quarta-feira, dezembro 31, 2008

Freddie Hubbard (1938 - 2008)



Frederick Dewayne Hubbard soprando para a Cantaloupe Island.

Mais um

Foi um ano em constantes mudanças, um recordar que planear o futuro é uma ciência mais intuitiva que a simples leitura de padrões passados.
A continuação que o ínicio do ano apontava, logo se transformou em sinais de alarme para os fogos que, de forma invísivel, já estavam ateados. Muitos foram apanhados desprevenidos mas uns quantos há muito tinham identificado as condições incendiárias que um dia haveriam de atear os fogos. A era do crédito fácil, encorajado pelo populismo político ignorante (devidamente aconselhado pelos teóricos do direito social à repartição da riqueza), gerou um exército de gestores desejosos de ganhar na margem com os volumes crescentes que geriam. Agora é díficil explicar ao Povo que afinal não podem, não devem, viver da riqueza alheia, aquela que lhes é prometida pelo crédito facilitado pela abundância monetária (e respectivas taxas de juro) e pela subsidização da indolência e da irresponsabilidade pessoal promovida pelos impostos cobrados.

Pessoalmente, 2007 tinha sido um ano de viragem significativa. O ano de 2008 veio recordar-me que nada é garantido, que a permanência e o descanso sobre o "status quo" de um determinado dia é transitório. Para o mal mas sei que também para o bem. Resta-me continuar a fazer aquilo que sempre fiz: planear para os dias de chuva e esperar que afinal os dias de sol sejam em maioria.

Por falar em sol e chuva: a minha estrutura física e o meu sistema respiratório não se dão nada bem com o frio e o enregelamentos madrugadores a que uma vida proletária suburbana me obriga. Gostaria, pois, de lavrar o meu protesto contra os que andam por aí a prometer paraísos de aquecimento global quando 2008 foi prova de um esfriamento generalizado. Será que a geração que há 20/30 anos previa o cataclismo de uma nova idade do gelo estaria assim tão errada?

Termino com os meus votos para 2009. Pelos vistos vão ser 3. E nesta altura ainda não sei em quem nem no quê. Apenas admito fazer mais barulho que o habitual contra a cambada de mentirosos que para aí anda (e respectivos acólitos), adversários dissimulados da Liberdade e todos os que continuam a procurar para si e para a sua clientela as rendas que sabem poder extrair do controlo político gerado pelo voto democrático.

De resto, tentem sobreviver mais 365 dias, pensem por vocês, em vocês e nos que vos são queridos. E deixem os outros viver a vida na Liberdade que todos queremos para nós próprios.

Eu espero continuar (mais...) por aqui.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Leituras sobre Carris



Contos de Dorothy Parker

Desta colecção da Relógio D'Àgua já li também os contos de Saki. Para ambos foi a minha apresentação. Devo dizer que fiquei apaixonado pela escrita de ambos.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Então porque não experimentam.?

No DD:

De acordo com dados do Observatório da Avaliação de Desempenho, órgão criado pela Federação Nacional dos Sindicatos da Educação e pelo Instituto Superior de Educação e Trabalho, apenas 26 por cento dos inquiridos continuariam a escolher a profissão de professor.

Ou seja, 74% dos professores inquiridos (segundo a notícia foram 1.100) preferiam ganhar a vida de outra forma. Também diz a notícia que 81% dos inquiridos preferia pedir a aposentação mesmo sofrendo penalizações.
Resumindo: apenas 19% dos 1.100 inquiridos gostariam de continuar activos como professores.

Se isto não é um indicador do mercado (se os restantes insurgentes me perdoam o abuso da expressão) não sei o que será. Seria de esperar uma redução astronómica do número de candidatos aos concursos de colocação bem como a redução a zero das candidaturas a cursos universitários que formassem professores.
Mas não será isso que acontecerá.
Porquê?
Porque os inquiridos estão a ser, digamos, menos fiéis às suas reais intenções (não estão a ser obrigados a pôr “o dinheiro onde a boca está”) e porque o aconchego de ser funcionário público é cada vez mais desejado e estimado no contexto actual do mercado de trabalho.
Quando voltar a época das candidaturas universitárias e dos concursos estatais de colocação de professores, lembremo-nos deste inquérito.

Já colocado no Insurgente.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Coragem



Esta é a nova coragem que é preciso ter. Não só a coragem de resistir e persistir, de que muitos de nós temos experiência, mas a coragem de virar a página e construir uma nova esperança e uma nova alternativa.

