sexta-feira, fevereiro 19, 2010
segunda-feira, fevereiro 15, 2010
Laura Gibson - Shadows On Parade
Desfiles e memórias americanas. E uma "cantautora" muito promissora.
terça-feira, fevereiro 09, 2010
Assino a petição, mas...
Depois de muito hesitar, lá me decidi pela assinatura desta petição em defesa da liberdade de imprensa. Porque o que está em causa é demasiado grave para ser deixado à indiferença que lentamente corrói os fundamentos da liberdade.
O que me levou a hesitar foi o facto de entre os seus promotores se encontrar gente que da liberdade de imprensa/expressão tem tão-só uma visão instrumental. Gente com espírito de seita, para quem o delito de opinião é justificável desde que o colunista não seja dos nossos. Gente para quem o que conta acima de tudo é o livre-arbítrio do proprietário do órgão de imprensa ou da televisão em causa. Gente que clama aqui d'el rei que a nossa liberdade está em perigo, perante os desmandos de um qualquer governante, mas que tudo cala quando se trata da coutada de um proprietário privado, que pode censurar a seu bel-prazer que eles estão lá para lhe dar a sua caução.
PS. O caso Marcelo ao tempo da TVI ilustra bem a forma como eles encaram a liberdade de expressão.
O que me levou a hesitar foi o facto de entre os seus promotores se encontrar gente que da liberdade de imprensa/expressão tem tão-só uma visão instrumental. Gente com espírito de seita, para quem o delito de opinião é justificável desde que o colunista não seja dos nossos. Gente para quem o que conta acima de tudo é o livre-arbítrio do proprietário do órgão de imprensa ou da televisão em causa. Gente que clama aqui d'el rei que a nossa liberdade está em perigo, perante os desmandos de um qualquer governante, mas que tudo cala quando se trata da coutada de um proprietário privado, que pode censurar a seu bel-prazer que eles estão lá para lhe dar a sua caução.
PS. O caso Marcelo ao tempo da TVI ilustra bem a forma como eles encaram a liberdade de expressão.
De um país que vai cheirando cada vez mais mal
Este país fede por todos os lados e há uma geração de politicozinhos com politiquices da treta que são uma espécie de lastro a puxar a coisa pelo cano abaixo.
Os contribuintes em geral, quem paga para alimentar as preocupações clientelares desta gente, continuam a encolher os ombros e a dizer que “eles têm de arranjar uma solução para o país”.
“Eles” têm claramente mais com que se preocupar. “Eles” foram os mesmos que conduziram esta república socialista ao abismo onde caímos. “Eles” estão mais preocupados em se irem safando o melhor que podem.
Há umas semanas, a propósito da minha participação no programa “Descubra as Diferenças“, o André Amaral comentava comigo (desculpa lá a indiscrição) que eu estava zangado com o país. Custa-me muito reconhecer que ele tem razão.
A apatia e a desresponsabilização de quem paga por esta bandalheira são as verdadeiras culpadas de termos deixado esta gente conduzir os assuntos do governo ao estado a que isto chegou.
Sim, estou bastante zangado por a maioria não ter prestado atenção às vozes de quem repetiu incessantemente o destino desta viagem socialista. Se os dias que correm não forem suficientes para mostrar que os limites da decência democrática já foram ultrapassados, que a honra e a responsabilidade na gestão do dinheiro dos contribuintes desapareceram da vida pública, então sim, eu desisto.
Por hora aguardo para ver se os contribuintes portugueses continuam a encolher os ombros à espera que “eles resolvam” ou se começam a dar sinais que estão fartos desta merda e desta gentinha sem qualidade. Temos de ser mais exigentes, mais participativos, mais atentos com as escolhas que são feitas, como se gasta a fatia cada vez maior dos nossos rendimentos tornados impostos. É um apelo à exigência de maior higiene na gestão do estado e dos seus instrumentos de governo.
Ou querem continuar a viagem cano abaixo?
Os contribuintes em geral, quem paga para alimentar as preocupações clientelares desta gente, continuam a encolher os ombros e a dizer que “eles têm de arranjar uma solução para o país”.
“Eles” têm claramente mais com que se preocupar. “Eles” foram os mesmos que conduziram esta república socialista ao abismo onde caímos. “Eles” estão mais preocupados em se irem safando o melhor que podem.
