é deficitário e que, tal com os valores da dívida pública revelados há dias, terão de ser os mesmos de sempre (e os seus descendentes) a pagar o universalismo assistencialista do SNS e os custos que acarreta. A surpresa de mais um alerta “economicista”.
Realmente, não páro de me espantar.
Com a cara de pau, a pouca vergonha dos que negam que afinal não serão necessários mais impostos para manter o paradigma actual e que não pára de crescer (previsivelmente, até, com o fornecimento de mais um serviço, a IVG), com o desplante dos que defendem mais, muito mais, do mesmo.

As necessidades de financiamento do Estado não páram de crescer e mais impostos terão de ser, vão ser, cobrados, já ou num futuro qualquer. Podem-lhe chamar imposto para a saúde ou imposto para doença; é igual. Enquanto não estivermos dispostos a mudar este dogma, décadas a confortar os portugueses com a gratuitidade dos serviços do estado, vai haver mais aumentos de impostos. Se não formos nós, serão os nossos descendentes a pagar. Mesmo que mudemos de caminho agora, as dívidas acumuladas, só por si, continuarão a gerar aumentos de impostos.
Quem nos disser o contrário, mente com todos os dentes que tem na boca.

Já colocado no Insurgente.

Para que conste

Sim.

Mas ainda faltam alguns dias e o "nim" ainda subsiste na minha consciência...

Aborto. Perguntas e Respostas

Respondendo ao teu texto, Perguntas e Dúvidas III, penso tratar-se essa questão, desculpa-me, de mera retórica, aliás ela é comummente invocada pelos defensores do Não. Se o limite fosse estabelecido até às 12 semanas, então invocariam o caso particular da mulher que abortou às doze semanas e um dia... Não nos leva a parte nenhuma. Só conduz à paralisia. E a paralisia neste caso é continuar a assistir ao flagelo do aborto clandestino e ao aviltamento de mulheres obrigadas a comparecer perante os tribunais por causa de uma questão como esta. Que é do foro íntimo e privado.
Tenho a impressão de que, para alguns liberais (não estou a dizer que seja o teu caso), a liberdade individual se resume às mercadorias que se compram e vendem no mercado, às tais curvas da oferta e da procura. Quando entramos no terreno dos valores, logo não hesitam em impor a sua moral, consubstanciada na defesa da vida em abstracto, longe portanto das impurezas do sensível, a todos os que não comungam de tais posições .
A vida não é mais do que um processo e, por isso, qualquer prazo que fixemos não está isento de uma certa dose de arbitrariedade. Sem dúvida que há muito de verdade nisso.
Mas não estamos no domínio das soluções ideais, e a prática do aborto será sempre um dilema moral que se coloca antes de mais ao indivíduo, pois é da sua esfera de decisão, à qual o Estado não deve sobrepor-se.
Quando falamos em dez semanas (estou a citar de cor o Albino Aroso, pai do planeamento familiar no nosso país e uma figura que eu sei que te é familiar), referimo-nos ao período em que ainda não está formado o sistema nervoso central, muito embora não saibamos determinar o momento exacto em que este se forma, pois a vida é acima de tudo, como disse atrás, “um processo”. As dez ou as dozes semanas são os limites normalmente aceites pela comunidade científica e pelo legislador na generalidade dos países europeus (as excepções somos nós, a Irlanda e a Polónia). Mas não deixamos de estar no plano da dura realidade, não no mundo das ideias puras, dos princípios imaculados que não são desta vida.
É evidente que toda esta argumentação cai por terra, se considerarmos a vida como um valor absoluto, da ordem da metafísica. Mas sabemos que as coisas não são bem assim, na imperfeita realidade da vida somos obrigados a fazer escolhas nem sempre fáceis. Se atribuímos ao embrião ou ao feto a personalidade jurídica da pessoa humana, como decidir da vida ou da morte em caso de uma gravidez que implique sério risco para a vida da mulher? Quem deve viver ou morrer em tais circunstâncias? Neste caso, estamos sempre a ferir o princípio da vida, pois alguém terá de ser sacrificado. É por isso que a questão do aborto deve ser regulada no plano concreto, com bom-senso e razoabilidade, que é o que me parece que a lei que iremos referendar em Fevereiro traz. Estabelece-se um prazo em que a decisão é da mulher e do seu círculo íntimo. Mas acima de tudo dela. Quem não aceita a despenalização do aborto, está inevitavelmente a sobrepor a sua razão à dela. Mas é um dado incontornável que é ela, nas suas circunstâncias de vida, que está em melhores condições para decidir. Não nós.
Voltando atrás, a questão dos prazos ou limites não é solução perfeita, mas neste domínio nós não temos que inventar a roda. Existem países que têm, há quase trinta anos, implementada a legislação (refiro-me à proposta de alteração à lei consubstanciada na pergunta) que agora nos preparamos para referendar, e não consta que eles tenham sido confrontados com tantas excepções (mulheres a abortar fora do prazo estabelecido) a ponto de equacionarem a revogação das leis então aprovadas. Já te interrogaste por que razão a prática do aborto, dentro dos limites estabelecidos, deixou na generalidade destes países de ser questão política? Nenhuma formação partidária se tem atrevido a levar a questão ao parlamento ou a desencadear movimentos de vocação referendária. É consensual à esquerda e à direita. Sinal de sociedades amadurecidas? No chamado mundo ocidental desenvolvido (fora as excepções portuguesa, irlandesa e polaca), o aborto só tem existência política nos EUA, e ainda assim só nas terras da América profunda.

