terça-feira, outubro 31, 2006

"Isto anda tudo ligado" - II

RR:

Há fortes possibilidades da Autoeuropa vir a produzir o novo modelo de carrinha que sucede à Sharan. O acordo laboral obtido no passado dia 18 foi decisivo.
A noticia (...) foi transmitida à Comissão de Trabalhadores (CT) pelo próprio presidente do grupo Volkswagen, Wolfgang Bernhard.(...)
O texto, hoje revelado pela CT, diz ainda que os colaboradores da Autoeuropa provaram, mais uma vez, que estão preparados para lutar pelo seu futuro, fazendo inclusive algumas concessões.

Lembram-se da sindicalista que dizia não ter receio de comprometer a produção de outra empresa?

Só se perdem as não dadas

O FCG adaptou um trecho d'Os Maias. Como ele mesmo diz, é um "excerto em adaptação livre de uma obra imprescindível a um qualquer plano nacional de leitura".

Então o poeta, sentando-se ao lado do seu amigo, fallou com nojo do Eduardinho.

- Ahi está uma torpeza que elle nunca commettera, trazer merdices ao Público! Nem ao Público, nem a parte nenhuma... Mas muito menos ao Público! ...

- Esse Prado, accrescentou elle, é um traste! Eu conheço-o; elle escreve num jornal, e já lhe dei muita bofetada na rua do Alecrim. Foi uma historia curiosa... Ora eu t'a conto... Aquelle canalha! quando me lembro!... Aquella vil bolinha de materia putrida!... Aquelle chouricinho de pus!

Truísmo

É coisa para perturbar um dia de trabalho num escritório: os agrafadores só ficam sem agrafos quando estamos a precisar de os usar.

Encontrar uma caixa com recargas número XPTO é tarefa mais díficil do que para o Woody Allen encontrar um canalizador ao fim-de-semana.
Se Deus está morto ou não, fica à vossa consideração.

Poupança em queda

Hoje comemora-se mais um daqueles "dias mundais". Desta vez da poupança (via SIC):

Durante anos Portugal foi um país de gente poupada. Com receio do futuro, os portugueses deixavam de lado todos os meses uma parte significativa do ordenado. Há uma década, a taxa de poupança, ou seja, a parcela do rendimento poupada, estava nos 14 por cento.

No entanto, no ano passado, este valor já tinha caído para os 9,2 por cento. Em 2006 deverá situar-se nos 8,2 por cento. Quer isto dizer que por cada 100 euros ganhos, os portugueses só deixam de lado oito euros e 20 cêntimos.

A este propósito, recordo um texto que aqui deixei em Maio passado (também na Dia D) - "No poupar está o ganho":

Esta tendência demonstra que damos mais valor à utilização desses rendimentos na actualidade, no consumo que fazemos, que ao seu diferimento como forma de assegurar consumos futuros, em tempos de menores ou nenhuns rendimentos. Isto é preocupante por significar uma diminuição da consciência que é responsabilidade de cada um tudo fazer para assegurar o bem estar próprio e daqueles que de nós dependem. O resultado é uma transferência para a comunidade das preocupações com o futuro, ampliando a dependência face a esta.
Em Portugal, nada disto é alheio ao alargamento do conceito de “estado social” que ocorreu nas últimas décadas.

Heresias socialistas

De acordo com os neoliberais, quer o peso do Estado, quer as organizações sindicais constituem entraves ao livre funcionamento do mercado, logo reduzem a performance da economia. Porém, com um forte do sector público e fortíssimos sindicatos, as sociedades escandinavas, que estão entre as mais competitivas no actual contexto da globalização, evidenciam que, no mínimo, não há uma relação necessária entre aquelas variáveis.
Segundo o European Industrial Relations Observatory, em 2004 os cinco países com maiores taxas de sindicalização são a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia, Malta e Noruega: entre 90,8 e 72,1 por cento, quando Portugal está meio da tabela.
Mais, quando comparamos as taxas de sindicalização da Europa (34,7) com o Mundo inteiro (15,0), somos obrigados a concluir que há uma correlação positiva entre a robustez do sindicalismo e o nível de desenvolvimento económico, social e político.

André Freire, in PÚBLICO, 30/10/06

P.S. O relatório sobre a competitividade do World Economic Forum pode ser consultado aqui.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Os guardiães nas muralhas dos privilégios

ADENDA II: A discussão continua muito interessante e seria uma pena perder-se no afundanço diário do blog. Volta ao topo.

(26/10/06) ADENDA: A discussão que se tem produzido na caixa de comentários deste post (do dia 23) parece-me de tal maneira interessante, que me parece justificar a sua repescagem.

(23/10/06)Este foi o meu texto publicado na passada sexta-feira na revista Dia D, sobre os privilégios que o Estado, através dos políticos que o gerem, concede. Políticas(os) liberais jamais deveriam considerar a hipótese de procurar atender aos interesses particulares de determinado grupo, usando os recursos financeiros ou legislativos do Estado.

Uma das características de um país, organizado em torno do intervencionismo estatal, é a existência de organizações que procuram obter privilégios para os grupos que representam. Ao justificar as suas pretensões perante os demais membros de uma sociedade e na sequência das prerrogativas que obtém do Estado, elas apresentam-se como guardiães do seu bem-estar. Para, sem preocupações, poderem tomar boa conta das tarefas que se propõem desenvolver, estas organizações conseguiram que o Estado lhes construísse uma rede de muralhas que protegem os seus membros. Dificultando o livre estabelecimento de relações e actividades económicas, estas muralhas criam custos acrescidos que vão além dos benefícios proteccionistas obtidos por um grupo em especial.
Olhemos à nossa volta para encontrarmos três casos de guardiães do bem comum: as ordens profissionais, os sindicatos e as associações industriais ou comerciais.
Os portões de acesso, ao interior das muralhas das ordens profissionais, foram preparados para dificultar ou impedir a entrada de novos membros. Os objectivos são salvaguardar os ganhos que advém do poder para fixar os preços dos serviços prestados pelos membros, estabelecer procedimentos ou normas e impedir que a competição e a inovação, trazidas por novos participantes no mercado, prejudiquem os que se conformaram com o status quo. Para isso usam o regime de exclusividade de autorização da prática e continuação de determinada actividade, concedido pelo Estado. A restrição de entrada no mercado, imposta, por exemplo, a recém licenciados (até em cursos aprovados pelos Estado), é causa clara de prejuízo para todos – excepto para os actuais membros das ordens. No entanto, nada deveria ser oposto à existência de associações profissionais de livre adesão, promotoras da contínua formação dos seus membros ou até de um conjunto de boas práticas deontológicas mas sem a concessão de poderes acima descrita. Essas entidades serviriam como certificadoras do desempenho dos seus membros, deixando-se que a concorrência valorizasse a sua credibilidade mas nunca cerceando o espírito empreendedor de ninguém.
Para satisfazer os sindicatos, concentrados em “centrais” com poder de agitação pública acrescido, o Estado é chamado a construir muralhas que protejam o emprego numa empresa ou sector. Não se consideram os efeitos nos desempregados (incluindo o aumento de custos com subsídios) e nos salários reais dos outros trabalhadores. Procuram obter, para os seus membros que estão empregados, condições que têm como efeito normalmente não discutido, a criação de entraves à entrada no mercado por parte dos desempregados (como são os salários mínimos). Esquecem-se que quanto maior o preço de um bem, menor a sua procura e abominam o conceito de trabalhadores como fornecedores actuando no mercado de trabalho. Dada a fixação de preços, muitos ficarão de fora deste mercado cada vez mais global, dificultando a possibilidade de virem a ser contratados por um outro preço livremente acordado.
Também as associações industriais ou comerciais procuram que se adopte legislação que defenda as suas posições do ataque de novos competidores ou de novas formas de satisfazer os clientes. Quer se trate de muralhas tarifárias, protectoras da invasão de produtos asiáticos, ou de fortificações que dificultem a abertura de grandes superfícies comerciais (com legislação nostálgica da Lei do Condicionamento Industrial), estas organizações requerem a intervenção do Estado. Prejudicados ficam todos os consumidores (via preços mais altos), os empresários que investiram na competitividade do seu negócio e a restante economia por via da ineficiente afectação de recursos.
É necessário deitar abaixo estas barreiras. Cabe a cada um de nós exigir o fim destes privilégios concedidos por um Estado demasiado interventivo e por governantes com demasiada vontade de regular os mercados, cedendo aos interesses particulares de cada um dos muitos grupos que hoje se protegem atrás das muralhas que lhes construíram.

