sábado, maio 30, 2009

Soy Cuba


O grande Mikhail Kalatozov fez este filme em Cuba, no ano de 1964. Era um filme que pretendia glorificar a gesta revolucionária do povo cubano.
Admiravelmente filmado, com referências a “Que Viva o México!” de Sergei Eisenstein, Soy Cuba é um poema visual. Com as marcas da intemporalidade.
Esta obra de Mikhail Kalatozov foi porém relegada para o limbo do esquecimento durante quase trinta anos, até ser resgatada por dois americanos muito respeitáveis. Falo de Martin Scorsese e de Francis Ford Coppola.

"O Homem Avaliado"

É assim que o filósofo José Gil vê o homem do século XXI. O Nosso tempo submetido aos tecnocratas da Avaliação e dos Recursos Humanos (outro grupo de interesses que, à semelhança dos executivos financeiros, não é devidamente escrutinado)que tudo querem reduzir a parâmetros quantificados.

A entrevista pode ser lida no Público:

P - Não se pode comparar, quantificar?

JG - Não. O que se põe agora nos parâmetros e critérios de avaliação, que se multiplicaram, é uma espécie de factores analisados, decompostos, daquilo que era o terreno da intuição. Por exemplo, mede-se a criatividade. Ora a criatividade o que é? O que é a produção do novo? Como é que se inventa? Quais são os processos de invenção?

Como sabemos, na ciência, a invenção está muitas vezes fora da escolaridade, do ensino, das regras. São as pessoas um bocado desviantes que fazem as maiores descobertas e depois tornam-se Nóbeis, etc. Isto tudo é abolido pelo controlo da avaliação. Quer dizer vai-se abolir a singularidade, a capacidade de inovação, porque se integra este terreno da intuição numa aferição da performance, do desempenho, que é quantificável.

[...]

O que aconteceu foi, portanto, uma inversão a ordem de subordinação aprendizagem/conteúdos, por um lado, e, por outro lado, a avaliação .Quer dizer que a avaliação multiplicou os seus parâmetros e absorveu o terreno da aprendizagem, de tal maneira que passou a ser o critério que vai definir a aquisição de conhecimentos, os resultados da aprendizagem, etc. Antigamente era o contrário. A avaliação, por um lado, já estava integrada e subordinada à formação do indivíduo e à aquisição de conhecimentos e integrada num, terreno em que se mexia também toda uma série de factores de que nós não podemos ter, felizmente, o controlo. Que são os factores da criação.

[...]

É uma questão de controlo e uma questão de poder. Isto não vai fazer desaparecer a inovação, não vai fazer desaparecer as grandes descobertas científicas. O que vai fazer é criar um hiato, uma separação cada vez maior. Vai haver uma elite hipercientífica, filosófica não sabe, hiperespecializada, e essa sim poderá inovar.

sexta-feira, maio 29, 2009

Frases...

"A crise é o resultado da ‘luta de classes contra os mais pobres’ realizada pelo sistema financeiro norte-americano com a cumplicidade do poder político".


Joseph Stiglitz


”E em breve poderemos estar perante o paradoxo dos salários: os trabalhadores de uma empresa podem ajudar a salvar os seus postos de trabalho ao aceitarem salários mais baixos, mas quando a generalidade dos empregadores corta salários ao mesmo tempo, o resultado é um aumento do desemprego”