P.S. Respondendo à tua última pergunta, saber se é legal/ possível o homem impedir a mulher com quem tem uma relação amorosa ou afectiva de abortar, creio que estamos perante a cruel realidade da vida. Só temos como arma a persuasão (de que vale chamar à colação o Estado?). É a biologia, meu caro. Ou a lei de Deus, se quiseres.
A Fernanda Câncio responde melhor do que eu à tua pergunta.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Não serão saudades?

O Prof. Vital Moreira dá conta da sua tristeza ao verificar que no PS há uma "facção" de socialistas católicos que pode, até, ter "posições políticas privativas". E, pior, que activamente irão fazer campanha pelo Não no referendo sobre a despenalização do aborto. Qual será a parte "privativa" dessa tomada de posição?

Longe de mim a pretensão de o aconselhar, mas talvez seja altura de ele ponderar voltar a mudar de partido. Para um que preserve impoluta a santidade, perdão, a laicidade do pensamento único.

Setúbal em armas



O Educador da Classe Operária veio a Setúbal doutrinar o proletariado da Setenave, que se preparou para o receber já de G-3's em punho.

[vindo do Uma sandes de atum]

Direitos do homem


Terá o homem direito à depilação feminina?

Pergunta e dúvidas - III

Porque é que se considera que terminar o processo de evolução de um feto humano após as 10 semanas é o limite para separar uma acusação criminal, ligada à eliminação de uma vida humana, e a boa consciência de que assim estamos a respeitar os direitos das mulheres?
O que é que acontece de tão extraordinário alguns segundos/minutos/horas/dias depois da marca das 10 semanas?
Vai haver cronómetros nos "estabelecimentos de saúde legalmente autorizados", para verificar se uma IVG feita à última hora das 10 semans não se transforma num crime ou num grave peso moral para a sociedade que permitiu que o processo se iniciasse minutos antes?

Porque é que se deve aceitar a IVG em casos de violação? Acaso os direitos do feto mudam por ter sido concebido durante um acto sexual não consentido? O que separa os direitos desses fetos e dessas mulheres dos que resultam de sexo mutuamente consentido? Porque não se ouve os defensores do "Não" a pugnar pela proibição e criminalização absoluta do aborto (ou estarei menos atento...)? Há abortos menos imorais que outros?

Em caso de a gravidez resultar de sexo mutuamente consentido, poderá o pai opôr-se eficazmente à eliminação da vida do seu filho? Ou só as mulheres têm direito absoluto ao seu corpo e a decidirem sobre as consequências e resultados da sua prática sexual?