Videoclip Lounging

Renascimento político

Example
Luís Inácio da Silva Lula obteve uma votação expressiva na segunda volta das eleições presidenciais.
São números que impressionam, mais de 58 milhões de eleitores brasileiros deram a sua confiança a Lula, o que constitui recorde absoluto na história eleitoral do país. Interrogo-me sobre que votação teria obtido, caso o seu mandato não tivesse sido marcado por sucessivos escândalos de corrupção, que em muito afectaram a imagem do partido dos trabalhadores (PT). Chegaria talvez aos 70% de votos.
Não obstante a sombra do “mensalão”, é preciso dizer que Lula soube governar à esquerda, com as política implementadas a reflectirem uma melhoria na distribuição da renda em favor dos mais pobres, num país marcado por profundas desigualdades sociais e regionais. Políticas sociais tais como a Bolsa-Família, o aumento do salário mínimo ou as medidas em prol de um sistema de educação mais inclusivo algum impacto por certo tiveram, pois mereceram renovada confiança dos eleitores brasileiros.

Visto

Example

Está lá dito.
Muitas vezes.
É uma história de embalar. Lembram-se delas? Não era preciso serem credíveis. Não precisavam ser certificadas por um painel científico. Acreditávamos que os seus personagens existiam e que todos se movimentavam para um final único, quase sempre esperado, desejado. Sabíamos qual era, mas mesmo assim ficávamos contentes por saber que ele se confirmava. Confortavelmente satisfeitos e embalados.
A crítica não gostou. Será que ainda sonham? Será que ainda conseguem acreditar sem tocar?
Quero lá saber.
Eu gostei. E digo-vos mais. O Paul Giamatti é um actor do c******!

PS - Inaceitável é a presença vísivel e constante do microfone. Como é possível, com as técnicas de edição hoje disponíveis, que ele apareça nas bobines de distribuição para exibição?

Começou

Já está.
Vi ontem a primeira loja enfeitada com uma bela Árvore de Natal.
A partir de agora, aparecerão, como cogumelos, por todo o lado.
Apesar de tudo, ainda bem.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Chloë


Alguém viu um coelhinho castanho por aí...?

Videoclip Lounging

Rádio Televisão Propagandística

Ontem, por hora do telejornal, a televisão estava na RTP 1.
Lá estava ele.
Percorrendo o país atrás dos seus "camaradas" (e não é que ele lhes chama, mesmo, camaradas...?), em campanha pela sua liderança, correndo contra ninguém, lá vai doutrinando as hostes sobre a sua heróica cavalgada reformista.
A repórter, acompanhando as imagens, anuncia a chegada. Anuncia a subida ao palco. Anuncia as palavras do líder. O líder anuncia a grandeza e pujança da sua liderança. A repórter repete o líder, não se dê o caso de termos estado distraídos a meter uma garfada à boca. Nem uma pergunta. Nada de factos novos. Nenhuma notícia que não pudesse ser dada no Acção Socialista.
Confesso que não sei como a coisa acabou. Após minutos intermináveis desta vergonhosa prestação de serviço público ao PS, mudei o canal para a SIC Radical.
Ao menos com o Jon Stewart sei que posso ouvir Lou Dobbs a dizer disparates, mas não são pagos por mim.

"Isto anda tudo ligado"

"Hei-de ouvir o teu parecer
hás-de me dizer
se é cada coisa para seu lado
ou se isto anda tudo ligado."

Sérgio Godinho


RSO:

A produção dos monovolumes da Autoeuropa poderá parar hoje, se os trabalhadores da Alcoa cumprirem a decisão tomada ontem à tarde, em plenário. A linha de produção pára pelo terceiro dia consecutivo e os trabalhadores decidiram impedir a saída de um camião com 160 cablagens, esta noite, da fábrica do Seixal. «Não temos receio de comprometer a produção de outra empresa porque é assim que e chamamos a atenção para o nosso problema», afirma Rosário Silva, coordenadora da comissão de trabalhadores (CT) da Alcoa.

Vem e Vê

















Vem e Vê, de Elem Kilmov
Violentamente poético.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Uma herança de Bush

André Abrantes Amaral quis recuperar o moral das tropas com recurso a um artifício retórico: sem a intervenção americana no Afeganistão e no Iraque (“destruição da células terroristas”), o mundo seria hoje ainda mais perigoso. E, além disso, os EUA não viram o solo pátrio ser novamente alvo de um ataque terrorista.
Olhemos então o mundo a partir dos interesses da hiperpotência americana.
Depois do sucesso inicial no Afeganistão, com a criação de uma ampla frente diplomática e o derrube do regime dos talibans, os EUA lançaram-se num projecto missionário nas territórios da antiga Mesoptâmia, fazendo uso de uma retórica não assim tão diferente da empregue pelos impérios Britânico e Francês ao longo dos século XIX e que se prolongou pelos primeiros decénios do século XX. Podemos ainda recuar a 1798, ano em que Napoleão empreendeu uma bem sucedida expedição militar ao Egipto. Bastará substituir as expressões “evangelizar” ou “civilizar” por “democratizar” e esbatem-se as diferenças entre discursos produzidos em distintos tempos históricos.
Hoje, é consensual que o projecto neoconservador, de promover através de um Iraque próspero e democrático uma revolução cultural que mudaria radicalmente a face do Médio Oriente, soçobrou no caos e na violência sectária. Muitos poucos duvidarão deste diagnóstico, não obstante os nichos fundados mais numa profissão de fé do que na razão (bem, mas sobre isso nada a fazer, ainda hoje há quem duvide de que a humanidade chegou à lua). E o que dizer dos renascidos persas? Que prosseguem lenta mas inexoravelmente o seu programa nucelar, insensíveis às demarches diplomáticas da Administração Bush? Junte-se-lhes a soberba da pobre e arruinada Coreia do Norte e temos um triste quadro da capacidade dissuasão americana.