Paul Krugman

Uma Regulação Muito Portuguesa

Portugal é um país onde existem reguladores, o que não faz de nós uma excepção. Nem na Europa, nem por esse mundo.
Mas os nossos reguladores afirmam o direito à diferença. O direito a ser a voz do dono. Ou, melhor dizendo, o direito a assumir como nossas as causas do governo. Do governo, seja ele qual for.
É a excepção portuguesa. Ou uma regulação apaixonada, se quisermos. Por isso, é sem surpresa que vemos o Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, elogiar o programa económico de Vital Moreira, o candidato do partido do governo às eleições para o parlamento europeu. Ou que vemos a Entidade Reguladora para a Comunicação Social condenar a TVI, por falta de isenção (“desrespeito das normas ético-legais aplicáveis à actividade jornalística”) na cobertura dos factos noticiosos associados ao Primeiro-ministro e ao governo em geral.
No caso da ERC, o dever de isenção termina onde acaba a esfera do governo. De pouco importam os partidos políticos, as associações ou as pessoas comuns. Estas últimas não raro são vítimas de linchamentos mediáticos às mãos da nossas televisões, sem que a ERC esboce qualquer gesto. Veja-se o caso da professora de história, cujo direito à reserva foi despudoradamente violado, através de imagens truncadas que entraram vezes sem conta pelas nossas casas adentro.
Mas imaginemos que os membros da ERC perseguiam sinceramente o fim de impor o dever de isenção a todos os órgãos de comunicação social. De um dever de isenção que eles, erradamente, confundem com neutralidade. Então não poderia haver imprensa alinhada, de esquerda ou de direita. Ou contra ou pró-governo. No limite, deixaria de haver jornalismo de causas. E a ERC necessitaria de um exército de funcionários para pôr na ordem os recalcitrantes. Teríamos um mundo asséptico.



P.S. Pegando no caso da menina russa, que tanto tem inflamado a opinião pública. Seria mais um caso em que os membros da ERC teriam necessariamente de intervir, pois a linha editorial dos medias em nada tem sido favorável à mãe biológica. Chegou até ao ponto de erigir umas simples palmadas em argumento supremo da prática de maltratos. Ora, não haveria aqui, também, um dever de intervenção dos senhores que velam por aquilo que vemos, ouvimos e lemos?

Se a tal estiverem dispostos...

... podem ligar a Rádio Europa Lisboa em 90.4 FM, hoje pelas 18:00 horas e ouvir o programa "Descubra as Diferenças".
Hoje
à conversa com a Antonieta Lopes da Costa e o André Abrantes Amaral estarão o Miguel Botelho Moniz e este vosso escriba.

O tempo passou depressa enquanto falávamos sobre:

Autoeuropa e BPN – A Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa ainda não aceitou as propostas de flexibilização laboral apresentadas pela administração da empresa. Será impossível conciliar direitos e trabalho? No seguimento das declarações de Oliveira e Costa, Dias Loureiro demite-se finalmente do Conselho de Estado, já vem tarde? E Vitor Constâncio, devia também demitir-se?

- Europa ao rubro – A campanha eleitoral para o Parlamento Europeu está na rua e os candidatos trocam as normais acusações entre si. Entretanto, a Comissão Europeia pediu explicações ao governo português sobre os ajustes directos entre o Estado e as empresas que fornecem o computador Magalhães. O que mais podemos esperar da Europa?

- Ordens profissionais – O Bastonário da Ordem dos Advogados afirmou existirem advogados que praticam actos ilícitos e voltou à carga numa entrevista explosiva concedida, há dias, à TVI. O que pretende Marinho Pinto?

No fim, lá ficou a música que sugeri tendo em conta este período eleitoral.

Adenda: Já está disponível a gravação em podcast do programa.: 1ª Parte e 2ª Parte

Escolhidos a dedo

Quando Mário Soares foi escolhido como candidato oficial (por oposição ao alternativo candidato do “milhão de votos”) do PS às presidenciais, não consegui deixar de entreter o pensamento que tal tinha sido uma escolha estranha. Porque raio haveria José Sócrates de apoiar quem, meses antes, tinha participado activamente na campanha de João Soares (seu filho) para o lugar de Secretário-Geral do PS. Se não me falha a memória foi até uma campanha assaz aguerrida (também o alternativo candidato do “milhão de votos” participou).
O resultado das presidenciais foi o que foi para o PS.
Novas eleições, nova escolha de candidato. O PS, guiado de forma inquestionável por José Sócrates, escolhe Vital Moreira para cabeça-de-lista. Um intelectual ex-comunista (pecado ultra capital para quem ainda o é) com um discurso e imagem pública a condizer.
Passados que são os primeiros dias de campanha, começam a acumular-se os momentos menos felizes do candidato. Contradições com a liderança, propostas desalinhadas com a posição da direcção partidária, prestações menos felizes nos debates televisivos. E ainda falta mais de uma semana.
Serei só eu ou mais alguém pensa que José Sócrates não tem feito nenhum favor ao PS com as suas escolhas de candidatos?