A jumped-up pantry boy who never knew his place

Morrissey invited to pitch for Eurovision

The BBC yesterday confirmed that the former singer with The Smiths was one "of a number of artists" who had been invited to take part in this year's contest to select the British entry.
The move follows reported comments from the singer after the UK entry, "Teenage Life" by Daz Sampson, came fifth from bottom last year. Morrissey was quoted as saying: "I was horrified but surprised to see the UK fail again. And there's one question I keep asking myself. Why didn't they ask me? That question keeps going round my head."

Videoclip

Actualizado com os sons oníricos da música electrónica do austríaco C. Fennesz e do canadiano Tim Hecker. E também uma versão estranhamente doce do lendário tema dos Joy Division, Love will tear us apart. Pela Susanna e sua mágica orquestra.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Pergunta e dúvidas - II

A resposta a dar à pergunta "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?" continua suscitar-me mais dúvidas que certezas.
Se por um lado sou sensível ao argumento da privacidade das escolhas morais de cada um, também sou sensível ao argumento de que elas poderão ter implicações no ordenamento jurídico que rege (bem ou mal) a todos os portugueses. Se por um lado, baseando-me tanto na fé (que me falta na minha relação com Deus) como na ciência, atríbuo ao feto a condição humana e com isso o direito a ter a sua vida defendida pelos outros membros da sociedade (dada a sua impotência para prover a tal), já sinto graves constrangimentos em aceitar impôr restrições às opções de ética de outros que não pensam ou sentem o mesmo que eu. Há um outro argumento, recorrente aliás, que diz que no corpo de cada mulher deve mandar ela. Completamente de acordo (mesmo no que diz respeito ao comércio sexual). Já não consigo compreender que se trate o feto como um invasor dos seus direitos de propriedade - não é ele uma consequência do exercício desse direito a dispôr do próprio corpo?
Inesperada consequência, não desejada consequência? Bom, creio ser facto conhecido de todos os que têm idade mental correspondente à sua idade física e que não sofram de qualquer deficiência impeditiva de tal descernimento, que a vida humana é gerada pelo sexo entre mulheres e homens. Não consigo ver nada de inesperado numa gravidez.

Que fique bem claro: eu sou contra o aborto.
Responderão, "Também não conheço que ninguém que seja a seu favor ou o incentive".
O que quero dizer é que sou contra o aborto como escolha para remediar uma má escolha de parceiro ou a falta de cuidados anti-concepcionais. Esta última então, nos dias que correm, com preservativos disponíveis em todas as mercearias e bombas de gasolina, com todas as campanhas públicas e privadas de disseminação do uso, é absolutamente indefensável como argumento desculpabilizador do recurso à IVG. O que quero dizer é que sou contra o aborto, porque a falta de responsabilidade na vida sexual dos pais não deve causar o fim de uma vida humana (nem quando a consideremos potencial). Porque um preservativo que se rompe não dá origem a nada inesperado - houve sexo, pode haver gravidez.
Remeter-me à leitura literal da pergunta facilitar-me-ia a resposta.
Não elimina no entanto todas as perguntas e dúvidas que tenho.

Mais uma: o que acontecerá, caso vença o SIM, àquelas mulheres que continuarem a recorrer às parteiras ("fazedoras de anjos")?
Quantas daquelas mulheres que engravidam e envergonhadamente abortam - quando o marido não pode ser o pai, por serem menores, por terem uma imagem pública a manter... - irão continuar a preferir o secretismo do muitos sítios que não são "estabelecimento de saúde legalmente autorizados"?
Irão ser presas e julgadas? A lei irá ser mudada ou não? Serão tratadas de maneira diferente das que se dirigiram a um hospital da rede estatal só porque optaram por praticar o mesmo acto - o aborto - entregando-se aos cuidados de não licenciados em medicina?
Sejamos coerentes: os adeptos do Sim, da despenalização do aborto (até às 10, 12, 9... semanas), devem também pugnar para que nenhuma mulher seja penalizada pela escolha do sítio onde praticar a IVG.


Visto


Finalmente vista, esta mui recomendável obra de Cronenberg.

O Polis de Setúbal

O Paulo Pisco escreve sobre as obras desenvolvidas por este programa e o seu impacto na cidade: "Um(a) Polis (com) sentido".