Videoclip Lounging

quarta-feira, outubro 25, 2006

The Road to Guantanamo

Fui ver The Road to Guantanamo mais para cumprir a rotina de Segunda à noite, quase sempre pautada por uma sessão da sétima arte; para aligeirar o peso do primeiro dia de trabalho.
Mentiria se dissesse que não me deixei também levar pela actualidade do tema, a guerra ao terrorismo e a espiral regressiva dos direitos humanos a que se entregou a hiperpotência americana. Mas confesso que do Michael Winterbottom já me habituei a não esperar grande coisa.
O filme baseia-se na história (verídica) de três muçulmanos britânicos que, no Afeganistão, foram feitos prisioneiros dos americanos e levados para a base de Guantánamo, onde permaneceram cerca de dois anos.
Winterbottom cruza o registo do documentário, por meio de entrevistas aos três jovens, com o dispositivo ficcional, usado para reconstruir a odisseia desses mesmos jovens (neste plano o cunho realista é também evidente, pois socorre-se em grande medida de actores não profissionais, ainda para mais de Midlands, donde provêm os três protagonistas; a excepção é a personagem de Asif, o jovem que viaja até ao Paquistão para casar com uma rapariga escolhida pela sua família, interpretado por um actor profissional).
A assunção do ponto de vista dos rapazes (diga-se que bem-parecidos) não está em causa, o problema é de outra ordem: é a omissão deliberada.
Vemos Asif chegar ao Paquistão (onde iria casar-se) e encontrar-se com os amigos. Dormem numa Mesquita de Karachi, ouvem a prédica de um imã e decidem fazer turismo humanitário no Afeganistão. Pelo caminho, passam por Queta, que é, à semelhança de Karachi, um bastião do islamismo (mas disso nem uma palavra). Parecem nada saber da política da região nem tão-pouco que, naquele Outubro de 2001, estava iminente um ataque americano. Entram no território afegão e logo são surpreendidos pelos primeiros bombardeamentos da aviação dos EUA. Os nossos jovens estão pois à deriva no meio de um conflito; sucedem-se as imagens da guerra, mas nada sobre os talibans. São, de surpresa em surpresa, conduzidos até à província de Kunduz, no norte do Afeganistão, onde conhecem, como não podia deixar de ser, a brutalidade da Aliança do Norte. Não pensem que estou a dizer que os pobres jovens eram da Al-Qaeda, mas alguma forma de arregimentação ao extremismo islâmico há-de ter havido. Há aqui peças que são parte deste puzzle e que não nos são mostradas..
É pena que Winterbottom tenha escolhido o caminho da omissão. Porque se o móbil deste filme era a denúncia do tratamento desumano infligido aos presos de Guantánamo (que até nem está mal retratado), muito teria a ganhar com uma exposição mais rigorosa dos factos. Porque é de factos de que trata este filme, nele não se vislumbrando qualquer propósito estético. E porque mesmo que fossem combatentes, ou tão-só meros simpatizantes com a sua dose de ingenuidade, continuaria a ser imoral a forma como os americanos tratam os presos em Guantánamo, em profunda violação ao consignado na Convenção de Genebra.
The Road to Guantanamo recolheu fortes aplausos quando da sua estreia no Festival de Cinema de Berlim, o que só pode ser encarado como mais um sinal de erosão da imagem dos EUA. É, convenhamos, um mau sinal.

O livre exercício do contraditório

Vejo com agrado que a discussão está animada, ali abaixo, na caixa de comentários do texto "Os guardiães nas muralhas dos privilégios".

Óptimo; a liberdade de expressão e discussão sempre foram o objectivo deste blog.

terça-feira, outubro 24, 2006

Assim se vê a falta que faz um casaco quentinho agora que o Inverno se aproxima

Videoclip Lounging

Jantar setubalense

Com atraso, é certo, mas de qualquer forma aqui fica o meu agradecimento pelo convite que permitiu a mim e ao Marvão participar de mais um jantar de ilustres setubalenses, oportunidade para conhecer pessoalmente alguns que apenas tinha contactado na blogos.
Fico à espera do próximo.

Mais sobre o evento no Blogzira, no Cetobriga ou no Pode Ser Fácil.

Condi

Example

A ler (em português) ou a ouvir (versão alargada em relação à versão escrita), uma entrevista com a Secretária de Estado americana, Condoleezza Rice:

Quando eu olho para trás, para a queda do comunismo, apercebo-me de estávamos apenas a colher os frutos de decisões tomadas em 1946 e 1947. E penso: como é que eles se mantiveram firmes? Porque fosse qual fosse o dia, nesses anos, que entrassem no edifício do Ministério de Estado, as pessoas que aqui trabalhavam recebiam notícias como a de que os comunistas italianos tinham ganho 48% e os comunistas franceses, 46% dos votos. Em 1948, houve um golpe de Estado e a Checoslováquia tornou-se comunista. Em 1948, Berlim entrou em crise e ficou definitivamente dividida. Em 1949, a União Soviética lançou uma arma nuclear cinco anos mais cedo do que estava programado, e os comunistas chineses ganharam.
Se tivessem dito a alguém nessa altura que em 1989 e 1990 a União Soviética iria cair, que a Europa do Leste iria ressurgir serenamente em democracia, a Alemanha seria reunificada e a Polónia, Lituânia, Letónia e Roménia seriam membros da NATO, as pessoas teriam dito: «Isso é uma loucura!».
Hoje, estamos à beira de outra grande transformação. Não sei se levará 10 ou 20 ou 30 anos. Mas as pessoas olharão para trás e dirão: «Ainda bem que não escolheram o caminho mais fácil da mera estabilidade, e insistiram no desenvolvimento democrático.»

Demonstração de convicções de quem continua a afirmar não ser candidata às eleições de '08.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Olhares sobre o passado

Example
(1921-2005).
Aula Magna, dia 21 de Outubro de 2006.
Por ocasião de uma homenagem em memória do General Vasco Gonçalves, primeiro-ministro de Portugal nos anos idos de 74 e 75 (II,III,IV e V governos provisórios):

Vasco Gonçalves foi um homem que afirmando-se de esquerda ousou governar à esquerda.
Pezarat Correia.