Já colocado no Insurgente.

domingo, maio 24, 2009

Leituras sobre carris



Nice Work - David Lodge

O título em português é "Um Almoço Nunca É De Graça".

quarta-feira, maio 13, 2009

Suponhamos que...

 
"Jorge Santana candidato independente à Câmara Municipal de Setúbal pelo PSD almoçou anteontem com Carlos de Sousa, ex-presidente da Câmara de Setúbal, que renunciou ao cargo durante o actual mandato e desfiliou-se há poucos meses do PCP. "
 
Pelos vistos, há quem se lembre dos resultados eleitorais de Carlos Sousa e do peso que o seu nome pode ter na população que ainda não esqueceu a maneira alarve como o PCP tomou para si o poder de alterar os votos dos cidadãos e entregar a gestão do munícipio a uma camarada escolhida sabe-se lá como de entre a pool de obedientes camaradas. O que leva a à consequente pergunta (levantada também nos comentários da notícia citada): que aconteceria se Carlos Sousa quisesse avançar com uma lista de candidatura à CMS?

terça-feira, maio 12, 2009

Lembram-se do Professor Balthazar?


Para lembrar o Vasco Granja.

segunda-feira, maio 11, 2009

Reflexões desordenadas sobre a violência urbana, com a Bela Vista em pano de fundo

Há alguns equívocos nesta coisa de associar a pobreza à violência social e urbana, algo que a esquerda e mesmo muitos outros fora do espectro desta têm feito até à exaustão, a ponto de não mais se distinguir de um qualquer dogma. Neste caso de um dogma feito da vulgata das ciências sociais. É indulgente e socialmente muito perigoso.
Não estou com isto a dizer que a pobreza e as injustiças sociais não contribuam para eclosão da revolta e dos fenómenos de violência que por vezes lhe vêm associados. Apenas sustento que as relações (entre pobreza e comportamento criminoso ou violento) não são lineares ou simples. E nem sempre evidentes, pois múltiplas são as causas da violência (estou aqui a circunscrever este conceito aos fenómenos de criminalidade urbana grupal, envolvendo jovens, e não às formas de violência simbólica que grassam na nossa sociedade).
Sinto que, perante acontecimentos como os ocorridos agora na Bairro da Bela Vista, nos socorremos dos discursos de sempre, como se estes nos pusessem a salvo da realidade. Como se estivéssemos a brincar às ideologias. Assim, se somos de esquerda, a culpa é das (iníquas) políticas do Estado que geram cada vez mais desigualdade e injustiça, e que, enquanto não combatermos eficazmente estas causas, a criminalidade persistirá. Se somos de direita, dizemos grosso modo que a culpa é do estado social, da brandura das leis penais e da imigração sem freio.
Em suma, a esquerda pensa que resolve o problema com mais e melhores políticas sociais; a direita, com leis mais duras e mais polícias na rua.
É honesto reconhecer que, sobre esta temática, o discurso da esquerda é largamente dominante no espaço público, a ponto dele fazerem eco actores de outros espaços ideológicos e culturais (vide, por exemplo, o caso de figuras da Igreja Católica). Mas convém não perder de vista que o discurso da direita alastra perigosamente entre os que não têm voz, aqueles que se sentem mais directamente afectados por este tipo de criminalidade urbana. E isso poderá dar origem a movimentos populistas, como os que existem por essa Europa fora.
Situando-me algures nas esquerdas da esquerda, não deixo porém de entrever os limites das políticas sociais. Não estou a dizer que estas não tenham produzido resultados (ainda que a espuma dos dias tenda a ocultá-los), ou que não sejam necessárias mais políticas e programas desta natureza, em face dos problemas que enfrentamos. Estou a falar dos limites de tais políticas. Que podem estas políticas perante uma sociedade desprovida de valores éticos, cuja referência última é a acumulação material de riqueza material ou o consumo desenfreado? Que podem estas políticas perante uma economia de casino com o seu cortejo de enriquecimento ilícito, de corrupção e de toda a sorte de malfeitorias (vide os banqueiros e os executivos da alta finança)?
Importa, também, reconhecer que existem limites que não radicam nas instituições societais, mas sim na natureza humana. Por mais perfeitas que sejam as políticas sociais, por mais recursos que mobilizem, elas nada podem contra o lado sombrio da natureza humano. Contra o fascínio que a violência exerce em muitos de nós, a ponto de ser uma espiral da qual não conseguimos sair. E da qual retiramos prazer! Infelizmente, não somos o bom selvagem de Rousseau. Isto, que se aplica à vida do gangue, foi algo de que nos esquecemos. Nós, os de esquerda, os cientistas sociais (embora não os historiadores militares nem os antropólogos) e ainda as muitas consciências bem pensantes no conforto da sua existência. Em Portugal e na Europa.
Ora, para fazer face a grupos cada vez mais violentos e ousados, é necessário contar com forças policiais eficazes e actuantes. Não bastam as políticas sociais, a polícia também é parte da solução! A esquerda não deveria ter complexos quanto a isso!
Eu confesso, pela minha parte, que gostaria de viver num mundo em que não houvesse Estado, mas reconheço que a alternativa (imediata) poderia ser bem pior. Prefiro o Estado a um mundo dominado por gangues. E penso que os moradores da Bela Vista também.