Odete

Regresso ao ano que findou. Por causa do cinema português, alvo recorrente das acusações de inútil subsiodependência e de falta de visibilidade aquém e além fronteiras.
Não parece ser esse o caso do último filme do cineasta João Pedro Rodrigues. Com efeito, Odete integra a lista dos dez melhores filmes de 2006 para prestigiada revista francesa Les Inrockuptibles. O texto não podia ser mais elogioso:

Cinq ans après le reversant O Fantasma, João Pedro Rodrigues se voit confirmé par Odete comme l’un des très grands auteurs du cinéma européen contemporain.
Véritable film de genres, entre nécrophilie e bisexualité, entre fable théorique et mélo. Odete interroge la notion d’identité comme aucun autre film cette année.

In Les Inrockupibles, 19/12/06.
Outros nomes do cinema luso têm tido reconhecimento lá fora. Casos da Teresa Villaverde, do Pedro Costa (de quem não sou um grande apreciador, à excepção talvez de O Sangue) e do Marco Martins.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Para casa


Tentem segurar-me.

Sonhando com uma praia

From nine till five I have to spend my time at work
The job is very boring, I'm an office clerk
The only thing that helps pass the time away
Is knowing I'll be back at Echo Beach some day

A ver, no Videoclip Lounging.

Projecto Multilingue

O projecto de lei para o ensino multilingue, da autoria do Bloco de Esquerda, tem sido alvo de várias críticas.
Eu, pela minha parte, confesso que o único aspecto positivo que consigo entrever é o do ensino da língua portuguesa “aos alunos que não a tenham como língua materna”. Mas este ponto é quase um apêndice, no projecto do bloco, pois não é inocente que seja relegado para o fim, discretamente. O essencial reside na apologia da diferença étnica, pois aqui o indivíduo não tem qualquer significância.
Desde logo o seu preâmbulo, um hino à ideologia multiculturalista e ao politicamente correcto.
Parece que alguns substituíram os dogma do materialismo histórico pelos do multiculturalismo. Nesta nova ideologia, as minorias étnicas ocupam o lugar que outrora pertenceu ao proletariado; da condição de oprimidos à de motores da História. Nela há o subtexto do imigrante sempre o oprimido (vejam-se as alusões ao caso francês), nunca são louvados os exemplos de sucesso, que os há, é preciso não esquecer. Incorre-se na segmentação cultural e étnica, privilegia-se o particularismo ou o pluralismo cultural em detrimento de uma cidadania universal assente nos direitos e deveres do indivíduo. Esta ideologia, de que o BE se tornou porta-voz, diz-nos que a sociedade de acolhimento tudo deve e tem de dar e nada pode exigir. É assim que o ensino da sua língua logo é entendido como fonte de opressão e discriminação sobre o imigrante (“Na verdade, muitas são as crianças que têm que falar português na escola enquanto que em sua casa ou no seu bairro falam a sua língua materna”). Devo dizer que não estou contra a existência do ensino das línguas maternas dos imigrantes ou de currículos e actividades escolares que emanem das suas culturas, o que crítico é a ênfase na especificidade étnica de que padece este projecto. Ora, não acredito que a via para uma sociedade mais inclusiva seja a da especificidade étnica, mas sim a que assente naquilo que mais nos aproxima, independente das pertença étnicas de origem, ou da religião ou da cultura em que crescemos. O reforço das políticas de ensino da língua portuguesa é indispensável a uma trajectória de sucesso de todos aqueles que escolheram viver no nosso país. Tal como o ensino de línguas que hoje assumem uma vocação universal, como o inglês ou o espanhol. Quantos jovens africanos não constroem a sua identidade a partir de elementos da cultura americana (o que aliás não é assim tão diferente de nós)? Mas tudo isto pouco ou nada é enfatizado neste projecto do BE, que fala demasiado em diferença étnica e pouco em igualdade de oportunidade. Esquece a importância dos aspectos de classe na pobreza e exclusão que assolam muitos indivíduos das camadas imigrantes. Bem, mas isto já é calão marxista.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Evangeline


Quem achar, é favor devolver aos perdidos.