Eu sou de uma família de oito irmãos, do campo, e queria que soubesse da minha boca que a primeira vez que comi carne foi nos governos do seu avô.
Vasco Gonçalves Laranjeiro, neto de Vasco Gonçalves, citando uma admiradora do avô.

Videoclip Lounging

domingo, outubro 22, 2006

Embracing



Embracing, de Naomi Kawase. No Doclisboa, dia 24 de Outubro às 21:00 horas.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Videoclip Lounging

Opinião na Dia D

Na revista Dia D, com o Público de hoje, o meu texto "Os guardiães nas muralhas do privilégios".
Aqui, brevemente.
[Liberalism] is no party of special interests because it does not provide or seek to provide any special advantage whatsoever to any individual or any group.
Ludwig von Mises

Consumir teatro em Setúbal e alhures

Basta ir à página da CMSetúbal para descobrir que na cidade existe mais que uma companhia de teatro em Setúbal.
Quantas delas apresentam os seus trabalhos no Luisa Todi?
Estarei pouco informado, mas parece-me que o Teatro Animação de Setúbal (TAS) tem o monopólio. Quanto ao serviço cultural que prestam à cidade, aí, então, estamos conversados. Tenho assistido a várias peças suas aos longos dos anos e saio sempre com vontade de não voltar, dada a pobreza quer dos textos, quer das representações quer da produção.

Por outro lado, tenho tido o prazer de assistir (*) a várias peças noutros espaços que demonstram que o público sabe bem como valorizar um bom espectáculo, mesmo sem os previlégios de que gozam as companhias oficiais das câmaras municipais. Basta ver quantos espectáculos têm salas lotadas (não só em Lisboa) e quantas companhias representam uma ou duas vezes para os amigos e familiares. Sejamos claros: não tem a ver com mais nada a não ser com a falta de qualidade do espectáculo que propõem (apesar da subjectividade do conceito é possível afirmá-lo). Porque deverão continuar a ser pagas essas companhias com o dinheiro público escapa-me, pois na realidade não têm o apregoado efeito de divulgarem uma cultura alternativa ao mainstream, uma vez que o público não aparece. O efeito é nulo! Talvez o próximo passo seja obrigar, coagir mesmo, as pessoas a irem ver o que afinal andam a pagar.

(*) - Sim, eu vou várias vezes por ano ao teatro e já fiz muitos kilómetros para ver um espectáculo, tal como voltarei a fazer no próximo mês de Novembro.

A fé dos teenagers

Example

Os teenagers da América profunda estão a perder a fé. Não, não são jornalistas e sociólogos liberais que o dizem, mas sim os próprios Reborn Christians:

Their alarm has been stoked by a highly suspect claim that if current trends continue, only 4 percent of teenagers will be “Bible-believing Christians” as adults. That would be a sharp decline compared with 35 percent of the current generation of baby boomers, and before that, 65 percent of the World War II generation

Genuine alarm can be heard from Christian teenagers and youth pastors, who say they cannot compete against a pervasive culture of cynicism about religion, and the casual “hooking up” approach to sex so pervasive on MTV, on Web sites for teenagers and in hip-hop, rap and rock music. Divorced parents and dysfunctional families also lead some teenagers to avoid church entirely or to drift away.


A estratégia para travar o declínio parece passar pela criação de uma estação que seja contracorrente à MTV. Resta saber se o rock cristão estará à altura de tão espinhosa missão.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Pobre Rivoli

Teve o desenlace esperado a ocupação do Teatro Rivoli: uma intervenção da PSP, pela noite dentro, desalojou o pequeno grupo que há vários dias fazia do teatro a sua casa.
A acção de protesto dos jovens actores teve sem dúvida visibilidade mediática, mas não provocou um sobressalto cívico na cidade. Não mais do que duas dezenas de pessoas à porta do teatro municipal, cuja gestão a Câmara municipal de Porto se prepara para entregar a privados. A “rivolução” nem sonho chegou a ser.
Ainda assim, este episódio algum embaraço há-de ter causado em Rui Rio, cuja imagem, à frente dos destinos da segunda autarquia do país, se assemelha cada vez mais à de um tiranete.
Os do costume assestaram baterias nos actores em gesto de desobediência civil, dizendo que era tempo de pôr cobro ao desbarato “do dinheiro dos contribuintes”. Eles repetem incessantemente esta fórmula, que neles assume propriedades quase mágicas, como se dela emanasse toda a realidade deste mundo...
Não está em causa a passagem da gestão de equipamentos culturais, do Estado ou das autarquias, para operadores privados; a participação de organizações da sociedade civil é vital para o florescimento de políticas culturais que sirvam os vários públicos da urbe. Mas quando a concessão a privados não é acompanhada da definição de critérios de natureza cultural ou da exigência de serviço público, mas tão-só de uma lógica contabilística, então é de temer o pior: o empobrecimento da oferta cultural e a exclusão de uma pluralidade criadores e produtores que tinham até então como palco o Rivoli. É o que poderá acontecer, se, como se diz, esta privatização significar o afastamento de companhias de teatro, de dança e de festivais de música ou cinema (como o Fantasporto). Será isto uma mais-valia para a cidade do Porto? Ou é apenas um expediente, de que o dr. Rui Rio fez uso, para punir cidadãos que se lhe recusam prestar vassalagem?

Os convidados da China

A propósito do convite que o PS fez para que o Partido Comunista Chinês esteja representado no congresso a realizar em Novembro, o DN noticia:

"Duvido muito, para não dizer que tenho mesmo a certeza, que os princípios do PS coincidam com os do PCC. Primeiro, um é socialista e outro é comunista. Um é partido com existência num Estado de Direito Democrático e o outro não. Finalmente, penso que os valores do socialismo democrático nem são apresentados, quanto mais defendidos pelo PCC", escreveu outro militante socialista, Carlos Manuel Castro, no seu blogue, Tugir (tugir.blogspot.com). Posições surgidas após a exibição, em vários canais televisivos internacionais, de imagens de guardas fronteiriços chineses alvejando mortalmente cidadãos tibetanos que pretendiam refugiar-se no vizinho Nepal. País independente até 1959, o Tibete foi anexado neste ano por Pequim. O Dalai Lama, líder tibetano e Prémio Nobel da Paz em 1989, vive desde então no exílio.

Para quem não teve oportunidade de ver na televisão, podem ver aqui, no YouTube, como os guardas chineses praticam tira-ao-alvo com os tibetanos.
A reacção de José Lello é lamentável:
(...) o secretário nacional do PS responsável pelas relações internacionais do partido, José Lello, assegura que o convite à delegação chinesa vai manter-se. (...) Lello, desvalorizando o que leu nos blogues: "Os autores dessas críticas não foram eleitos para coisa nenhuma."