Há umas semanas, a propósito da minha participação no programa “Descubra as Diferenças“, o André Amaral comentava comigo (desculpa lá a indiscrição) que eu estava zangado com o país. Custa-me muito reconhecer que ele tem razão.
A apatia e a desresponsabilização de quem paga por esta bandalheira são as verdadeiras culpadas de termos deixado esta gente conduzir os assuntos do governo ao estado a que isto chegou.
Sim, estou bastante zangado por a maioria não ter prestado atenção às vozes de quem repetiu incessantemente o destino desta viagem socialista. Se os dias que correm não forem suficientes para mostrar que os limites da decência democrática já foram ultrapassados, que a honra e a responsabilidade na gestão do dinheiro dos contribuintes desapareceram da vida pública, então sim, eu desisto.
Por hora aguardo para ver se os contribuintes portugueses continuam a encolher os ombros à espera que “eles resolvam” ou se começam a dar sinais que estão fartos desta merda e desta gentinha sem qualidade. Temos de ser mais exigentes, mais participativos, mais atentos com as escolhas que são feitas, como se gasta a fatia cada vez maior dos nossos rendimentos tornados impostos. É um apelo à exigência de maior higiene na gestão do estado e dos seus instrumentos de governo.
Ou querem continuar a viagem cano abaixo?
Já colocado no Insurgente.
sábado, fevereiro 06, 2010
Sócrates, a Comunicação Social e a Justiça
As escutas que andam na boca do mundo, ou seja, a teia urdida por José Sócrates para tornar cativa uma comunicação social cada vez mais coutada de uns poucos grupos económicos que para florescer precisam acima de tudo da mão amiga do Estado, lançam luz sobre algo bem mais grave dos que as meras tentações de um primeiro-ministro que há-de passar à história. Tentações que outros também tiveram no passado, mesmo que em José Sócrates a coisa pareça mais sistemática.
A questão, bem mais grave, é a de saber se a Justiça é verdadeiramente independente do poder político, seja qual for a encarnação deste. E a avaliar pelos indícios que vieram a lume, a saber, o conteúdo das escutas e o comportamento das figuras principais da cúpula da Justiça, parece que não é. Estranhas cumplicidades parecem reinar na sua cúpula, ameaçando perverter esse pilar essencial para a vida dos cidadãos em liberdade. Será o nosso Estado de Direito mero simulacro?
Outro valor importante neste caso é o da privacidade dos cidadãos, mesmo que sejam aqueles que nos governam. Não podemos viver numa sociedade em que todos sejamos permanentemente alvo de escuta. O primeiro-ministro, tal como todos nós, tem direito às suas conversas privadas.
Colidem assim dois valores: o de saber se as figuras cimeiras da Justiça agiram com isenção no cumprimento da lei e o do direito à privacidade. Não há uma resposta clara em abstracto.Talvez em toda esta história das escutas seja do interesse público aferir da credibilidade da Justiça que temos.
A questão, bem mais grave, é a de saber se a Justiça é verdadeiramente independente do poder político, seja qual for a encarnação deste. E a avaliar pelos indícios que vieram a lume, a saber, o conteúdo das escutas e o comportamento das figuras principais da cúpula da Justiça, parece que não é. Estranhas cumplicidades parecem reinar na sua cúpula, ameaçando perverter esse pilar essencial para a vida dos cidadãos em liberdade. Será o nosso Estado de Direito mero simulacro?
Outro valor importante neste caso é o da privacidade dos cidadãos, mesmo que sejam aqueles que nos governam. Não podemos viver numa sociedade em que todos sejamos permanentemente alvo de escuta. O primeiro-ministro, tal como todos nós, tem direito às suas conversas privadas.