Manuel Alegre, in A Coragem de Mudar, Aula Magna.

Interrogo-me se Manuel Alegre conseguirá dar esse passo. Porque não é fácil rompermos com um partido que ajudámos a fazer, que é parte de nós. Há uma história comum, há afectos, e as rupturas não se fazem dor.
No entanto, esse passo é importante para o realinhamento das esquerdas, tão necessário à construção de alternativas políticas (no plural) às lógicas do bloco central. Para imaginar outra forma de governar: que não hostilize os sindicatos e os movimentos sociais; que não vise tornar refém todo uma sociedade; que faça do combate às desigualdades a sua razão de ser.
A ver vamos se, pelo menos, teremos aqui qualquer coisa de parecido com o Die Linke alemão. Já seria um começo.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Do trânsito na renovada Av. Luisa Todi

Por enquanto ainda se desculpa, nenhuma certeza ou crítica pode ser permanente tal é o estado das obras que alteram proibições e obrigações de sentido do trânsito. Mas e quando se der por concluída a intervenção do Polis?

Este fim de semana foi possível testemunhar o estacionamento fora das zonas permitidas, ao longo das faixas de rodagem, ao lado das redes de marcação da zona de obras. Eu sei que é díficil encontrar lugar de estacionamento - daí a ressalva inicial. Espero apenas que dentro de meses se volte a poder circular sem nos preocuparmos se o carro à nossa frente acabou de estacionar no meio da avenida ou se apenas parou antes de continuar a sua marcha.

E os arrumadores? Ou melhor dizendo, aquele bando de janados que as autoridades continuam a permitir que insultem ou, de qualquer forma, maltratem ou chantageiem quem se recusa a dar-lhes a moedinha que recompense a indolência e as escolhas que fizeram na vida.
Está mais que provado, em muitas urbes bem maiores que a nossa, que o combate à pequena delinquência tem frutos na criminalidade em geral. Talvez se a passividade e a demissão da Justiça nestas situações seja razão para que a Polícia se torne complacente com a prática de pedir uma moedinha em zonas de parqueamento pago em parquímetros.
Infelizmente, não tenho grandes dúvidas que continuarão e aumentarão de número. Já hoje é recorrente ver disputas territoriais como a que assisti este fim de semana - um espctáculo rídiculo e deprimente entre quem em tempos foi um projecto de ser humano.
Eu sei. Sou desumano e não tenho em contas a problemática social das vítimas de toxicodependência.
Por mim, queria apenas que se fossem encher de moscas para bem longe.

domingo, dezembro 07, 2008

Vistos

aaa

Bem-vindo ao Norte
"Bienvenue Chez Les Ch'Tis" é o título original desta comédia absolutamente brilhante. Aliás, nos últimos anos, se a memória não me falha, algumas das melhores comédias que vi eram francesas.
Uma palavra para a legendagem: não era fácil fazê-lo mas conseguiram; muito bem traduzido e adaptado às necessidades de aportuguesar alguns diálogos (ao contrário da atroz e paupérrima tradução e legendagem de "Reviver o passado em Brideshead"). Isto leva-me a questionar a potencialidade cinematográfica de um "Vem-Bindo ao Nuorte, carago" (ou outra variação regional qualquer).

Ensaio sobre a Cegueira
Não sei exactamente como explicar os meus sentimentos em relação ao filme. Julianne Moore é uma grande actriz, sem dúvida. Danny Glover também. Gael Garcia Bernal idem. Mark Ruffalo também não está mal. O restante elenco aguenta-se.
Então porque me soube a pouco? Porque me fica a desconfiança que esta metáfora de sociedade esquece, ignora tenta esconder (é cega a...) à capacidade dos seres humanos a resistirem aos atropelos autoritários?
Não li o livro, mas diz-me quem o leu que o filme não lhe é infiel. Tomando isto como certo, Meirelles é fiel à visão de Saramago. E este é que sempre foi. Um escritor alinhado com o mesmo autoritarismo ideológico que levava o regime cubano a emprisionar em campos de concentração os homosexuais doentes com Sida.
De facto, Saramago é uma autoridade em cegueira.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Le fond de l'air est rouge