Cazaquistão, um país diferente

BBC:

Kazakh bank gets own name wrong
Kazakhstan's central bank is to issue new banknotes despite a spelling error.
The notes bear Kazakh writing in Cyrillic letters, but the word "bank" is misspelt using an alternative Kazakh form of the letter K.

Example

"Kazakhstan has seven swimming pools (two with water completely to the top) and the woman with most abundant pubic hairs."

Borat (no Conan O'Brien Show).

Mudança de ares

Example
Após 500.000 visitas, o Insurgente sai do blogger e viaja até novas paragens.

Por favor, actualizem os vossos links com o novo endereço do Insurgente.
Estaremos por lá à vossa espera.

A birra terminou

DD:

O grupo que durante mais de três dias ocupou o teatro municipal Rivoli e que hoje foi retirado pela polícia de intervenção vai ser ouvido sexta-feira às 09:00 no Tribunal de Pequena Instância no Porto.

Repito o texto que ontem coloquei no Insurgente:

Os cidadãos portugueses que ocuparam um teatro no Porto não devem ser culpados pelas causas e consequências dos seus actos.
Eles fizeram-no porque o país assim se pôs a jeito. Dados os dinheiros gerido pelos agentes e representantes do Estado, as lutas pela distribuição dos apoios descambam em episódios lamentavelmente rídiculos, patéticos e irrelevantes aos olhos de quem apenas tem de pagar por tudo isto sem poder escolher, por si, a cultura que quer. Claro que as lentes das câmaras dos telejornais ampliam a proporção da birra de quem sempre achou que sabe melhor que ninguém como tirar este país da ignorância cultural. Aos ignorantes, resta-lhes ir pagando enquanto assistem a mais este espectáculo.
Desta birrenta "Rivolução" nada sairá a não ser o reforço das convicções dos que por lá acamparam. Eles estão numa luta de vida ou morte pelo futuro e salvação da Inteligência e do Espírito, os quais, sem o seu inestimável contributo (especificamente o seu, às urtigas o dos que tomassem o seu lugar nas livres escolhas dos ignorantes), reverteriam milhares de anos. Curioso nesta disputa é que os seus aparentes adversários são os mesmos a quem já de seguida irão propôr um subsidiozinho para educar (nem que seja à força de salas vazias) os que não querem ser educados.
Depois admirem-se que outros cidadãos se comecem a barricar em repartições de finanças, reclamando o direito à devolução dos seus impostos malbaratados pelos educadores do Povo.

Videoclip Lounging/Video Eno...

Susumu Yokota enfim, e Suzanne (não a de Leonard Cohen).

quarta-feira, outubro 18, 2006

Videoclip Lounging

Visto

Example

James Ellroy não será fácil de filmar.
O autor de The Big Nowhere (O Grande Desconhecido, que li há uns anos e que se passa no mesmo ambiente que a Dália Negra) ou de L.A. Confidential (que resultou num filme de boa memória) é duro, sem misericórdia, para com os seus personagens. E com os leitores: o enredo é sinuoso, nada será o que parece. Talvez por isso, o livro sofreu várias alterações na sua passagem a argumento.
Brian de Palma tentou pôr tudo em duas horas. Talvez demasiada ambição para tão pouco tempo. A mim, assim me pareceu, dada a grande velocidade narrativa, especialmente na parte final do filme (onde se torna patente a dificuldade de explicar quão turtuoso é o caminho para a verdade nas histórias de Ellroy). Pode apenas ser que, como fã de Ellroy e deste tipo de contos negros (filmados e escritos), eu quisesse mais.
Bom desempenho dos actores. Mia Kirshner muito bem como a "Dália" (pudémos vê-la na série "A Letra L", na 2:). Josh Hartnett convicente, num personagem mais adulto. Quanto à sua mais que tudo na vida real, já se sabe que a menina Johansson é boa. Actriz. Nota positiva também (mais uma vez) para Hilary Swank.

Dia de escolhas na Autoeuropa

Esperemos que os trabalhadores da Autoeuropa pensem no seu futuro e votem favoravelmente o acordo negociado pela CT e não se distraiam com demagogias de quem sempre se preocupa mais em servir uma agenda política cujos interesses não defendem a criação de riqueza e a participação dos trabalhadores nesse processo (RSO):

António Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores, acredita que os cinco plenários realizados ontem foram esclarecedores. «Penso que a mensagem passou, apesar de termos o sindicato dos metalúrgicos a insistir na questão do trabalho extraordinário».

Os exemplos de que o mercado produtivo na indústria automóvel é global e as deslocalizações uma realidade de fácil acontecimento, devem levar os funcionários da Autoeuropa a avaliar correctamente a sua posição como fornecedores de trabalho. A responsabiliade pelo seu futuro e pelo das suas famílias é sua. A continuação ou expansão da fábrica em Palmela depende da sua compreensão da concorrência global que enfrentam, agindo de acordo e aceitando as boas ou más consequências do seu voto sobre este acordo.
Notícias da Manhã:
“É um pré-acordo que poderá contribuir decisivamente para que nos seja atribuída a construção de um novo automóvel - sucessor do Volkswagen Sharan - e assim garantir o trabalho na Autoeuropa para os actuais e para mais 3 mil trabalhadores, nos próximos 10/15 anos”, afirmou à Lusa António Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores da fábrica de automóveis de Palmela.

terça-feira, outubro 17, 2006

On Dangerous Ground

Example
Um filme noir impregnado de lirismo.
De Nicholas Ray.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Daria

Daria Werbowy

Às vezes, este blog tem demasiadas palavras.

Sachs não está certo

Não é de todo evidente a conclusão, de Jeffrey Sachs, que os resultados dos países com taxas de impostos elevadas, sustentadoras de fortes modelos de redistribuição, sejam "astoundingly good".
Convido-vos a ir ao Insurgente ler o post que lá deixei: "O caminho para a servidão socialmente justa".

Festival de Blues de Setúbal

Em Novembro, no Fórum Luisa Todi, com abertura de portas às 21.30h e bilhetes a 3€ (uma noite) ou 5€ (as duas).
No dia 10 tocam Dêsso Blues Gang e Charlie & The Bluescats. No dia 11 actuam The Gama GT Blues Project e Nobody's Bizness.

Mais sobre o festival aqui.