O multilinguismo do BE

A mais recente proposta dos dirigentes bloquistas é que as turmas da escola pública tenham mais que um professor na sala, a ensinar os alunos tendo em atenção a língua de origem da sua família.Se bem me lembro do que ouvi na rádio, um dos exemplos citados foi o dos alunos descendentes de caboverdianos, devendo as aulas serem dadas em crioulo.

Mas em que crioulo? Uma simples busca na Wikipedia, informa-nos dos vários crioulos falados nas ilhas de Cabo-Verde e da suas significativas diferenças gramaticais e ortográficas. Claro que o proponente (creio que era Francisco Louçã que dava o exemplo) esquece que o português é língua oficial em Cabo-verde e como tal deve ser considerada também como língua de origem dos alunos (e das suas famílias).

Que impacto terá tal proposta na integração dos alunos na sociedade portuguesa? Que facilidades trará ela à sua integração no mercado de trabalho, por exemplo? Como ajudará a evitar que muitos milhares de pessoas se fechem nas suas comunidades de origem (e respectivas zonas habitacionais) e os decorrentes choques culturais com o mundo que as envolve?
E como se vai explicar a TLEBS a estes alunos?

Já colocado no Insurgente.

Luísa Todi


O ROS lista os eventos que marcam a comemoração de mais um aniversário da cantora lírica setubalense que nasceu a 9 de Janeiro de 1753.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Votos de um Bom Ano

De regresso, o primeiro post do ano.
Não vou respeitar a praxe ou a tradição blogosférica, não quero aqui fazer um balanço do ano que passou, dos acontecimentos para mim significativos no país e no mundo.
Os últimos dias do ano foram dominados pela pulsão do consumo e não por quaisquer exercícios de introspecção. Digamos que fiz precisamente o contrário do que é prescrito pelos prescientes profissionais da DECO, sempre bem acompanhados por alguns colunistas, da nossa douta imprensa, que não se cansam de censurar o comportamento irresponsável de muitos dos nossos compatriotas (entre os quais obviamente me incluo). Eles desempenham uma função que já foi dos padres, cuja importância social e simbólica não cessa de diminuir na nossa sociedade secularizada pela consumo presente. Leio no entanto que o meu comportamento até é racional à luz dos preceitos da escola austríaca (não sei por que desígnio fui levado a seguir o conselho do meu amigo, e co-autor do Office, Luís Silva, e lá dei uma vista de olhos pelo Economics for Real People – A Introduction to the Austrian School).
O mundo é um lugar estranho. Sabemos que o desacordo entre o ser e o dever ser é um dado inelutável da vida. Mas lá vamos tentando compor as coisas.

O Som no Office


Metheny Mehldau - Pat Metheny/Brad Mehldau

Se não fôr o álbum do ano 2006, está lá muito em cima.

Visto


Helen Mirren merece a ida ao cinema para ver contada a história dos dias em que a Casa Real inglesa foi abalada pela morte da Princesa do Povo.
Apesar de interessante, não me irá deixar grandes recordações cinematográficas. Algumas das cenas protagonizadas por Mirren e por Michael Sheen (Tony Blair) conseguem alguma comicidade provocado pelo encontro de uma Inglaterra descendente do tradicional "stiff upper lip", da certeza que o destino de serviço ao Povo era à prova de qualquer dúvida ou crítica, e o líder da 3ª Via Socialista, eleito por uma sociedade que se atreve a questionar a continuação da monarquia (como é o caso da própria Cherie Blair).

terça-feira, janeiro 02, 2007

Estará Israel a testar armas químicas de fabrico bovino?

O rei Abdullah II da Jordânia foi vítima de um fedorento ataque, levado a cabo por vacas israelitas.
As autoridades israelitas, tendo em conta a importância da manutenção da paz com aquele país, já puseram cobro a este ataque não planeado por Tel Aviv.

Sendo assim, obrigado pá!

É com grande orgulho no trabalho produzido, que agradeço a distinção que o 31 da Armada me atribui nos "PRÉMIOS 31 DA ARMADA 2006" - PRÉMIO "Gostas pouco gostas".

Só posso prometer continuar a gostar.
Muito.

...and now, for a completely brand new year...

De regresso ao trabalho e à blogosfera depois de umas curtas mas preciosas férias.
A todos os que por aqui passam, votos de um bom 2007.