Um filme de Chris Marker

Professores: uma greve histórica

Podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que a greve dos professores foi um sucesso. Mesmo tomando como boa a estimativa do governo, que aponta para uma adesão acima dos 60%, seria a maior de sempre, o que tem de se considerar extraordinário, numa classe profissional marcada pela diversidade de perfis e trajectórias. E sabemos como isso não raro é obstáculo à convergência ou à acção colectiva. Sim, ao contrário do que apregoam os prosélitos da reforma, o corporativismo não é traço dominante desta classe profissional. Nem a greve, enquanto forma de luta, era até há bem pouco tempo consensual entre os professores.
O que mudou então? Foi o despotismo do Ministério da Educação que, ao querer impor às escolas um modelo gestionário feito de obediência e servidão, causou aviltamento e revolta. O concentracionário modelo de avaliação, por entre toda a sorte de tarefas de amanuense, chegava ao ponto de obrigar os professores a fazer portefólios, imagem perfeita de uma política que tudo quer controlar até ao mais ínfimo detalhe (e que imagem da infantilização do professor!)
A par de tais práticas, o lastro populista do discurso que desresponsabiliza pais e alunos, e faz do professor o bode expiatório dos males que assolam o ensino. Veja-se o exemplo de um governo que se congratula pelo facto de “a maioria das escolas” terem permanecido abertas, não obstante não haver professores para ensinar por força da adesão à greve. É a escola enquanto depósito de crianças e jovens, desvirtuada da sua função simbólica.
Desse quotidiano cada vez mais insuportável brotaram (inesperadas) solidariedades e desenvolveu-se um sentimento ou acção de classe que se materializou nas grandes manifestações ou na última greve, sem esquecer a desobediência civil em curso nas escolas. Desobediência civil que ameaça fazer do actual modelo de avaliação um nado-morto (o processo varia de escola para a escola, entre a suspensão e o adiamento, mas o resultado prático é o mesmo). Não parece, pois, haver margem para a actual equipa do Ministério da Educação, que deixou de ser respeitada ou temida pelos professores.

terça-feira, dezembro 02, 2008

O Congresso do PC

Apesar de acometido por uma forte gripe, não deixei de espreitar as incidências do XVIII Congresso do Partido Comunista Português. No aconchego do lar, via televisão, lá fui escutando os discursos do Secretário-geral Jerónimo de Sousa, vendo as entrevistas aos delegados e os comentários dos analistas. E, para terminar, a entrevista de Odete Santos na RPTN.
Foi um congresso a pensar nos desafios eleitorais que aí vêm, porque internamente o tempo é de bonança, sem desafios de monta à linha protagonizada por Jerónimo de Sousa. Com ele, o partido recuperou votos e câmaras, e prevê-se que cresça ainda mais nos actos eleitorais que se avizinham.
Temos, pois, aquele que, para muitos, é o partido comunista que no hemisfério Ocidental melhor soube resistir à derrocada do socialismo real. A própria Odete fez eco disso, ao comentar prazenteiramente o estado comatoso em que se encontram, por exemplo, os congéneres italiano, espanhol e francês, que ao encetaram processos de renovação se viram reduzidos à quase irrelevância política. Confesso que fiquei chocado com tal postura, muito em particular com a alusão ao partido comunista francês, que irresponsavelmente se teria atolado nos terrenos movediços da governação. Ora, não deixo de lembrar que o partido comunista francês esteve no governo da esquerda plural, liderado pelo socialista Lionel Jospin, que entre outras coisas criou a medida das 35 horas semanais. Será isto pactuar com as políticas de direita? E já que se fala de renovação, será que aqueles partidos estariam mais fortes, se tivessem permanecido à imagem e semelhança do nosso pc, espécie de guardião do templo? Teria o partido comunista português perdido, necessariamente, o seu eleitorado tradicional, caso enveredasse pelos caminhos da renovação política? Sendo o partido comunista português uma formação política com profundas raízes nacionais e com forte influência nas práticas sindicais, diga-se que indissociáveis da normal e sadia conflitualidade das sociedades democráticas, por que razão a cada congresso que passa se cristaliza numa lógica de resistência? O que dizer de um congresso que, a avaliar pelos discursos de Jerónimo de Sousa, parece ter como alvos o Bloco de Esquerda e o deputado Manuel Alegre? Mais até do que Sócrates. Com quem pretende então o pc estabelecer pontes? Ou a alternativa de esquerda é apenas mero simulacro?