Sobre o sindicalismo na Rússia

Por Boris Kagarlitsky:
In Russia, the non-affiliated trade unions that appeared on the wave of
social upheaval in 1989-90 went through a baptism of fire, after which came
a steep decline.
In terms of ideology and organization, the unions were not prepared for new
conditions after the end of the Soviet Union. Because they had appeared
during the Soviet era under the slogan of fighting the bureaucracy, they
were cynically used by liberal politicians looking for support from the
masses. The subsequent economic reforms brought a sharp decline in workers'
standards of living, redundancies, and occasionally even hunger. Independent
trade unions, which were meant to provide support for the reformers, were
discredited.
The Russian Federation of Independent Trade Unions, a national umbrella
organization that was part of the Soviet legacy, also failed to play a
heroic role. It took the side of the "red directors" -- Soviet-era bosses
who took over at many enterprises. They joined the red directors in first
criticizing, and then making peace with the government. It returned to its
role as a transmission belt from the authorities to the masses, but this
time the authorities were capitalist. In a demonstration of their loyalty,
the official trade unions have become one of the main props of the United
Russia party.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Negacionismo e Liberdade de Expressão

A França fez passar uma lei que penaliza doravante qualquer acto (um artigo de opinião ou um ensaio histórico, por exemplo) de negação do genocídio arménio, perpetrado pelos turcos em 1915.
As memórias do genocídio permanecem bem vivas entre os arménios e esta lei visaria proteger este povo, ou as comunidade que vivem em solo gaulês, do aviltamento causado pela proliferação de teses que negam a evidência histórica desse genocídio (até hoje não reconhecido pelo Estado Turco).
Este é um terreno muito movediço e uma lei com um nobre propósito pode gerar efeitos perversos na sociedade, minando o espaço da liberdade de expressão, que inclui, não nos podemos esquecer, o direito ao erro (embora aqui talvez fosse mais apropriado falar em má fé).
A questão dos negacionismos (do genocídio arménio ao Holocausto) deve ser tratada em sede própria, ou seja, no espaço público ou nos fóruns de debate; nos mídia, nas academias e nas universidades. È aí que devem ser depreciadas tais teses sobre trágicos acontecimentos da nossa história. Mas parece que a França escolheu o pior caminho. Ao criminalizar a opinião ( não no esqueçamos que o direito ao erro faz parte do exercício da livre expressão), ou a tese histórica, arrisca-se a fazer dos autores negacionistas vítimas do sistema. De um sistema que pune por delito de opinião e que, ao fazê-lo, investe (involuntariamente) de autoridade moral este autores.
Sintomático dos equívocos que à esquerda grassam, é que tenha sido um socialista o obreiro desta lei: Jean-Marc Ayrault afirmou que, com ela, estava a fazer “obra últil em nome do nosso passado comum”.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Videoclip Lounging

To celebrate the release of his critically acclaimed new album "The Outsider" DJ Shadow & Island Records are inviting fans and aspiring creatives to submit videos for his next single "This Time".(...)
The closing date is Friday 20th Oct.
DJ Shadow will be choosing the winning video which will be promoted gloabally. The winner will also receive a cheque for £1,000.

This day in history

Nesses idos, uma Playboy custava um dólar. Coisa que na altura nem me preocupava muito, embora mais tarde me viesse a interessar por coisas como preços. Entre outras.

quarta-feira, outubro 11, 2006

No Videoclip Lounging

Uma composição de Hanns Eisler. Um belo hino.

He who knows only music understands nothing about it.

Hanns Eisler

Mudam-se os tempos...Ou o Lux fora de horas

Entretanto, os hábitos mudam e com eles os horários de vida: No Frágil a gente chegava à meia-noite e a animação já era grande: uns bebiam, e algumas raparigas dançavam em cima das mesas: A entrada era seleccionada seja pela Anamar, seja pela Guida do Abraço (o Abraço veio mais tarde). E nós ali estávamos até às três da manhã. Hoje as coisa são completamente diferentes. Se aparecermos no Lux à meia-noite, vemos apenas alguns casais que num canto ciciam palavras de amor (suponho) ou algumas almas mais ou menos penadas que, aproveitando da solidão, se sentam na varanda e dali contemplam as paisagens ( a exterior e as interiores) . São portanto meia dúzia de gatos pingados (expressão curiosa porque serve para designar o número de pessoa que estão presentes. Quando as coisa enchem, os gatos deixam de pingar...). As grandes vagas de pessoas chegam por volta das duas da manhã e não pretendem sair antes das cinco ou da seis. Alguns estiveram entretanto a dormir e (por testemunho dos meus alunos, não sei se credível) alguns terão aproveitado para estudar.
Deve-se dizer que vestem todos de um modo muito idêntico. Sem qualquer sofisticação. Mulheres de salto alto batendo nas calçadas e rímel azul é algo que escasseia. É pena. Mas temos de nos adaptar a esta vertiginosa mudança de costumes...”

Eduardo Prado Coelho, in Público, 11/10/06.
É a vida, meu caro prof. Eduardo Prado Coelho. São coisas da massificação. E da democracia também.

terça-feira, outubro 10, 2006

Rússia: democracia ou autocracia?

Na Rússia, os sinais são de recuo dos corpos sociais que poderiam dar forma à democracia política. É o caso, por exemplo, da imprensa livre, cada vez mais alvo de pressão por parte das autoridades russas e das mafias do sistema. Com efeito, o jornalismo independente é uma profissão de alto risco, como ficou demonstrado pelo assassinato de Anna Politkovskaia, cujos artigos sobre a guerra da Tchechénia causavam profundo mal-estar no Kremlin e nos meios militares. Ser jornalista é, na Rússia, quase tão perigoso como ser mineiro, assim o dizem as estatísticas mortuárias.
O caminho parece ser o da autocracia (ainda que periodicamente legitimada por eleições), com um presidente absoluto governando por decreto e rodeado de instituições servis, com as câmaras parlamentares e os próprios tribunais a deixarem de constituir contrapeso ao poder executivo. Lembro um episódio do passado recente, em que os deputados da Câmara Alta abdicaram de prerrogativas próprias, depois de o Presidente Vladimir Putin ter ameaçado cortar subsídios e demais apoios, caso os parlamentares não acatassem o decreto presidencial que esvaziou esta câmara dos poderes de fiscalização de que estava investida.
Governar por decreto é prática institucionalizada na Rússia, Putin não teve de inovar assim tanto. O seu antecessor, Boris Ieltsin, privilegiou esta forma de governo e até se desembaraçou, pela força das armas, de um parlamento incómodo. Ele, sim, foi o coveiro das frágeis liberdades que emergiram com a perestroika de Mikhail Gorbachev. Diferenças, sim, na condução dos destinos da Mãe Rússia, pois que o consulado de Ieltsin foi caracterizado pela decomposição das instituições, pelas privatizações e o saque de recursos, enquanto Putin restaurou, aos olhos dos russos, a dignidade do Estado. Preside a um Estado que é novamente forte, mesmo que à custa da recuperação de velhas instituições soviéticas. E, além disso, é amado pelo povo, como se vê pelas manifestações (espontâneas ou ao velho estilo soviético) que se multiplicam em apoio à sua recandidatura a um terceiro mandato. Muito provavelmente, será mais uma vez legitimado pelas urnas, um autocrata eleito.
Enquanto isso, pouco mais de três mil pessoas reuniram-se numa praça de Moscovo em homenagem a Anna Politkovskaia. Mas a morte desta não parece ter gerado ondas de comoção pela Rússia. A liberdade de expressão não parece ser parte dos valores centrais que moldam a moderna sociedade russa.