Desculpem lá qualquer coisinha

Via DD:
 
"Apenas um dos cinco detidos durante uma tentativa de assalto ao Intermarché do Carregado habita perto da Bela Vista, na Avenida Bento de Jesus Caraça, contígua a este bairro.
Os outros detidos moram noutros bairros de Setúbal: Manteigadas, Miradouro, Cooperativa de Habitação da Praça de Portugal e um outro no Seixal.

Segundo a polícia, os cinco homens já estavam a ser investigados por roubos com armas de fogo a viaturas. Em comunicado divulgado no domingo, a PSP afirmou que os jovens agora detidos, com idades entre os 20 e os 25 anos, formavam um «grupo perigoso de assaltantes que operavam na margem sul e área metropolitana de Lisboa»."

Coitadinhos.
Claramente não foram suficientemente acarinhados pelos cientistas sociais que os meus impostos pagam.

Já alguém lhes pediu desculpa?

 

sábado, maio 09, 2009

Que mais dizer?

Que mais se pode dizer?
"Eu avisei!"...?
Não me parece nem teria importância alguma.
Tenho pena, tenho mesmo muita pena. Principalmente pelos muitos milhares de nós que com o esforço do seu trabalho tudo isto pagam.
A razão porque aqui chegámos, claro, é das políticas neo-liberais. Claro. Foram delas os últimos 35 anos.
À noite, socialistas, comunistas e todo o exército de cientistas sociais que são seus clientes dormem o descansado sono dos justos.

quinta-feira, maio 07, 2009

Não posso dizer que não me surpreendeu

Ontem à tarde, a vendedora das Edições 70 na Feira do Livro disse-me que já não tinha nenhum exemplar de “O Caminho para a Servidão” de Friedrich August von Hayek porque esgotou o stock que tinham levado para o stand.

segunda-feira, maio 04, 2009

Vasco Granja (1925-09)

Hoje, a morte ceifou a vida ao Vasco Granja.

Ao Vasco Granja, a quem devo o gosto pela animação, a da América do Norte e a da Europa do Leste, cujos filmes animados causavam estranheza, mas entranhavam-se.

O seu Cinema de Animação é um marco na história da RTP, e já era tempo de o reporem naquele canal por cabo dedicado às memórias.

Eram outros tempos, em que a televisão ainda não tinha sucumbido à imbecilidade mercantil deste nosso presente.

O Vasco alargou os horizontes de muitos miúdos e graúdos. Fazia serviço público. E podia ter dado muito mais à televisão portuguesa e a todos nós. Infelizmente, não lho permitiram. Prevaleceram os medíocres.

Partiu um homem bom.

Koniec

Até Sempre!