Colidem assim dois valores: o de saber se as figuras cimeiras da Justiça agiram com isenção no cumprimento da lei e o do direito à privacidade. Não há uma resposta clara em abstracto.Talvez em toda esta história das escutas seja do interesse público aferir da credibilidade da Justiça que temos.
quarta-feira, fevereiro 03, 2010
Da Avaliação. Ou do Admirável Mundo Novo do Capitalismo Triunfante
A crise mundial levantou a ponta do véu sobre o absurdo das práticas e prémios dos executivos financeiros, espécie de sumo sacerdotes deste nosso capitalismo. Porém, outra categoria assaz perniciosa, mas central ao sistema assente no primado do lucro acima do homem, é a dos profissionais dos recursos humanos; em particular, os ligados à avaliação. Ou, melhor dizendo, à avaliação enquanto feiticismo. Porque, em bom rigor, há várias formas de terrorismo. Há o protagonizado pelos arautos do Islão e há o que se traveste da tecnocracia dominante (descrito como violência simbólica), para falar das mais em voga no nosso tempo. Em comum, ambos combatem a individualidade e a dissidência. Em comum, ambos causam destruição e morte.
Esta entrevista sobre o suicídio no mundo do trabalho aí está para ilustrá-lo:
Afecta certas categorias de trabalhadores mais do que outras?
Na minha experiência, há suicídios em todas as categorias – nas linhas de montagem, entre os quadros superiores das telecomunicações, entre os bancários, nos trabalhadores dos serviços, nas actividades industriais, na agricultura.
No passado, não havia suicídios ligados ao trabalho na indústria. Eram os agricultores que se suicidavam por causa do trabalho – os assalariados agrícolas e os pequenos proprietários cuja actividade tinha sido destruída pela concorrência das grandes explorações. Ainda há suicídios no mundo agrícola.
O que é que mudou nas empresas?
A organização do trabalho. Para nós, clínicos, o que mudou foram principalmente três coisas: a introdução de novos métodos de avaliação do trabalho, em particular a avaliação individual do desempenho; a introdução de técnicas ligadas à chamada “qualidade total”; e o outsourcing, que tornou o trabalho mais precário.
A avaliação individual é uma técnica extremamente poderosa que modificou totalmente o mundo do trabalho, porque pôs em concorrência os serviços, as empresas, as sucursais – e também os indivíduos. E se estiver associada quer a prémios ou promoções, quer a ameaças em relação à manutenção do emprego, isso gera o medo. E como as pessoas estão agora a competir entre elas, o êxito dos colegas constitui uma ameaça, altera profundamente as relações no trabalho: “O que quero é que os outros não consigam fazer bem o seu trabalho.”
Muito rapidamente, as pessoas aprendem a sonegar informação, a fazer circular boatos e, aos poucos, todos os elos que existiam até aí – a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua – acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para as outras. E quando uma delas é vítima de uma injustiça, quando é escolhida como alvo de um assédio, ninguém se mexe…
Christophe de Dejours, in Público.
Esta entrevista sobre o suicídio no mundo do trabalho aí está para ilustrá-lo:
Afecta certas categorias de trabalhadores mais do que outras?
Na minha experiência, há suicídios em todas as categorias – nas linhas de montagem, entre os quadros superiores das telecomunicações, entre os bancários, nos trabalhadores dos serviços, nas actividades industriais, na agricultura.
No passado, não havia suicídios ligados ao trabalho na indústria. Eram os agricultores que se suicidavam por causa do trabalho – os assalariados agrícolas e os pequenos proprietários cuja actividade tinha sido destruída pela concorrência das grandes explorações. Ainda há suicídios no mundo agrícola.
O que é que mudou nas empresas?
A organização do trabalho. Para nós, clínicos, o que mudou foram principalmente três coisas: a introdução de novos métodos de avaliação do trabalho, em particular a avaliação individual do desempenho; a introdução de técnicas ligadas à chamada “qualidade total”; e o outsourcing, que tornou o trabalho mais precário.
A avaliação individual é uma técnica extremamente poderosa que modificou totalmente o mundo do trabalho, porque pôs em concorrência os serviços, as empresas, as sucursais – e também os indivíduos. E se estiver associada quer a prémios ou promoções, quer a ameaças em relação à manutenção do emprego, isso gera o medo. E como as pessoas estão agora a competir entre elas, o êxito dos colegas constitui uma ameaça, altera profundamente as relações no trabalho: “O que quero é que os outros não consigam fazer bem o seu trabalho.”
Muito rapidamente, as pessoas aprendem a sonegar informação, a fazer circular boatos e, aos poucos, todos os elos que existiam até aí – a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua – acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para as outras. E quando uma delas é vítima de uma injustiça, quando é escolhida como alvo de um assédio, ninguém se mexe…
Christophe de Dejours, in Público.