Edmund Phelps e a justiça económica

A ler, na edição de hoje do WSJ, um texto no Nobel da Economia 2006 -"Dynamic Capitalism".
Depois de estabelecer uma comparação entre o sistema económico americano, inglês ou canadiano e o da Europa continental quanto ao dinamismo em gerar inovações que se tornem rentáveis, ele conlui que o primeiro sistema o promove enquanto o segundo o impede e desencoraja.

Para terminar, Phelps comenta a causa da justiça económica:

We all feel good to see people freed to pursue their dreams. Yet Hayek and Ayn Rand went too far in taking such freedom to be an absolute, the consequences be damned. In judging whether a nation's economic system is acceptable, its consequences for the prospects of the realization of people's dreams matter, too. Since the economy is a system in which people interact, the endeavors of some may damage the prospects of others. So a persuasive justification of well-functioning capitalism must be grounded on its all its consequences, not just those called freedoms.

To argue that the consequences of capitalism are just requires some conception of economic justice. I broadly subscribe to the conception of economic justice in the work by John Rawls.


Texto já colocado no Insurgente.

Nós policiamos mais que vocês

JN:

Os ministros da Administração Interna e Justiça, António Costa e Alberto Costa, ordenaram hoje uma "averiguação" à actuação da PSP e PJ à saída do Tribunal de Setúbal do assaltante de uma agência local do BES.(...)
Alguns órgãos de comunicação social referiram-se a "relações tensas" entre a PJ e a PSP de Setúbal desde quarta-feira passada, dia em que um homem de 57 anos assaltou uma agência local do Banco Espírito Santo (...).
A alegada "guerra entre a PSP e a PJ" voltou a marcar dois dias depois a saída do Tribunal de Setúbal do homem que manteve sequestradas quatro pessoas.
"Numa luta pela posse do arguido, que estava à guarda da PJ, a PSP encenou" para os jornalistas "a saída de um homem que, afinal, não passava de um farsante", enquanto "o verdadeiro envolvido saiu por outra porta, 45 minutos depois, acompanhado por elementos da PJ", segundo a SIC Notícias.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Visto

Example

"Some girls mothers are bigger than
Other girls mothers
"

Mais mães no cinema de Almodóvar. E como sempre, aparam as tragédias que a vida lhes atira. Grandes mães e grandes actrizes.
Mas este gajo não faz filmes maus?
Queria aproveitar para dizer gracias pelos planos que mostram o ponto de vista de quem estivesse no tecto, por cima da senhorita Cruz, enquanto esta lava a louça. Nem a mãe resiste a perguntar se sempre foram daquele tamanho...

Something’s Burnig or a fancy name for Esturrico

Nasceu um blog dedicado à perigosa e ardente arte da culinária.
É o resultado de uma coligação de vontades, formada pela “dezanove meses depois e atlantista” aL e pela insurgente Elise (esperemos que pratos árabes não estejam excluídos) Explosivo, pois.
E acho que será muito do agrado aqui do LA, que tem uma boa jantarada entre os seus grandes prazeres da vida. Bem, o autor desta posta é mais dado à bebida.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Videoclip Lounging

Foram mais de vinte mil

A manifestação dos professores, pela sua dimensão, merecia tratamento diferente daquele que lhe foi dado pelas televisões, em especial a RTP, que, alardeando ser serviço público, tinha a obrigação de se não vergar às regras da sociedade do espectáculo. Mas não, a maior manifestação de sempre protagonizada pelos professores, excedendo largamente o vetusto espectro sindical, foi remetida para a condição de episódio menor, por entre Setúbal (sempre falada pelas piores razões) e o futebol, que a diligente TV pública ministra em pesadas doses.
Pouca importa que a aludida manifestação tenha sido, de longe, o maior protesto com que o governo de Sócrates se viu, até hoje, confrontado. Ou que a revolta dos professores seja a expressão do despotismo iluminado que grassa lá para os lados da 5 de Outubro e que, justiça seja feita, é muito anterior ao consulado da dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues. Verdade se diga, que a ministra se tem esforçado por ser digna representante desse mesmo despotismo, ao fazer dos professores o bode expiatório dos males do nosso ensino.

quinta-feira, outubro 05, 2006

A excelência do jornalismo pago pelos contribuintes

Tudo correu pelo melhor.
Às quatro da manhã, a PSP entrou na agência bancária e prendeu a besta que durante treze horas manteve quatro pessoas como reféns.

Hoje de manhã, todos os canais noticiavam o acontecimento, explicando e mostrando o que se passou durante a noite. A TVI mostrou imagens, obtidas nas traseiras do prédio, que, através das janelas, mostravam o assaltante dentro da agência. Todos mostraram as declarações de um responsável da PSP relantando os passos que tinham sido dados para prender o assaltante, o qual estava aramado com uma pistola "completamente municiada".

Uma repórter da RTP1 faz um directo do local. Já tudo está calmo. Na imagem aparece, em rodapé, o nome da avenida ( Dr. António Rodrigues Manito), tal como na maioria dos directos desde ontem à tarde.
Começa o directo e ouço a senhora dizer que está na Av. António Viriato, onde a polícia prendeu o assaltante que tinha uma arma mas que esta estava descarregada.
Informação de qualidade da mesma estação que nos oferece o Preço Certo e a Dona Fátima Campos Ferreira. E somos nós todos que pagamos isto.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Too close for confort

SIC:

Entre quatro a seis reféns encontram-se no interior da agência do Banco Espírito Santo na Avenida Rodrigues Manito, em Setúbal, na sequência de uma tentativa de assalto às 14h30 desta tarde.
O assaltante é um indivíduo que está armado e que afirma ter explosivos.
Pelo menos alguns dos reféns são funcionários do banco, acrescentou uma fonte policial.
Cerca das 15h40 estavam no local três viaturas com elementos do grupo de operações especiais. Uma viatura de emergência médica e uma ambulância do Instituto Nacional de Emergência Médica chegaram entretanto às proximidades da agência.
Fonte da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Setúbal acrescentou que no local se encontra um "forte dispositivo policial", incluindo um negociador da força de segurança e elementos da Brigada de Intervenção Rápida.
A Avenida Rodrigues Manito e várias transversais de acesso encontram-se cortadas ao trânsito numa extensão de cerca de 250 metros.

Espero que tudo acabe bem e que este filho da puta seja preso.

EME



Novamente na Igreja do Castelo de Palmela, os Encontros de música experimental.
Este ano os encontros contam com a presença de nomes importantes da cena electrónica contemporânea, como os alemães Oval, o mexicano Murcof e a francesa Colleen, entre outros.
De 4 a 7 de Outubro.

terça-feira, outubro 03, 2006

Anita, Anita...


A Sandra chama a atenção para essa cândida menina que nasceu há 50 anos.
A sugestão da adaptação da série Anita para uma versão adulta é uma idéia vencedora. Pode ser que depois de "Jura", a SIC siga nessa direcção.

Videoclip Lounging

Robert Redecker e a liberdade de Expressão

Robert Redecker, professor de filosofia num liceu Toulouse e membro do comité de redacção da revista Les Temps Modernes, tem sido alvo de ameaças de morte por parte de grupos islamistas, na sequência de um artigo, publicado no periódico Le Figaro, em que expressava fortes críticas ao Islão. Por razões de segurança, Robert Redecker deixou mesmo de leccionar e as ameaças estendem-se agora aos membros da sua própria família.
O artigo é de facto polémico e, em parte, injusto, nas considerações acerca do carácter de Maomé (sem a devida contextualização histórica) e na violência intrínseca ao Islão (noutros textos religiosos, do Cristianismo ao Judaísmo, também encontramos passagens que legitimam a violência e o ódio ao Outro; como existem passagens que pregam a paz e o amor o próximo. São as circunstâncias da História que explicam a primazia de algumas correntes de interpretação dos livros sagrados).
Mas é também corajoso, porque nos alerta para a forma como os islamistas estão a colonizar o espaço público, o espaço da Polis:

Islam tries to impose its rules on Europe : opening of public swimming pools at certain hours reserved exclusively for women, ban on caricaturing this religion, demands for special diets for Muslim children in school cafeterias, struggle to impose the veil at school, accusations of Islamophobia against free spirits.

How can one explain the ban on the wearing thongs on Paris-Beaches this summer? The reasoning put forth was bizarre: women wearing thongs would risk “disturbing the peace”. Did this mean that bands of frustrated youths would become violent while being offended by displays of beauty? Or were the authorities scared of Islamist demonstrations by virtue squads near Paris-Beaches?


Referia-se o articulista à proibição, decretada pelo maire de Paris, o socialista Bertrand Delanoë, de “trajes indecentes" (topless, por exemplo) nas "praias" fluviais do Rio Sena e nos parques públicos da cidade, sob o pretexto de garantir a ordem pública.
Poderão ler aqui o artigo da polémica, numa tradução inglesa, porque, lamentavelmente, o Figaro decidiu retirá-lo do seu sítio na internet.
Deixo também o editorial do Le Monde em defesa de Robert Redecker, porque o exercício da liberdade é acima de tudo a aceitação do direito à livre expressão por parte dos que pensam de maneira diferente de nós. Encerrada nas fronteiras da concordância e do “respeitinho”, a liberdade é como uma flor murcha.
Este episódio é mais um indicador de que, na Europa, a Liberdade está sob a ofensiva de uma nova espécie de fascismo, de um fascismo que encontra a sua fonte de legitimação no Islão.

O Povo é sereno e os assessores nascem nas árvores

RSO:

(...)Dores Meira reiterou ter «legitimidade» para exercer o cargo e mostrou-se convicta do apoio da população. «Andamos na rua desde muito cedo até muito tarde e vemos que ninguém fala em catástrofe política», afirmou a presidente.
Quanto à manutenção dos avençados contratados pelo anterior executivo liderado por Carlos de Sousa – uma questão que tinha sido colocada por Albérico Afonso – Dores Meira respondeu que «não há avenças políticas» na câmara de Setúbal, reconhecendo, no entanto, a necessidade de recorrer a pessoas de «confiança política» para preencher alguns cargos de secretariado e de adjuntos.
A autarca garantiu que não há nenhuma situação abusiva de recurso a avençados e à contratação de assessores para serviços especializados e contrapôs com o exemplo do vereador do Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa. «Um vereador tem 18 assessores», lembrou a presidente.

Enquanto isso, a Sra. Presidente anda descontraída pela rua, por entre o sereno povo sadino, e os representantes do PS e PSD disputam a (aparentemente) pouco honrosa posição de provocar eleições antecipadas. Ambos sabem que a recente actuação do PCP (nada de novo, afinal) não será suficiente para abalar a sua imagem na gestão autárquica. Ambos sabem que o resultado de novas eleições não asseguraria a derrota do partido da omnipotente Maria Meira.
Uma tristeza.

P.S. - Será que todos os filiados do BE em Setúbal trabalham para a CMS como assessores?

segunda-feira, outubro 02, 2006

No Videocliplounging

Videoclip Lounging

World Trade Center

Example
Depois do World Trade Center, entrei no carro e liguei o motor. No leitor de cd, uma música dos Joan of Arc com o refrão "God bless America" a ecoar incessantemente, num registo provavelmente irónico, atendendo às idiossincrasias do mentor (Tim Kinsella) desta banda da cena indy americana. Mas, para mim, não deixou de fazer um sentido quase literal, confrontado com o olhar de Oliver Stone sobre a tragédia que se abateu sobre Nova Iorque naquela manhã de Setembro.
Do filme, retenho a força das imagens que espelham a destruição do ground zero e o heroísmo da gente simples; polícias e bombeiros, em particular.
É, sem dúvida alguma, um registo patriótico. E muito eficaz. Alguém tinha de fazer um filme assim, que falasse de união num tempo em que a América se confronta com feridas profundas, divisões exacerbadas pelos erros da Administração Bush; em Guantánamo e no Iraque. Stone quis lembrar o 11 de Setembro como acontecimento que uniu os americanos, não quis falar das vicissitudes da política externa nem da ofensiva contra os direitos e garantias dos cidadãos (Acto Patriótico). É porém irónico que tenha sido um liberal (no sentido que esta expressão assume no espectro político americano, conotada que está com a extrema esquerda) a fazê-lo. Foi por isso bem acolhido na América vermelha (conservadora e republicana), que não deixou certamente de se rever no marine que encarava o resgate de vidas humanas como uma missão de que estava investido por Deus. E que acabará por fazer duas comissões no Iraque.
O elemento religioso é presença importante no filme, como se Stone quisesse, por via dele, melhor expressar o sentimento destes americanos diante do acontecimento trágico e ininteligível. Nem sempre de forma convincente (o que dizer da aparição de Cristo em sonhos?), por vezes pareceu-me que não lidou bem com a transcendência.
O recurso aos flashbacks, para ilustrar fragmentos da vida familiar das personagens presas nos escombros do Worl Trade Center, também me pareceu destituído de eficácia, sem a força que encontramos por exemplo em Malick (The Thin Red Line).

Joyeux Anniversaire, Madame Cassel.